Olhem que eu tenho tempo de rua, tanto a rua de guri, jogando bola, quando a rua de cidadão, indo a manifestações.
Nem em uma, nem em outra, era costume usar a camisa da seleção, talvez por pudor.
A camisa verde e amarela era de todos e nos obrigava a certas coisas que a de time – ainda sem o merchandising que delas tomou conta – não fazia o mesmo.
Vestir a camisa da seleção era, além de obrigar ser muito bom, era ser indiscutível, ser de todos, ser ou tornar-se quase uma unanimidade.
Era o que uma palavra meio fora de moda traduz: uma sublimação.
Depois, adolescente e adulto, em centenas de manifestações – pela liberdades, pela anistia, pelas eleições diretas – só no final, na campanha das diretas-já o amarelo surgiu, mas nunca na forma de camisa da seleção, algo por si, restrito, reservado a poucos.
Nunca antes na história deste país a camiseta da seleção se partidarizou como a partir de 2013 – com o início da conspiração golpista que, em 2015, assumiu-se completamente a “canarinho” como símbolo daqueles que se viam com “os melhores do país”.
Não quero, aqui, por óbvio comparar – ou misturar – política e futebol.
Mas é incrível como se confunde a adoção da camiseta da CBF com a frustração dos 7 a 1, onde perdemos não apenas o jogo, mas o rumo, onde tudo o que vinha num crescendo, de uma hora para outra, sem razão ou explicação, ruiu e se desfez.
Ela passou a vestir sentimentos de vingança, de ódio e, em lugar de nos unir, passou a nos separar.
Virou ressentimento, em lugar de celebração.
Em lugar do “prá frente, Brasil”, da ditadura, passou a ser o “prá trás, Brasil”, simbolo de um tempo que nunca existiu, mas se fantasia ter havido, onde o paraíso se alcançava com a construção de um muro que nos separasse do inferno.
E que só começou a ruir quando nos sentimos parte de um só país.
Tijolaço
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