domingo, 28 de outubro de 2018

Curva das três pesquisas Vox no 2º turno aponta para vitória de Haddad



27 de Outubro de 2018

Por Mauro Lopes


Na corrida de apenas três semanas entre o primeiro e o segundo turno, o Instituto Vox Populi fez três pesquisas, duas com a CUT e esta desta véspera da eleição financiada pelos cidadãos e cidadãs reunidos na comunidade 247. A curva das três pesquisas é inequívoca e aponta para uma possível vitória de Haddad neste domingo. 

Vejamos. 

Na primeira pesquisa cujo campo foi realizado em 16 e 17 de outubro (10 dias depois do primeiro turno), Bolsonaro teve 44% dos votos totais e Haddad, 39% -cinco pontos de diferença. Nos válidos, 53% a 47% - seis pontos de diferença.

Uma semana depois (22 e 23 de outubro) os pesquisadores do Vox Populi voltaram às ruas e constataram que o cenário estava exatamente igual: Bolsonaro teve 44% dos votos totais e Haddad, 39% -cinco pontos de diferença. Nos válidos, 53% a 47% - seis pontos de diferença.

Neste sábado (27), o chão se mexeu. Empate cravado. Nos votos totais, 43% a 43%. Nos totais, 50% a 50%.

A curvas são claras. Depois de duas semanas de estabilidade, o cenário é outro. Bolsonaro caindo e Haddad subindo. Isso quer dizer que Bolsonaro começou a cair este sábado? Não. Ele começou a cair antes, está escorregando lentamente, enquanto Haddad sobe suavemente, sem uma ascensão vertiginosa. É uma onda. Não é uma tsunami, mas forte o suficiente para que um surfista de longboard possa fazer bonito. O surfista é Haddad. Não há qualquer motivo para a onda encerrar sua trajetória abruptamente.

Portanto, o empate de hoje aponta para uma vitória -apertada e dramática, mas vitória. 

De onde estão vindo os votos para Haddad? As indicações até o momento são de duas fontes: dos (poucos) eleitores arrependidos da opção por Bolsonaro e, sobretudo, do grupo que vinha indicando voto branco e nulo até agora.

Sim.

Importante, para analisar o que está acontecendo, é importante olhar os votos totais e não os válidos. 

Veja. Bolsonaro tinha 44% das intenções de voto nas duas primeiras semanas. Perdeu um ponto percentual apenas, dentro da margem de erro, está com 43% agora. Haddad tinha 39% nas duas rodadas anteriores da Vox e agora está com 43% -.quatro pontos percentuais a mais, fora da margem de erro, que é de 2,2 pontos percentuais).

Onde houve a mudança, se a migração de Bolsonaro para Haddad foi raquítica (se é que houve, por conta da margem de erro). Está claro: dos que vinham declarando voto nulo ou em branco. Na pesquisa anterior, eram 12% os eleitores que declaravam voto nulo/em branco; agora, são 9% -três pontos percentuais (fora da margem de erro, portanto). Os que não responderam ou afirmaram não saber continuaram a ser os mesmos 5%.

Haddad ganhou quatro pontos percentuais, portanto, conquistando três deles dos eleitores que vinham declarando voto nulo ou em branco e um ponto percentual da base eleitoral de Bolsonaro. 

O que pode ter levado a esta mudança? São hipóteses frágeis apenas, os números estão muito apertados para uma opinião mais assertiva.

1. A mudança no eixo da campanha de Haddad que, na última semana, finalmente, apresentou Bolsonaro ao país e começou a desconstruí-lo.

2. Do discurso de Bolsonaro a seus eleitores na Avenida Paulista no domingo passado, quando afirmou que os opositores de um eventual governo seu seriam presos ou deveriam buscar o exílio, ameaçando diretamente o outro candidato, Haddad, Lula e o senador Lindbergh Farias; no discurso ele ainda disse: “Pretalhada, vai tudo vocês para a ponta da praia". A expressão "ponta da praia" é a forma como os militares conheciam, na ditadura, a base militar da Marinha na Restinga de Marambaia, em Pedra de Guaratiba, no Rio de Janeiro. O local foi um dos mais terríveis centros de interrogatório e tortura do regime militar, um verdadeiro centro de extermínio, onde dezenas de opositores foram assassinados, frequentemente sob tortura. Parte do país assustou-se com Bolsonaro apresentando-se tal como é, confirmando o que a campanha de Haddad apresentou no programa eleitoral.

3. O esforço das formiguinhas -os milhares de militantes anônimos e anônimas que arregaçaram as mangas e foram às ruas para conseguir votos. As mesmas formiguinhas que conseguiram uma heroica vitória de Dilma contra Aécio em 2014, por 51% a 48%, depois de passar boa parte da campanha do segundo turno atrás nas pesquisas.

4. Há um efeito que talvez não tenha sido mensurado pela pesquisa ou, se o foi, apenas muito parcialmente: a adesão de algumas figuras importantes a Haddad neste sábado, como o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa (aqui), um nome de forte apelo eleitoral e que chegou a ser lançado como pré-candidato, além do yotuber mais popular do país, Felipe Neto (aqui). Há adesões de última hora chovendo de todo lado, que podem influenciar eleitores indecisos.

Uma observação: a pesquisa Vox/247 realizada na véspera do primeiro turno, em 6 de outubro, foi a que mais se aproximou do resultado das urnas (leia aqui).

Isso quer dizer que Haddad já ganhou? NÃO. Mas a virada está em pleno curso. Para se transformar em vitória depende, sobretudo, das formiguinhas e de alguns apoios públicos importantes nas últimas horas.

O que era considerado impossível até dias atrás, está no horizonte de novo.

A democracia pode ser salva.



Brasil 247

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