“O poder econômico, liderado pelos grandes empresários do país, elegeu Bolsonaro, mas se afastou dele. Eles viram que o povo brasileiro não é fascista. A burguesia quer encontrar uma saída pela direita, mas não encontraram uma alternativa”, afirma.
28 de junho de 2020
Stédile: "espero que a classe trabalhadora comece a se mexer" (Foto: Reprodução)
Por Felipe Mascari, na Rede Brasil Atual – O governo de Jair Bolsonaro e o tal bolsonarismo não têm futuro no Brasil, mas seu projeto de governo ainda segue forte. Lideranças e especialistas apontam que a bandeira “Fora, Bolsonaro” precisa apontar não só contra o presidente, mas também ao seu plano econômico. A avaliação foi feita pelo fundador e membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, durante a segunda live organizada pelo Comitê Lula Livre .
Segundo Stédile, apesar de uma frente pela derrubada de Bolsonaro estar ganhando forma, não será fácil. Isso porque a austeridade ultraliberal, adotada pelo governo federal, ainda tem apoio do poder econômico.
“O poder econômico, liderado pelos grandes empresários do país, elegeu Bolsonaro, mas se afastou dele. Eles viram que o povo brasileiro não é fascista. A burguesia quer encontrar uma saída pela direita, mas não encontraram uma alternativa”.
Ele voltou a criticar o tratamento dado pelo governo à pandemia. “Diante da pandemia do novo coronavírus, o governo priorizou a econômica, deixando a população à mercê da políticas assistencialistas”. O resultado disso são as 56.197 mortes por covid-19, confirmadas neste sábado (27).
Coalizão
Stédile lembrou que os trabalhadores e a classe média já abandonaram Bolsonaro. A partir disso, direções de de organizações populares, sindicais e políticas criaram a Campanha Nacional Fora Bolsonaro. “Se a gente quer salvar a população, precisamos trocar o governo e seu projeto de país”, explicou.
E classifica como “mentirosa” a criação de uma frente ampla ao lado de figuras como Sergio Moro e Fernando Henrique Cardoso. O líder popular acrescentou que algumas diretrizes foram adotadas pela campanha, que vão do apoio de base até manifestações.
“Vamos seguir com ações de solidariedade, porque num momento de crise isso é uma semente de novo projeto de sociedade. Também vamos estimular mobilizações simbólicas contra o Bolsonaro. A terceira coisa que combinamos é massificar as adesões aos pedidos de impeachment para pressionar o Rodrigo Maia. Por fim, dia 10 de julho queremos fazer um ato simbólico em mais de 100 cidades, seja na rua ou de casa”, afirmou.
Abandono à população
“Com um discurso que vai na contramão da ciência, Bolsonaro desmobilizou a população a cumprir quarentena. Ainda neste sábado, o Brasil chegou 1.280.335 casos confirmados de covid-19”, disse a médica e ativista Júlia Rocha, destacando que o “negacionismo” do governo é, na verdade, uma política liderada pelos grandes empresários.
Para ela, Bolsonaro não é negacionista. “Isso é fruto dos empresários obrigando os trabalhadores a se arriscarem. É a luta de classes. As ruas viraram fábricas ambulantes de casos, então o que adianta ampliar leitos de UTI? O impacto de uma política dessa é muito maior do que a capacidade de qualquer equipe médica”, criticou.
O médico e professor de Medicina da PUC-Campinas, Pedro Tourinho, lembrou que Bolsonaro diminuiu o vírus, prometeu uma falsa cura e ainda atacou as medidas de quarentena. “Por outro lado, a política covarde de Paulo Guedes impediu o Estado de fazer medidas de proteção econômica às empresas e aos trabalhadores. Sem dinheiro, a lógica do isolamento social não existiu“, lamentou.
Na avaliação do sociólogo e integrante da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Luiz Eduardo Batista, o impacto dessa falta de políticas econômicas que assegurassem a quarentena recai sobre a população mais pobre, principalmente a preta, . “Em tempos de pandemia, isso se agrava mais, já que a população negra tem menos acesso à saúde e saneamento básico”.
Cultura na linha de frente
A cultura também esteve na pauta dessa segunda live realizada pelo Comitê Lula Livre. Especialmente críticas à gestão da área pelo governo federal. Desde a eleição, Bolsonaro minou a cultura, com cortes de verbas, diversas mudanças na Secretaria de Cultura e precarizou órgãos responsáveis pelo setor. Semanas atrás, o ator Mario Frias foi nomeado chefe da pasta, substituindo Regina Duarte.
O ator Gregório Duviver não vislumbra bons horizontes até o fim do governo atual. Para ele, a pessoa que for indicada ao cargo entrará “para fazer um mau trabalho”.
“A cultura é setor combalido porque a arte e o ativismo são sinônimos. O artista consegue reunir pessoas em torno de uma narrativa, comover um país. Então o governo considera perigoso”, disse.
A atriz Lucélia Santos lembrou que a opressão aos artistas ocorre desde o governo Michel Temer, com a extinção do Ministério da Cultura. Entretanto, ela comemora a Lei Aldir Blanc, aprovada no Senado, que distribui um auxílio para os trabalhadores do setor cultural, durante a pandemia.
“Foi uma grande vitória, mas é preciso colocar em prática, porque os trabalhadores da arte estão no sufoco. Sobre a secretaria, não tenho expectativa alguma, por isso a nossa situação é bem complicada”, lamenta.
O mutirão
A live faz parte do Mutirão Digital Lula Livre, uma ação virtual que pretende dialogar com a população sobre os riscos à democracia, que vêm desde o golpe, com o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff e se aprofundam, atualmente, durante o governo Bolsonaro. Em meio a isso, a perseguição judicial ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi ilegalmente alijado da última disputa eleitoral.
A palavra de ordem é #AnulaSTF, para que o Supremo Tribunal Federal (STF) inicie o julgamento da suspeição do então juiz Sergio Moro. São inúmeros os indícios e provas, inclusive com diálogos publicados pelo The Intercept Brasil, que demonstram que a lei deturpada é usada como arma política para tentar afastar Lula da cena política brasileira.
A TVT e o Brasil de Fato participaram do mutirão, juntamente com outras mais de 70 páginas em transmissão simultânea.
Brasil 247
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