sábado, 30 de janeiro de 2021

Economia brasileira está na UTI, diz especialista em contas públicas


"O déficit de R$ 743 bilhões deve gerar um alerta. A economia brasileira está na UTI", afirma Gil Castello Branco, economista, fundador e secretário-geral da ONG Contas Abertas

30 de janeiro de 2021

(Foto ABr)

Sputnik – As contas do governo registraram em 2020 déficit primário recorde de R$ 743,087 bilhões – um valor que representa 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. As informações foram divulgadas nesta quinta-feira (28) pela Secretaria do Tesouro Nacional.

Para efeito de comparação, o déficit de 2020 é 666,5% maior que o registrado em 2019, que foi de R$ 95,065 bilhões.

"Estes números devem gerar um alerta. A economia brasileira está na UTI", afirma Gil Castello Branco, economista, fundador e secretário-geral da ONG Contas Abertas, em entrevista à Sputnik Brasil.

Tanto Castello Branco como o também economista Mauro Rochlin, professor dos cursos de MBA da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro, afirmam que o rombo das contas públicas do Brasil em 2020 é fácil de ser explicado: a pandemia, ao mesmo tempo em que demandou muitas despesas públicas, também reduziu a arrecadação tributária, em decorrência da crise.

Rochlin explica que os altos valores gastos com benefícios como o auxilio emergencial, com recursos destinados a estados e municípios e com o pagamento de complementação de salários por parte do setor publico geraram o desequilíbrio nas finanças do país. Só a Previdência, em todo o ano passado, registrou um déficit de R$ 269,8 bilhões.

"Antes da pandemia, a projeção para o ano passado de resultado orçamentário teria sido cerca de 80 a 100 bilhões. […] Acabou se registrando um número sete vezes maior", lembra Rochlin, em entrevista à Sputnik Brasil.

Especialistas alertam para o possível retorno do 'orçamento de guerra'

Ambos os economistas alertam, no entanto, que o grande risco para a economia brasileira é o que ainda está por vir. Com a pandemia voltando a registrar números tão altos quanto os do pico da primeira onda, em 2020, cresce a pressão no governo para que os mesmos benefícios e recursos sejam garantidos novamente.

"Há uma pressão muito grande para que volte o auxílio emergencial e o benefício para que as empresas possam reduzir salários proporcionalmente à jornada", destaca Castello Branco.

Caso os benefícios voltam a ser concedidos, o Brasil corre o risco de perder investimentos estrangeiros, uma vez que o governo do país não mostraria "preocupação com a responsabilidade fiscal", diz Castello Branco. Em consequência, o país perderia credibilidade nas agências de avaliação de risco de crédito e sofreria com a fuga de capital estrangeiro, o que levaria ao aumento do dólar, gerando juros, inflação e desemprego.

"Este será o resultado se nada for feito se nós agora voltarmos a conceder todos os benefícios que foram concedidos durante a pandemia, durante o orçamento de guerra", diz Castello Branco.


Brasil 247

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