sábado, 26 de junho de 2021

"Além de genocida, Bolsonaro é corrupto e vai cair", diz Gleisi Hoffmann


Presidente do Partido dos Trabalhadores diz que Jair Bolsonaro deve explicações sobre o superfaturamento na compra da Covaxin

26 de junho de 2021
Presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e um protesto contra Jair Bolsonaro (Foto: ABr | Midia Ninja)


247 – "Bolsonaro tem muita explicação a dar sobre a Covaxin, não adianta dar chilique e sair atacando todo mundo. A citação de Ricardo Barros, líder do governo, é grave e saiu da boca do próprio presidente. Além de genocida, corrupto", escreveu a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), em seu twitter. Saiba mais sobre o caso:

Por Maria Carolina Marcello e Ricardo Brito (Reuters) - Na conversa que tiveram com o presidente Jair Bolsonaro para relatar irregularidades identificadas em processo de importação para uso emergencial no país da vacina indiana contra Covid-19 Covaxin, os irmãos Miranda ouviram do presidente avaliação que o caso era "grave" e poderia ter o envolvimento de um parlamentar.

A afirmação foi relatada pelo deputado Luís Miranda (DEM-DF) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) nesta sexta-feira, reunião marcada por interrupções, bate-bocas e clima bastante tenso entre os senadores. O parlamentar chegou ao Congresso para o depoimento vestindo um colete à prova de balas.

"Eu levei para a pessoa certa, na minha opinião, que deveria dar o devido provimento ao assunto, que é o presidente da República", disse o deputado à CPI.

"O presidente entendeu a gravidade. Olhando os meus olhos, ele falou: 'Isso é grave!' Não me recordo do nome do parlamentar, mas ele até citou um nome pra mim, dizendo: 'Isso é coisa de fulano'. Não me recordo. E falou: 'Vou acionar o DG (diretor geral) da Polícia Federal, porque, de fato, Luís, isso é muito grave, isso que está ocorrendo'", relatou Luís Miranda.

Mais tarde, questionado por muitos senadores, e após responder repetidas vezes que não se lembrava, Luís Miranda admitiu que o nome a que Bolsonaro se referia era o do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Miranda chegou a se emocionar e manifestou sua preocupação com eventuais consequências por revelar o nome.

Em seu perfil do Twitter, Barros negou ter participado de qualquer negociação em relação à compra da Covaxin.

"'Não sou esse parlamentar citado'. A investigação provará isso. Também não é verdade que eu tenha indicado a servidora Regina Célia como informou o senador Randolfe. Não tenho relação com esse fatos", publicou o líder, referindo-se a servidora que atua como fiscal do contrato envolvendo o imunizante indiano.

O deputado decidiu procurar o presidente a partir de relato do irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo Miranda, responsável por setor de importação da pasta, que teria identificado irregularidades no processo.

Dentre os pontos considerados suspeitos estava a previsão de pagamento antecipado de 100% do valor, o repasse para uma offshore, a Madison Biotech --que não constava do contrato--, e ainda a estimativa de envio de uma quantidade menor de doses do que as contratadas, além dos custos da importação.

Na conversa com o presidente, os irmãos também relataram -- e declinaram os nomes-- de superiores hierárquicos de Luís Ricardo que o estariam pressionando para dar andamento à compra.

Um desses superiores hierárquicos era o então coordenador de Logística coronel Marcelo Bento Pires, seu chefe, que teria, inclusive se encontrado com representante da Precisa, empresa que negociava a compra da Covaxin, em um fim de semana.

"Durante toda a execução desse contrato, diversas mensagens recebi, ligações, chamadas no gabinete sobre o status do processo desse contrato", disse o servidor.

PROPINA

Outro ponto que chamou a atenção de senadores diz respeito a print de troca de mensagens por aplicativo entre os dois irmãos. Em uma das conversas, o servidor da Saúde contava ao irmão que um colega da pasta, de nome Rodrigo, mencionava "um rapaz" que estaria cobrando propina na venda de vacina.

"O ministério estava sem vacina e um colega de trabalho, Rodrigo, servidor, me disse que tinha um rapaz que vendia vacina e que esse rapaz disse que estavam cobrando propina", disse Luís Ricardo, na mensagem de WhatsApp com o irmão.

A CPI da Covid no Senado quer convocar o servidor mencionado.

Luís Ricardo comentou ainda, em outra mensagem, que a pressão que recebia de chefes no Ministério da Saúde para dar andamento à processo de importação da Covaxin divergia do tratamento dispensado a outras importações relacionadas à Covid-19.

"Milhões de seringas chegando, milhões de coisas, importações sobre Covid, nunca recebi uma ligação de ninguém, de empresa, de diretor, de secretário-executivo, de assessor de secretário, ninguém. Já nesse, meu amigo, o que tem gente em cima pressionando e falando, aí você já fica com o pé atrás", diz o servidor em mensagem de áudio ao irmão, divulgada nesta sexta na CPI.

Ao prestar seu compromisso de dizer a verdade antes de começar seu depoimento, o deputado Luís Miranda afirmou que não iria apresentar "narrativas", mas fatos, com documentos.

Seu irmão, por sua vez, que acabava de desembarcar de viagem aos Estados Unidos para acompanhar a entrega de doses da vacina da Janssen doadas ao Brasil, destacou que não é filiado a nenhum partido: "meu partido é o SUS".

CONFORMIDADE

Em comunicado, a Bharat Biotech, empresa que fabrica a vacina indiana Covaxin, informou que a Madison Biotech integra seu grupo e que foi fundada em 2020 para vendas globais e marketing de vacinas. Acrescentou que todas as empresas do grupo "aderem aos mais altos padrões de conformidade e são regidas por um código muito rigoroso de práticas éticas e governança corporativa".

"Rejeitamos e negamos veementemente qualquer tipo de alegação ou implicação de qualquer irregularidade com relação ao fornecimento da Covaxin", diz a empresa em nota.

Nesta semana, em nota, a Precisa Medicamentos, que representa no Brasil a Bharat Biotech, também negou irregularidades. A empresa disse que as tratativas com a pasta seguiram todos os caminhos formais de forma transparente.

A Secretaria de Imprensa da Presidência da República foi procurada para comentar as declarações de Bolsonaro relatadas pelo deputado, mas até a publicação desta reportagem, não havia se manifestado.

Senadores governistas empenharam-se nesta sexta-feira em afirmar que não houve irregularidade uma vez que o documento inicial para a importação das vacinas foi corrigido.

Na mesma linha, integrantes do governo e o próprio presidente vêm afirmando, ao longo desta semana, quando o caso veio à tona, que a compra não foi efetuada.

O Ministério da Saúde também foi procurado para comentar o relato de pressão dos integrantes da pasta ao servidor para que desse andamento à importação, mas também não foi possível obter resposta até o momento desta publicação. (Reportagem de Ricardo Brito e Maria Carolina Marcello. Edição de Alexandre Caverni)


Brasil 247

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