O jornalista Mauro Lopes explica: Bolsonaro cometeu de maneira patente o crime de prevaricação ao afirmar em março ao deputado Luis Miranda e a seu irmão que Ricardo Barros é o responsável pelo escândalo da Covaxin e não ter feito nada. Manteve Barros como líder de seu governo na Câmara e não informou a PF. A revelação pode ser o fim de seu governo
25 de junho de 2021
Ricardo Barros e Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução)
Por Mauro Lopes
A bomba detonada na CPI da Covid no Senado poucos minutos antes das 22h desta sexta-feira (25) pelo deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) abriu as portas do fim do governo que infelicita o Brasil desde 2019: em 20 de março, o presidente da República afirmou ao parlamentar e seu irmão que o responsável pelo escândalo da Covaxin era o deputado Ricardo Barros (PP-PR) e nada fez. Prometeu que colocaria a Polícia Federal no caso e não acionou a PF. O pior de tudo: manteve Barros como líder de seu governo.
Desde 20 de março o presidente da República anunciou a um representante de outro Poder que o líder de seu governo na Câmara era o responsável por um escândalo de corrupção no coração da pandemia que arrasa o país e o manteve no cargo. Desde março. Há três meses, portanto. O crime de prevaricação está tipificado. Prevaricação, na definição clássica, é o crime cometido por funcionário público quando, indevidamente, este retarda ou deixa de praticar ato de ofício, ou pratica-o contra disposição legal expressa, visando satisfazer interesse pessoal. Qual era o interesse de Bolsonaro? Manter a sustentação de seu governo.
Miranda resistiu ao máximo à pressão do competente senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), mas chegou ao seu limite e, afinal, entregou o nome à senadora Simone Tebet (MDB-MS). Foi tão devastadora e inesperada a revelação que ela sequer se deu conta de que ele acabara de dizer: “A senhora também sabe que foi o Ricardo Barros que ele falou” (veja o vídeo ao final).
Na oposição, por uns segundos, reinou a estupefação com o nome finalmente revelado, até que os senadores e senadoras assumiram o controle da situação.
Na bancada governista, o que se viu na CPI depois da revelação de Miranda foi o efeito de uma bomba de nêutrons que liquidou com todos os bolsonaristas. A bomba de nêutrons, desenvolvida pelo governo dos EUA durante a Guerra Fria e depois proibida, tem ação destrutiva apenas sobre organismos vivos, mantendo intactas as coisas. As cadeiras, as mesas, os microfones diante dos parlamentares bolsonaristas continuaram na CPI. Mas eles como que desapareceram. Não se ouviu uma palavra sequer deles desde que o nome de Barros foi finalmente pronunciado pelo deputado Luis Miranda.
Todos na sala da CPI souberam, naquele instante, que a comissão cumpriu seu papel histórico: encerrar a trágica aventura de um governo genocida em meio à pandemia da Covid-19.
Tudo muda no país a partir deste sábado.
Assista ao momento histórico:
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