Publicado por Fernando Miller
Atualizado em 21 de agosto de 2022
Deputado federal Marcelo Freixo
Foto: Reprodução
Publicado originalmente em O Cafezinho
A democracia é um regime no qual vigora competição política entre as diferentes correntes ideológicas de uma sociedade.
Em nenhum outro lugar isso fica mais claro do que o Rio de Janeiro, estado que sempre ofereceu surpresas ao Brasil. Algumas agradáveis à esquerda, como as duas eleições de Brizola para o governo, e as vitórias espetaculares de Lula, no segundo turno de 2002 e 2006. Outras à direita, como a longa hegemonia da família Garotinho, e as fulminantes vitórias de Witzel e Bolsonaro em 2018.
Para este ano, as eleições no Rio de janeiro, para governo do estado e presidência da república, nos oferecem novamente um exemplo de acirrada competição democrática.
Segundo o último Datafolha, que fez entrevistas entre os dias 16 e 18 de agosto, Lula largou na frente neste início de campanha, pontuando 41%, seis pontos à frente de Bolsonaro, com 35%.
Ciro, que teve uma boa performance no estado em 2018, com 15% dos votos válidos, hoje pontua apenas 7% dos votos totais no Rio.
Em votos válidos, hoje Lula tem 46% das intenções de voto dos eleitores fluminenses, contra 39% de Bolsonaro e 8% de Ciro.
Apesar da vantagem de Lula, ainda assim é um cenário concorrido, pois continua muito próximo do empate técnico entre os dois principais candidatos.
A eleição no Rio
A disputa pelo Palácio Guanabara permanece extremamente concorrida, com empate técnico entre Claudio Castro (PL), com 26% na estimulada, e Marcelo Freixo (PSB), 23%.
Rodrigo Neves (PDT), apesar do apoio que recebeu do prefeito da capital, Eduardo Paes, e da aliança com o PSD, não decolou até agora. Tem apenas 5% dos votos totais na estimulada.
Tudo indica que haverá segundo turno, com Claudio Castro e Freixo, e que será nacionalizada entre o “candidato de Bolsonaro” e o “candidato de Lula”.
Entretanto, análise dos números extratificados do Datafolha me leva a acreditar que Freixo seja o favorito, pelas razões que apresento a seguir.
No segundo turno, Freixo chegou a 39%, contra 38% de Castro. É a primeira pesquisa na qual Freixo aparece à frente de Castro. Apesar do empate técnico, é sempre simbólico aparecer em primeiro lugar.
As espontâneas, sobretudo em eleições estaduais, sempre mostram alto número de indecisos, mas as estimuladas servem justamente para sinalizar para onde vão esses indecisos, conforme a campanha se desenvolver.
Na espontânea do Datafolha para o governo do Rio, há empate técnico entre Freixo, com 11%, e Castro, 12%. Rodrigo Neves estacionou lá atrás, com 1%.
Algum desavisado poderia lembrar das eleições de 2018, quando Witzel surgiu do nada e ganhou as eleições. Sim, isso ocorreu. Mas Witzel surfou na onda Bolsonaro, porque recebeu apoio da família do presidente na reta final. A eleição de Witzel serve antes para confirmar uma tendência à nacionalização das campanhas estaduais.
Este ano, dificilmente haverá surpresas, porque os grandes nomes nacionais já deixaram claro quais são seus candidatos.
Separei os percentuais em alguns segmentos que me pareceram particularmente estratégicos para definir tendências.
Por exemplo, eleitores mais instruídos, em alguns casos, indicam tendências, porque eles costumam ser mais engajados e informados politicamente. Reforço que isso se dá apenas em alguns casos, porque não adiantaria ter votos dos mais instruídos, mas estar muito atrás entre os eleitores de baixa renda.
No Datafolha, Freixo e Castro estão empatados tecnicamente entre eleitores com ensino médio, com 9% e 11% na espontânea, respectivamente, mas Freixo vem se distanciando na liderança dos eleitores com ensino superior, chegando a 23% na espontânea, cinco pontos à frente de Castro.
Na estimulada do primeiro turno, Freixo chega a 39% entre eleitores com ensino superior, 11 pontos à frente de Castro, que marca 28% nesse segmento.
No segundo turno, Freixo também venceria Castro com folga entre eleitores com ensino superior, com 48% dos votos totais, contra 38% de Castro.
Entre eleitores com renda até 2 salários, que formam a maioria do eleitorado, há empate entre os dois principais, ambos com 7% na espontânea. Neves não pontua nesse extrato.
Esse é, aliás, o maior trunfo de Freixo: ele está crescendo entre os mais pobres. Na estimulada do primeiro turno, Freixo já empata com Castro entre eleitores com renda até dois salários, pontuando 19%, contra 20% de Castro, e 4% para Neves.
Já num eventual segundo turno, Freixo abriu cinco pontos sobre Castro entre os eleitores mais pobres, chegando a 39% dos votos totais, contra 35% de Castro.
Um dos pontos vulneráveis de Marcelo Freixo, porém, é sua baixa pontuação entre evangélicos, apenas 3% na espontânea, contra 16% de Claudio Castro.
Mas Freixo ainda pode melhorar seu desempenho entre evangélicos, porque sua rejeição se mantém relativamente baixa, em 30%, segundo o Datafolha.
Além disso, Freixo receberia 28% dos votos evangélicos num eventual segundo turno contra Claudio Castro, um percentual razoável, próximo dos 30% que Lula anda pontuando entre evangélicos a nível nacional.
Na estimulada, Freixo tem 10% dos votos evangélicos, contra 29% de Claudio Castro e 6% de Rodrigo Neves.
Um dos fatores que mais chamam atenção na pesquisa Datafolha é a força impressionante de Freixo entre o eleitorado jovem.
No primeiro grupo, com idade até 24 anos, ele pontua 24% na estimulada, contra 9% de Castro e 6% de Neves.
Freixo é ainda mais forte nos jovens maduros, com idade entre 25 e 34 anos, entre os quais ele tem 29% na estimulada, contra 22% de Bolsonaro.
Num eventual segundo turno contra o governador, a juventude fluminense dá uma surra em Castro: 48% dos eleitores até 24 anos e 50% daqueles com idade entre 25 e 34 anos preferem Marcelo Freixo.
Castro tem 25% e 31% nessas faixas etárias, respectivamente.
Conclusão
Freixo sempre foi bom de voto.
Nas últimas eleições para deputado federal, foi o mais votado, ou ficou entre os primeiros. Em 2018, Freixo recebeu 342.234 votos, o segundo mais votado, ligeiramente atrás do Hélio Negão, que teve 345 mil votos.
Nas disputas majoritárias de que participou, Freixo sempre chegou ao segundo turno e deu uma canseira nos adversários.
Nas redes sociais, Freixo é, de longe, o candidato com maior número de seguidores e maior engajamento. O deputado tem mais de 1 milhão de seguidores no Facebook, contra apenas 94 mil seguidores de Claudio Castro, e 45 mil seguidores de Rodrigo Neves.
No twitter, Freixo tem 1,8 milhão de seguidores; Castro, 51,2 mil e Rodrigo Neves, 42 mil.
No Instagram, Freixo tem 1,1 milhão de seguidores, contra 188 mil seguidores de Claudio Castro e 34,5 mil seguidores de Neves.
É uma diferença muito grande!
É óbvio que a força dos candidatos nas redes sociais fará a diferença durante o processo eleitoral. Maior número de seguidores, maior engajamento, maior a capacidade de mobilizar eleitores.
A essa vantagem de Freixo nas redes sociais, devemos acrescentar a sua força na juventude, segmento estratégico do eleitorado justamente por sua maior desenvoltura nas batalhas culturais da internet. Em Engenheiros do Caos, Giuliano Da Empoli menciona o engajamento do eleitor jovem como essencial para o desempenho surpreendente de alguns candidatos e partidos populistas na Itália e em outros países. O que valeu para candidatos anti-sistema, ou de direita, também pode valer para um quadro da esquerda!
A suposta rejeição a Freixo junto ao eleitorado conservador, que alguns apontavam como um obstáculo a sua campanha, especialmente num eventual segundo turno, não está aparecendo nas pesquisas. Esses 26% de rejeição no Datafolha são um percentual baixo. Freixo ainda precisa conquistar mais votos entre evangélicos, mas sua rejeição no segmento também é reduzida (apenas 30%).
O deputado tem ainda um outro trunfo, além da juventude, que é sua força entre os eleitores mais instruídos, que são sempre estratégicos (e perigosos, quando apoiam um adversário), em virtude de seu maior poder de influenciar seguidores em redes sociais, além de maior conhecimento sobre as novas tecnologias da informação.
Além disso, Freixo lidera, com 26% na espontânea e 37% na estimulada, entre eleitores de renda alta, que ganham mais de 10 salários.
Apesar de representar um percentual pequeno do eleitorado, é emblemático que Freixo tenha uma boa performance neste segmento, que às vezes também pode ser perigoso, por sua maior capacidade de mobilização.
Entretanto, o que me parece mais promissor para Freixo, é que ele está crescendo entre famílias de baixa renda, que formam a maioria esmagadora do eleitorado. Esse é o voto que pode fazê-lo ganhar.
Diário do Centro do Mundo - DCM
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