Querem censurar o direito de Lula de falar ? - Por Brizola Neto

Brizola Neto, para o jornal O povo do Rio

Hoje eu peço licença a vocês para tratar de um tema político eleitoral. E que talvez, para as pessoas da minha idade, na faixa dos 30 anos, seja difícil entender qual é a ligação que tem com o que viveram os nossos pais e nossos avós quando o Brasil vivia numa ditadura e o povo não tinha o direito de falar o que pensava.
É que o próprio Presidente da República está sendo censurado. A oposição a Lula, sabendo da popularidade e do conceito que, finalmente, um chefe de Estado no Brasil tem, com índices de popularidade que não param de subir, está usando a Justiça Eleitoral para tentar impedir que a população saiba quem é sua candidata à sucessão.
As multas impostas a ele se sucedem. Foi multado por dizer que “espero que a profecia que diz que a voz do povo é a voz de Deus esteja correta neste momento”, comentando os gritos de “Dilma, Dilma” que vinham do povo, numa visita a obras do PAC, aqui no Rio. Depois, quando o público grito o mesmo lá em Teófilo Otoni (MG), levou nova multa por falar que não podia “falar o que vocês estão falando porque a lei não permite, mas podem ficar certos de uma coisa: nós vamos fazer a sucessão neste país, para dar continuidade ao que nós estamos fazendo. Porque este país não pode retroceder. Este país não pode voltar para trás como se fosse um caranguejo”.
Agora querem aplicar uma nova multa a Lula porque, nos atos de comemoração do 1° de Maio, ele pediu que levantasse a mão, na platéia de centenas de milhares de pessoas, aqueles que já tivessem decidido votar em Dilma.
Ora, as duas primeiras decisões já são um exagero sem tamanho. Agora, esta que querem impor, quando Lula, como cidadão, num feriado, simplesmente pergunta se as pessoas já decidiram votar numa candidata, vai além de qualquer limite razoável.
Qualquer brasileiro, como eu e você, tem o direito de dizer em quem vai votar, se quiser. A lei pode impedir que peçamos votos antes de começada oficialmente a campanha – sim, porque do ponto de vista legal, finge-se que ainda não há campanha – mas não pode impedir ninguém de falar, porque isso é censura. E quando a justiça de um país tira o direito do próprio Presidente da República de falar, a coisa vai muito mal.
E o pior é que a regra não vale para todos. No Brasil inteiro, o candidato de oposição – que finge descaradamente ser “lulista” – ocupou ilegalmente o horário de outro partido – coisa expressamente proibida pela lei – durante dois dias, no horário nobre da televisão, nas barbas da Justiça Eleitoral, sem que nada acontecesse. Há uma nova rodada de “comerciais” prevista para amanhã e, até o momento em que escrevo esta coluna – sexta de manhã – não se tomou providências.
É como se, num jogo de futebol, um time pudesse bater a vontade e o outro nem pudesse tocar na bola sem que o juiz apitasse falta. Lógico que isso vai favorecer o pior time, o dos pernas de pau.
Eu nem vou falar de que lado está a grande imprensa e a Globo, porque aqui no Rio de Janeiro o nosso povo é vacinado contra isso. Mas, no resto do Brasil, onde as pessoas são mais desinformadas, essa tática produz efeitos. Vocês conseguem imaginar que num estado desenvolvido como o Paraná, metade da população, segundo uma pesquisa recente da Vox Populi, metade da população declare que não conhece Dilma Rousseff e muito menos que ela seja a candidata do Lula?
Deixar o povo sem saber quem apóia quem é tirar de toda a população o direito àquela frase de Jesus: “Dize-me com quem andas e te direi quem és”. Cada pessoa deve ser livre para saber e decidir se quer votar em Dilma, que é candidata do Lula, ou em Serra, que é o candidato de do es-presidente Fernando Henrique. Por que isso deve ficar escondido? Quem tenta esconder algo, boa coisa não está fazendo.
Cada brasileiro hoje, graças a Deus, é livre para pensar o que quiser, dizer o que pensa e votar em um ou em outro, conforme o seu pensamento.O Presidente Lula não tem este direito? Não apenas tem o direito, como tem o dever de informar ao povo brasileiro.
Isso é democracia.