sexta-feira, 28 de maio de 2010

Serra comete gafe diplomática e grosseria contra a Bolívia, diz Fernando Ferro, líder do PT


O líder do PT na Câmara, Fernando Ferro (PE), qualificou hoje (27) o ex-governador de São Paulo, José Serra, de “irresponsável e preconceituoso” por acusar o governo da Bolívia de cumplicidade com o narcotráfico. Ele ironizou o pré-candidato tucano à Presidência da República por mostrar "coragem" contra um pequeno país sul-americano e preservar, ao mesmo tempo, os Estados Unidos, o maior consumidor de cocaína do planeta, e a Colômbia, que além de ser o principal aliado norte-americano na América do Sul é o maior produtor mundial da droga. O Peru ocupa o segundo lugar.

Segundo Ferro, o tucano mostra uma “indignação seletiva” com o grave problema do narcotráfico, deixando de lado a Colômbia , talvez por ter “ identidade política e ideológica com os partidos conservadores” que hoje governam aquele país. “ Preferiu trazer a sua coragem, a sua verve, contra a pequena Bolívia”, declarou Ferro. “Foi uma gafe diplomática e uma grosseria contra um país vizinho e membro do Mercosul”.

Serra, em entrevista a uma rádio do Rio de Janeiro, afirmou: "Você acha que a Bolívia iria exportar 90% da cocaína consumida no Brasil sem que o governo de lá fosse cúmplice? Impossível. O governo boliviano é cúmplice disto."

Na avaliação do líder do PT, o linguajar do tucano é “policialesco” e também “despreparado e desqualificado” para tratar do tema. “Esperamos que seja corrigido para que melhore o nível desse tipo de debate e não crie tensões diplomáticas desnecessárias e situações constrangedoras”.

Para Ferro, “a declaração do tucano mostra uma visão colonizada e uma postura submissa a determinados interesses internacionais”. Ele suspeitou também que por trás da declaração haja a intenção real de atacar a Bolívia, como os tucanos defenderam no primeiro mandato de Evo Moralez, quando este decidiu nacionalizar as reservas de petróleo e gás do país, afetando interesses de empresas estrangeiras, entre elas a Petrobras.

Ele frisou que a produção de cocaina na Colômbia, Peru e Bolívia só existe por causa do mercado consumidor, que encontra nos EUA a maior demanda. O petista reparou que o narcotráfico é um problema de escala mundial e criticou a visão reducionista de Serra.

“É lamentável que o candidato tucano esteja mal informado, mal assessorado e, talvez, mal intencionado. Porque, ao fazer tal afirmação, ele desconhece a realidade dos institutos que trabalham essa questão do narcotráfico e informações policiais”, disse Ferro.

Ferro observou que, hoje, na América Latina, o meganegócio da droga está ligado a cartéis, cuja operações levam até mesmo à desestabilização institucional. Citou, como exemplo, o México, que hoje se defronta com uma guerra interna contra o narcotráfico.

Folhas de coca

De acordo com o último relatório do UNODC (United Nations Office on Drugs and Crime), de 2009, a Bolívia é apenas o terceiro cultivador de folha de coca. Em primeiro lugar está a Colômbia (81.000 hectares), seguida do Peru (56.000 hectares). A Bolívia tem em torno de 30.500 hectares. Assim, Colômbia e Peru cultivam 4,5 vezes mais folha de coca que a Bolívia.

Em relação às tendências recentes, o relatório do UNODC observa que houve, em 2008, um pequeno aumento das áreas cultivadas no Peru (4%) e na Bolívia (6%). Entretanto, o relatório também observa que a atual área de folha de coca da Bolívia (30.500 hectares) é significativamente inferior aos números prevalecentes na década de 1990 (cerca de 50.000 hectares).

Apreensões

Ainda conforme o relatório do UNODC, a quase totalidade da cocaína consumida nos EUA vem da Colômbia e passa pelo México. Em relação à Europa, as estatísticas feitas com base nas apreensões indicam que 48% dos países europeus indicam que a cocaína lá consumida vem da Colômbia, seguida do Peru (30%). A Bolívia é mencionada em apenas 18% dos relatórios nacionais dos países europeus.

O relatório não tem dados específicos sobre o consumo no Brasil. Entretanto, o CIA Factbook menciona que a Colômbia é responsável pela “quase totalidade” da cocaína consumida nos EUA e pela “grande maioria” da cocaína consumida em outros mercados. A mesma fonte menciona também que a Bolívia é “país trânsito” da cocaína refinada que vem da Colômbia e do Peru, destinada ao Brasil, Argentina, Chile e Europa.

Na realidade, de acordo com as informações disponíveis, a Bolívia nunca teve grande capacidade de refino. Na cadeia da cocaína, ela é essencialmente um país primário-exportador e corredor de trânsito. O tráfico e o refino mundiais são oligopolizados pelos grandes cartéis colombianos.

O consumo da folha de coca não é ilegal na Bolívia. A nova Constituição da Bolívia reconhece o hábito de mascar folha de coca como um patrimônio cultural ancestral do país. Por outro lado, o tráfico de cocaína é reprimido. Conforme o governo boliviano, depois da expulsão da DEA (Drug Enforcement Administration ), que usava métodos violentos contra os cultivadores tradicionais da folha de coca, os indicadores relativos ao combate ao narcotráfico começaram a melhorar.

Liderança do PT

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