terça-feira, 18 de maio de 2010

É grave essa entrevista do general Maynard

General Maynard Marques Santa Rosa


Publicada em 17.05.2010

A "Entrevista da 2ª", na Folha de S.Paulo é com o general Maynard Marques Santa Rosa, agora da reserva, mas até há pouco mais de um mês (31 de março), membro do Alto Comando do Exército. A entrevista precisa - e deve - ser tomada ao pé da letra. Primeiro a Folha, no caso, não se deu sequer ao trabalho de ouvir o outro lado, seja quem foi citado, seja o governo, seja os familiares de mortos e desaparecidos.

Depois, porque na entrevista publicada com título escolhido a dedo pela Folha - “Governo Lula quer implantar ditadura totalitária no país” - além de negar a existência da censura e da tortura no regime militar, o general se dedica a atacar o governo Lula. E o faz com a mesma cantilena sobre chavismo com que se dedicou ao que interessa: acusar ou insinuar, o que dá na mesma, a nossa candidata Dilma Roussef por crimes que ela não praticou, já que não participou da luta e de ações armadas, e sim de uma organização que se opunha a ditadura e fez a resistência armada.

Não há nada nos próprios inquéritos militares e interrogatórios feitos sob tortura, que comprove ou a envolva em ações armadas. Trata-se portando de pura calúnia e tentativa de a envolver com a imagem de terrorista. Mas, o outro lado grave da entrevista é que ela revela um estado de espírito: a persistência nas Forças Armadas, depois de 20 anos de vigência da Constituição de 1988, de um pensamento, um posicionamento - tudo indica com muitos adeptos - abertamente pró ditadura de 64.

A democratização e as Forças Armadas

Daí a posição tímida dos comandantes militares com relação ao esclarecimento das mortes e desaparecimentos políticos e sua oposição à Comissão da Justiça e Verdade. A oposição ao 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH) é só um pretexto para sustentar posições como as que o general expressa e que comprovam que a democratização não chegou às Forças Armadas.

Nessa questão militar, no geral, estamos muito atrasados, muito mais do que em relação a nossos vizinhos. Mas, a democratização não será um ciclo completo enquanto nossas Forças Armadas não assumirem seus erros históricos e se decidirem a formar as novas gerações com concepções distintas das que continuam predominando em suas academias e, pelo visto - espero estar enganado - em grande parte de seus oficiais superiores.

Por fim, à luz do Regulamento Disciplinar do Exército (RDE) e por demais normas que regem a vida castrense - e fora dela daqueles que a integraram - essa entrevista não poderia ter sido dada nem mesmo por um oficial da reserva. Ele, então ainda na ativa, foi exonerado no início desse ano do cargo de chefe do Departamento de Pessoal do Exército (DPE) exatamente por uma outra entrevista com o mesmo teor. Sua nova fala de agora, então, é um agravante e uma desqualificação do próprio comandante do Exército, General Enzo Peri

DO BLOG DO ZÈ DIRCEU

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