Otávio Frias Filho (foto)
Por Bento
Acho que não se pode descartar nenhuma hipótese neste caso, cada lado envolvido tem razões suficientes para suspeitar do outro, e portanto a investigação da PF é mais que salutar a fim de sanar quaisquer dúvidas.
No entanto, no que concerne exclusivamente ao papel da imprensa, algumas questões que deveriam ser respondidas apenas pela Folha ainda permanecem no ar:
1) Por que desde a primeira denúncia o jornal demorou tanto tempo para publicar o material que possuía, e até agora não o entregou à PF?
2) Por que a Folha acusou diretamente o comitê de campanha de Dilma de encomendar o dossiê mas não foi capaz de apontar um único nome específico como responsável pelo fato? (as manchetes falam apenas no tal "grupo de inteligência", um termo genérico que abrangeria desde jornalistas e cozinheiros do comitê até políticos de renome nacional como Pimentel, mas nenhum deles foi apontado como autor do crime)
3) Ainda que se preserve o sigilo da fonte, por que a Folha não informa ao menos se ela trabalha na Receita Federal ou no próprio comitê de campanha de Dilma, uma vez que essa informação dirimiria muitas das dúvidas levantadas com a reportagem?
4) Por que a Folha alegou sigilo de fonte para recusar-se a informar a origem dos documentos que recebeu mesmo sabendo que essa pessoa cometeu um crime, mas revelou imediatamente os nomes das funcionárias da Receita Federal que ainda estão sendo investigadas (e, portanto, possuem presunção de inocência como quaisquer outros investigados neste caso)? Afinal, o que torna a imagem pública dessas funcionárias menos relevante para o jornal que a de sua fonte?
5) Como a Folha teve acesso às investigações da Corregedoria Geral da Receita, uma vez que processos administrativos dessa natureza necessariamente correm em sigilo?
Penso que a Folha deve essas explicações aos seus leitores e à sociedade, em nome da democracia e da liberdade de imprensa. Caso contrário estaremos entrando em tempos sombrios, em que os jornais podem acusar qualquer político ou fuincionário público de cometer crimes sem apresentar quaisquer provas e nem mesmo uma estória coerente, e caberá a eles "provarem" que são inocentes. Neste caso, seja qual for o desfecho, a imagem pública da Receita Federal já foi bastante arranhada, mas não me parece que a Folha esteja comprometida em recuperá-la apontando eventuais deficiências no seu sistema de proteção de dados fiscais. Ao contrário - o jornal tem se beneficiado prodigamente dessas deficiências, e, ao criar escândalos ocultando as provas e os nomes dos responsáveis pelos delitos, estimula ainda mais o comportamento irresponsável dos jornalistas e agentes públicos.
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