domingo, 17 de outubro de 2010
Darcy Ribeiro e a Vale
Semana que vem se completam 13 anos da morte de Darcy Ribeiro. Antes que este torvelinho do segundo turno me faça passar por esta data sem lembrar, vou transcrever aqui um dos últimos discursos dele, em janeiro de 1997, num ato de homenagem (antecipada) ao centenário de outro grande brasileiro, Barbosa Lima Sobrinho.
Darcy, que morreria um mês depois, chegou lá de cadeira de rodas. Mas o pensamento, esse vulcão maravilhoso que brotava de sua cabeça calva pelo câncer, estava lúcido, veloz, claríssimo. E ele se voltou, como sempre, para a defesa do Brasil, na ocasião, contra a privatização da Vale e dos nossos minérios.
Um alerta mais do que adequado agora, quando, de novo, os interesses famintos do capital se voltam contra as riquezas do nosso pré-sal:
” Por que é que o Presidente Fernando Henrique – um presidente tão culto, tão inteligente, tão agradável – é um presidente tão ruim! É incrível que Fernando Henrique se deixe dirigir pela pior gente que há, que é o economista!
Basta dizer que se você pegar três deles, dos mais eminentes e colocá-los juntos para discutir qualquer assunto – eles vão discordar entre si. Eles sempre discordam em tudo porque não têm certeza de nada…
E Fernando Henrique só lê na cartilha dos economistas do BNDES e do Ministério da Fazenda… É incrível!
Eles são bisonhos, são jovens com a cabeça feita lá fora.
Eles não têm nada de patriótico, eles não têm compromisso conosco.
É gente que nunca fez nada na vida e nem é provável que venha a fazer.
Essa gente quer vender, quer entregar o Brasil porque acha melhor.
Essa gente usa o Brasil, usa a Nação, para alcançar os seus objetivos. Por isso que é importante que existam cabeças como a de Barbosa Lima Sobrinho…
Existe no mundo empresa mais exitosa para fazer mineração, tirando o minério das minas e transportando-o para os compradores do que a Vale do Rio Doce? Existe acaso empresa no mundo com o domínio da tecnologia mais avançada e mais alta do que a Vale? Existe alguma empresa
no mundo com as técnicas de reflorestamento empregadas pela Vale? Existe empresa de mineração no mundo, pública, que seja mais lucrativa do que a Vale? Existe empresa que cuide melhor de seus trabalhadores? É claro que não!
É por isso que precisamos defender a Vale.
E saber que se ela for privatizada logo de cara, 30% de seus trabalhadores serão despedidos.
Existe por acaso empresa melhor associada a outras para a exploração de minérios? É claro que não!
Se Fernando Henrique tivesse respostas positivas a estas perguntas, que há empresas melhores do que a Vale, poderíamos entender a sua posição. De que a entrega da Vale estava certa.
Mas nada disso existe! Entregar a Vale pura e simplesmente para a acumulação dos banqueiros é uma coisa criminosa!
Por isso temos que aprofundar esta campanha em defesa da Vale do Rio Doce tanto quanto possível, mostrando a Fernando Henrique,
de todos os modos, que a Nação não aceita esta venda.
A Vale é a segunda das empresas criadas através da sagacidade intensa, da capacidade imensa de Getúlio Vargas. Getúlio fez todo esforço para trazer para o Brasil empresas privadas que quisessem produzir aço. Getúlio sabia que só com um grande parque siderúrgico o Brasil poderia dar certo. Era preciso criar a matriz da indústria brasileira. E a “mater”, a mãe da indústria brasileira, foi a Companhia Siderúrgica Nacional.
Sem a CSN não existiria indústria naval, indústria de automóveis, o Brasil não teria dado todos os passos imensos que deu, para o progresso. Volta Redonda foi negociada com Roosevelt como condição para o Brasil apoiar
os Aliados na guerra. Pois a CSN foi entregue a três banqueiros. Quem pode confiar que três banqueiros agirão de acordo com a Nação e com os interesses do povo brasileiro? Ninguém!
Agora a segunda empresa também negociada por Getúlio pode ser vendida. Os ingleses queriam que enquanto continuasse a Segunda Guerra, enquanto durasse a guerra, o Brasil vendesse para eles, fiado, todo o minério de ferro que pudessem absorver.
Getúlio aproveitou a oportunidade e fez um acordo pensando nos interesses do Brasil. Os ingleses passaram a propriedade que tinham sobre as jazidas de ferro em Minas Gerais com a condição de que o Brasil vendesse fiado para eles. E essa foi a origem, o início da grande Vale do Rio Doce que temos hoje.
Quando a Vale se instalou existiam outras empresas que se dedicavam a mineração, como a Hanna. E a Vale cresceu. É por isso que não há
nada mais incompreensível, absurdo, criminoso, de lesa-pátria, do que esta tentativa do Governo de privatizar a Vale do Rio Doce .”
Que nossas forças evitem, no dia 31, uma decisão que entregue um tesouro maior, muito maior ainda que a Vale, à gana internacional. Em nome do povo brasileiro e de seu destino, evitemos a vitória dos que, ao longo da história, entregaram as riquezas que pertencem a cada homem e mulher deste país, possam fazer o mesmo com o mar de petróleo que a Providência colocou em nosso litoral, como que para redimir os séculos de colonialismo em que sangraram as riquezas desta terra.
Blog do Brizola Neto
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