sábado, 5 de março de 2011

Liga Árabe rechaça a ameaça de agressão à Líbia pelos EUA


Vista parcial de Trípoli


Por Dani Tristão
China, Rússia e 57 países da Organização da Conferência Islâmica pedem que soberania do país seja respeitada

A Liga Árabe rechaçou na quarta-feira dia 2 qualquer forma de intervenção militar estrangeira na Líbia, exigindo respeito à sua “unidade nacional, soberania e integridade territorial”. Os 22 países membros, representados pelos ministros das relações exteriores, repudiaram, na reunião realizada no Cairo, a zona de exclusão aérea aventada pelos EUA. Também a Organização da Conferência Islâmica, que reúne 57 países de fé islâmica, se manifestou contra qualquer intervenção na Líbia.

Nos últimos dias, o governo Obama andou dizendo que “todas as opções” estavam sobre a mesa, enquanto o Pentágono anunciava estar “reposicionando” em torno da Líbia sua frota do Mediterrâneo. Junto com o lulu de plantão em Londres, David Cameron, ele ensaiou a ameaça de uma “zona de exclusão aérea” sobre o território líbio, que chegou a ser levada à Otan. Ameaça que foi respondida pelo líder líbio Muamar Kadafi, de que haverá “milhares de mortos” se os EUA tentarem invadir o país e roubar o petróleo líbio.

O embaixador permanente da China na ONU, Li Baodong, que assumiu a presidência rotativa do Conselho de Segurança para o mês de março, afirmou que “há que respeitar a opinião dos Estados árabes e africanos”. A China salientou a necessidade de “respeitar a soberania, independência e integridade territorial da Líbia” e de impulsionar “uma solução pacífica a cargo do povo desse país e sem interferências”. A Rússia, por sua vez, condenou a “zona de exclusão aérea” como uma interferência indevida além de “um grave erro”.

OTAN

O novo chanceler francês, Alain Juppé, em entrevista ao canal de televisão TF1, se mostrou cabreiro sobre o resultado de uma intervenção militar. A questão “merece ser olhada duas vezes” e poderia ser “extremamente contraproducente”, admitiu. “Não sei qual seria a reação árabe, do povo árabe e das populações ao longo do Mediterrâneo se vissem forças da Otan desembarcar num território do sul do Mediterrâneo”.

Ekmeleddin Ihsanoglu, secretário-geral da OCI, ressaltou que a Organização que é integrada por todas as nações de fé islâmica – além dos árabes, países como Irã, Paquis-tão, Indonésia e Malásia -, se opõe “a qualquer intervenção militar na situação líbia”. Ele pediu que fossem utilizadas “todas as opções para solucionar o conflito por meios pacíficos e sem recorrer à força”.

Ainda com as mãos sujas do sangue de meninos, mulheres e velhos afegãos mortos em raides da aviação dos EUA nos últimos quinze dias (veja matéria), a secretária de Estado Hillary Clinton foi ao Conselho de Direitos Humanos da ONU dar aulas de “imperialismo humanitário”. Nos debates do Conselho, o chanceler cubano Bruno Rodríguez afirmou que “resulta notório que é a voracidade pelos hidrocarbonetos, e não a paz nem a proteção das vidas dos líbios, a motivação que anima as forças políticas conservadoras, que chamam hoje, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, a uma intervenção militar da OTAN em território líbio”. Por pressão dos EUA, a Líbia foi suspensa do CDH.

Nos debates na Liga Árabe, o embaixador da Síria, Iussef Ahmed, apontou ser necessário que os países árabes “se confrontem com as tentativas de interferência externa que buscam influenciar essa nova atividade do povo árabe, desviar o seu curso no qual busca atingir seus objetivos e aspirações”. Ele advertiu que é preciso “romper cadeias e rejeitar pressões particularmente nos desenvolvimentos recentes que provam que ao fim das contas as forças ocidentais e os Estados Unidos só querem proteger seus interesses, avançar suas agendas e os interesses de seu aliado, Israel”.

LIDERANÇAS

Em Tripoli, Kadafi – falando a dezenas de lideranças de todo o país, integrantes do Congresso Nacional Popular e da imprensa estrangeira - voltou a afirmar que os atos contra seu regime “partiram de fora da Líbia e de membros da Al Qaeda” e de “gangues armadas”. “Nós pedimos ao mundo e às Nações Unidas que enviem missões de reconhecimento para descobrir onde as pessoas foram mortas, se nas ruas ou em frente a estações de polícia ou quartéis, se eram policiais e soldados ou apenas civis? Elas descobrirão que alguns deles eram civis que atacaram estações policiais e quartéis. E que policiais e soldados defenderam as suas posições.”

O confisco de bilhões de dólares que estavam em bancos dos EUA e da Inglaterra foi ironizado pelo dirigente líbio. “Minha verdadeira riqueza é a gloria de nosso povo. Não tenho ativos e me sinto orgulhoso de não ter dinheiro americano, de não ter dólares. Fui informado de que o primeiro-ministro da Inglaterra, David Cameron, resolveu congelar os meus ativos. Mas esses são ativos líbios, são do Banco Central líbio, pertencem ao povo líbio. Mas, ainda que congelem o dinheiro do povo líbio, nós não vamos nos render por um bocado de dólares. Tantos mártires morreram em defesa da nossa terra. Esse é o verdadeiro ativo que temos, e não está a venda por dólares e não tem medida de valor. Pois é o nosso verdadeiro crédito, do qual, nos sentimos orgulhosos”.

Beto Almeida

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