Recomendo o artigo de Boaventura de Sousa Santos, hoje, na Folha de São Paulo. Sob o título As lições da Europa, o sociólogo português resume num texto claro o que está por trás da crise europeia. E, de quebra, nos fornece boas pistas de como a derrota do Partido Socialista espanhol, ontem, para o Partido Popular (PP) de centro direita no Parlamento já era anunciada, dada as soluções neoliberais adotadas pela esquerda no país, sob o pretexto de vencer a crise.
“A Europa está assombrada pelo fantasma da exaustão histórica. Depois de durante cinco séculos ter atribuído a si a missão de ensinar o mundo, parece ter pouco a ensinar e, o que é mais trágico, parece não ter capacidade para aprender com a experiência do mundo”, inicia ele, com fina ironia.
De acordo com autor de "Para uma Revolução Democrática da Justiça", a direita usou a crise para aplicar a "doutrina de choque". E com isso pode lançar mão das privatizações e da destruição do Estado social. “Não tinha conseguido fazê-lo por via democrática, mas foi preparando a opinião pública para a ideia de que não há alternativa ao senso comum neoliberal”, aponta.
Esquerda, tampouco, é poupada
Sua crítica à esquerda tampouco é amena. Para ele, os socialista nem se aproveitaram da crise para mostrar o fracasso do neoliberalismo, nem souberam propor uma alternativa pós-neoliberal.
Boaventura Sousa Santos derruba vários mitos. “A liberalização do comércio é uma ilusão produtiva para os países mais desenvolvidos”, afirma. Isto por que, argumenta ele, “para ser justo, o comércio deve se assentar em acordos regionais amplos, que incluam políticas industriais conjuntas e a busca de equilíbrios comerciais no interior da região”.
A Organização Mundial do Comércio, neste contexto, é tida pelo professor como um “cadáver adiado”. Seus dias estariam contados já que os acordos globais e regionais tendem que os lugares de consumo coincidam com os lugares de produção.
Mercados financeiros X democracia
O artigo fecha com considerações sobre os mercados financeiros, “dominados como estão pela especulação”. Para o especialista, eles simplesmente “nunca recompensarão os países pelos sacrifícios feitos”. E isto por uma boa razão: “não reconhecer a suficiência destes é o que alimenta o lucro do investimento especulativo”.
O sociólogo conclui, por fim, que a democracia pode desaparecer gradualmente e sem ser por golpe de Estado. E cita como exemplo a substituição de Silvio Berlusconi, decidida pelo Banco Central Europeu. Sem meios termos, dispara: “A democracia, depois de parcialmente conquistada, pode ser gradualmente esventrada pela corrupção, pela mediocridade e pusilanimidade dos dirigentes e pela tecnocracia em representação do capital financeiro, a quem sempre serviu”.
Blog do Zé Dirceu
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