POR FERNANDO BRITO · 26/09/2017
Conheço o petismo há 40 anos, quando se ensaiava a construção do partido.
Do tempo em que figuras como Antonio Palocci eram os “reis da pureza”.
Sempre torci o nariz para os “puros” e, por isso, nunca fui parar numa igreja.
E que nós, os desgraçados que sustentavam que o povo brasileiro tinha uma história de lutas de séculos eramos os “sujos” reformistas.
“Conciliadores de classes”, diziam.
“Libelus” – adeptos da seita “Liberdade e Luta”, como ele, rejeitavam tudo o que este país vivera como um imundo acordo com as classes dominantes.
E era mesmo, embora não fosse imundo.
Sempre sonhamos em um acordo nacional que permitisse ao Brasil ser tudo o que pode ser.
O caminho revolucionário não é uma opção desejada, só se legitima quando é a única possivel, como só se arromba uma porta quando não há outra forma de se passar de um lugar a outro.
Não é raro que a ultraesquerda transite, com facilidade, para a direita.
Como desprezam a força do povo, acham que um arranjo de espertezas as pode conduzir ao proscênio.
Não é seu privilégio: parte da esquerda “reformista”, antes, fez esse caminho, com a cobertura do “luxo sociológico” que lhe permitia Fernando Henrique Cardoso.
Uns e outros foram a admitidos nos salões e o preço do ingresso ao sucesso, informa Goethe desde seu Dr. Fausto, é a alma.
Num misto de pragmatismo e condescendência, são tolerados.
Lembro-me de Brizola, diante do encontro entre César Maia e Collor, em pleno 1989, dizer que o atual demista estava “fazendo vôos de reconhecimento” sobre as trincheiras adversárias.
Lula trouxe Palocci para essa função em seu primeiro Governo. Também José Dirceu, em outra escala, com outra nuançe.
Dirceu para cuidar da máquina da realpolitik, Palocci para o combustível.
Mas quando teve de escolher quem faria o seu papel, escolheu quem não lidava com a graxa: Dilma Rousseff.
Ele próprio, Lula, tem as mãos limpas, por mais que se esforcem com mixórdias, do tipo de um apartamento furreca e um aluguel mixuruca para condená-lo.
Há um processo em curso que escapa à compreensão de nossas elites.
Não perceberam que seu processo regressista as levou a uma situação que é incompatível até com seu liberalismo pequeno-burguês e a seu “vanguardismo” cultural.
Palocci desfiliar-se do PT preenche uma lacuna na transformação do partido em instrumento da vontade popular de transformação.
Não poque não precise de interlocutores com a velha política.
Mas porque não pode ter mais os que sucumbam a ela.
Tijolaço
Nenhum comentário:
Postar um comentário