quinta-feira, 30 de novembro de 2017

PROFESSORA É AMEAÇADA APÓS FAKE NEWS ESPALHADA POR CARLOS VEREZA E EDUARDO BOLSONARO

Ator global Carlos Vereza e deputado Eduardo Bolsonaro espalham fake news sobre atividade em escola do Rio de Janeiro; informação falsa fez escola mudar tema de apresentação; professora chegou a ter celular divulgado e recebeu ameaças

30 DE NOVEMBRO DE 2017 


O áudio de uma mãe de um adolescente do Rio voltou a acionar a patrulha conservadora das redes sociais. O desabafo da mulher ao saber da temática de um exercício escolar do filho provocou uma onda de ameaças e impropérios virtuais e obrigou um grupo de alunos de um colégio particular a suspender uma atividade que pretendia abordar a identidade de gênero, um conceito que abrange a realidade de pessoas que não se identificam com o sexo que lhes foi designado ao nascer.


“Que absurdo o colégio do meu filho impondo ele apresentar a feira cultural de camisa rosa e batom na boca […] para ganhar dois pontos em cada matéria. Eu não aceito, eu não aceito, eu não aceito! […] Não vou deixar meu filho participar de uma nojeira dessas. Homem é homem. Mulher é mulher. Macho é macho. Fêmea é fêmea”, dizia a gravação, que viralizou graças ao compartilhamento do deputado Eduardo Bolsonaro sob a chamada: “Menino que usar batom ganhará nota em colégio particular do Rio”.

A atividade proposta pelos meninos do nono ano de uma das cinco unidades do Colégio Pinheiro Guimarães nada tinha a ver com serem obrigados a usar batom. Os alunos, na verdade, precisavam escolher um tema para apresentar na feira cultural da escola, um evento anual que se celebra há 23 anos. Cada um dos 45 estandes da feira seriam avaliados pelos professores. Uma das turmas optou pela “identidade de gênero” por ser um tema atual e polêmico, muitas vezes demonizado por alguns adultos que sequer sabem o que significa.

O boato foi alimentado até pelo ator Carlos Vereza, que usou uma versão ainda mais distorcida dos fatos –”o colégio obrigou o aluno a usar batom para ter a nota aumentada“– para pedir aMichel Temer medidas para “parar com a solerte ideologia de gênero“. “Tem professores tirando o artigo “o” e o artigo “a” e colocando “x”, estão brincando de Deus e mudando toda a biologia. Por mais que eles inventem, homem não tem útero. E mulher não tem pênis”, disse o ator de 78 anos após a reunião com o presidente. Em 2015, o Congresso conseguiu banir o termo “gênero” do Plano Nacional de Educação, por considerar que a palavra se referia a uma questão de ideologia.

(...)

A denúncia da mãe induziu os fiscais dos bons costumes a pensar e divulgar que o evento da escola só exploraria essa temática e as reações não demoraram. O celular da professora responsável pela turma foi divulgado na Internet e a docente começou a receber ameaças. Os comentários nas redes instigavam também a ações violentas contra o colégio, os alunos e seu diretor. “Houve muita gente nas redes alertando que viria aqui. Havia pessoas marcando no Facebook vir aqui para destruir nosso trabalho”, lamenta João Pedro, de 14 anos, no Clube de Regatas do Flamengo, onde o evento foi celebrado este sábado.



Brasil 247

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