15 de Novembro de 2017
Por Tereza Cruvinel
Ao longo da Operação Lava Jato, tornou-se evidente a existência de uma aliança entre o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e a mídia, que fez a sua parte com uma cobertura espetaculosa, desprezando a presunção da inocência dos investigados e executando a divulgação seletiva das delações premiadas vazadas por procuradores ou delegados federais. Os veículos do grupo Globo foram parceiros especiais desta aliança, comparecendo com suas equipes na hora exata para documentar prisões e conduções coercitivas. Até agora, o Ministério Público Federal fez silêncio absoluto sobre as revelações do empresário argentino Alejandro Burzaco a uma corte de Justiça de Nova York, apontando a TV Globo como um dos veículos que teriam pago propina para garantir exclusividade na compra de direitos de transmissão dos jogos da Copa Libertadores da América e da Copa Sulamericana de Futebol. Passado o feriado desta quarta-feira, a persistência do silêncio do Ministério Público sobre o assunto será suspeita, fortalecendo a percepção de que sua vigilância também é seletiva.
A TV Globo – que recentemente reestruturou toda a área de esportes, entregando seu comando a Roberto Marinho Neto, filho de José Roberto Marinho, negou as acusações, alegou a realização de sindicância interna que não encontrou irregularidades e colocou-se à disposição da justiça americana. Como todas as pessoas físicas e jurídicas, faz jus à presunção da inocência mas, agora, a situação exige que o assunto seja examinado também pelas autoridades nacionais. A situação complicou-se nesta quarta-feira com novo depoimento de Buzarco afirmando que a Globo participou de um esquema de propinas da ordem de US$ 15 milhões, o equivalente a R$ 50 milhões, para garantir a exclusividade nas transmissões das Copas de 2026 e 2030. Forneceu detalhes sobre a operação, que teria envolvido depósitos numa conta na Suíça em favor de um ex-dirigente da Fifa, Julio Grondona, já falecido. A empresa de Buzarco teria sido intermediária do pagamento, segundo informação do site Buzzfeed, que tem feito a cobertura mais aguerrida do escândalo no futebol global, investigado pela justiça americana. Delatores mentem ou podem mentir, em busca de proteção judicial, não podendo suas delações ser tomadas como base para condenação. Mas aqui no Brasil, especialmente em relação a alvos do PT, a mídia em bloco, Globo incluída, sempre tomou as delações como base para condenações midiáticas antes do proferimento de sentença.
Outro elemento fundamental para o êxito da Lava Jato foi a cooperação internacional com autoridades judiciárias estrangeiras de combate à corrupção. Tanto o juiz Sergio Moro como o ex-procurador-geral Rodrigo Janot estabeleceram uma sólida aliança com juízes e procuradores dos Estados Unidos. Se o Ministério Público resolver demonstrar seu interesse pelo assunto, pode começar pedindo a cooperação da Justiça americana neste caso. No tribunal do Brooklyn, em Nova York, terá seguimento nos próximos dias o julgamento da acusação de procuradores americanos, que acusam dirigentes mundiais de futebol de terem recebido R$ 500 milhões em propinas nas últimas décadas. Os procuradores brasileiros certamente vêm acompanhando o assunto. O que os silencia é o desconforto de ter que investigar um parceiro nacional tão estratégico, observando o devido processo legal, embora não o tenham feito em relação a muitos investigados da Lava Jato.
Brasil 247
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