SAB, 11/11/2017 - 17:27
ATUALIZADO EM 11/11/2017 - 17:28
Por José Augusto Ribeiro
Caro Nassif
Acabo de ler seu artigo de ontem e de encontrar e também ler o anterior sobre o caso do William Waack. Eu já concordava intuitivamente com o que você viria a escrever e agora concordo esclarecidamente. Não sei se cruzei pessoalmente com o William depois de conhecê-lo na Alemanha em 1976, quando participava de um grupo de jornalistas brasileiros convidados pelo governo alemão para acompanhar as eleições daquele ano no país. Faziam parte do grupo, entre outros, o Castelinho e o Oliveiros Ferreira. O William era enteado do Oliveiros, estudava na Alemanha e frequentemente estava conosco. Já tinha o ar atrevido de quem sabe que sabe muito - menos, porém, que o Oliveiros, a quem dedicava uma afeição maior que a que um filho biológico pode dedicar ao pai que o fez parir.
Eu já admirava muito o Oliveiros, depois de o ter detestado à distância, mais por suas posições contra o governo Jango, no qual eu trabalhara num quinto escalão, do que por suas convicções ideológicas de direita. Aos poucos, em leituras e encontros ocasionais, fui descobrindo o grande brasileiro e grande ser humano que era o Oliveiros, e também os pontos de vista que nos aproximavam e acentuavam ainda mais os que nos separavam.
Nunca tive pelo William do Jornal da Globo a menor admiração, nem por sua obsessão contra o que chamava de populismo e enfiava no mesmo saco de pancadas tanto a demagogia mais descarada quanto políticas reformistas mais sérias. Gostei, porém, de seu livro Camaradas, sobre o levante, a tal Intentona Comunista de 1935, livro linchado pela ortodoxia corporativista do velho "Partidão". E gostei de algumas edições de seu programa Painel, no qual ele conseguiu abrir espaço para manifestações como a do Ministro Carlos Veloso, ex-Presidente do Supremo, sobre uma das flechadas com que o ex-Procurador Geral Rodrigo Janot tentava derrubar o que naquele momento nos restava de legalidade constitucional. Gostei especialmente de um programa no qual um diplomata brasileiro (não guardei o nome) discutia o crescimento da desigualdade econômica no mundo,tema aparentemente proibido em nossa mídia.
Como você, não vou discutir a frase racista do William, mas não esqueço que o Oliveiros, de quem ele herdou tanto, ou era mouro ou era afro. Também não esqueço que não tenho o direito de atirar a primeira pedra. Quantas vezes achei e disse que isto ou aquilo era coisa de viado, mesmo convicto de que existem mais viados hetero, machistas e homofóbicos que viados homo. Se nunca me permiti manifestações de racismo ou antissemitismo, foi certamente por meu DNA afro e cristão-novo. Mas já fui acusado de antissemitismo por ter feito um programa de televisão em que o entrevistado, o ex-Presidente Jânio Quadros, condenava os massacres de Sabra e Chatila em 1982.
No passado da Inquisição, Galileu foi obrigado a dizer que a Terra não girava em torno do Sol e Giordano Bruno foi condenado à morte e teve a língua cortada a caminho da fogueira por ter dito e continuar dizendo, aos brados, como um poeta condoreiro, que Deus estava em todas as coisas, até na menor folha de relva. Hoje, nesse punitivismo que nos conduz à guerra de todos contra todos e a cada um de nós à escolha de ser ou recusar-se a ser o lobo do homem, não posso deixar de considerar que a punição do William e seu linchamento moral foram absolutamente desproporcionais e cruéis.
Ao mesmo tempo, porém, que o caso William Waack se transforma numa questão nacional, não vejo um centésimo desse rigor no caso e na investigação de responsabilidades pelo suicídio do Reitor Luís Carlos Cancelier, da Universidade Federal de Santa Catarina.
Parabéns por sua coragem e serenidade ao enfrentar mais uma vez a onda de intolerância e rancor que envenena até o ar que respiramos.
Grande abraço
Zé Augusto Ribeiro
Jornal GGN
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