segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Morre Moniz Bandeira, o homem que me apresentou a Brizola



POR FERNANDO BRITO · 11/11/2017




Lamento não ter feito mais cedo o registro da morte, ontem à noite, do advogado, jornalista e cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, cuja amizade com Brizola -sobreviveu sempre ao fato de serem dois turrões – permitiu-me ter algumas interessantes conversas.

Bandeira, cuja atividade política sempre foi intensa, tornou-se importante por ter escrito um livro clássico sobre os interesses internacionais no país – Presença dos EUA no Brasil – teve, para a minha geração política como cartão de visitas o livro cuja capa reproduzo acima, ao lado de sua foto: Brizola e o Trabalhismo.

Por uma razão muito simples: a minha geração, na faixa dos 20 anos quando houve a anistia, não sabia absolutamente nada sobre a figura do ex-governador gaúcho e menos ainda sobre o (velho) PTB e o trabalhismo.

Todos nós, naquela fase, estávamos ainda dominados pelos pensamentos com que comungavam parte da esquerda marxista e da direita elitista: Getúlio era apenas um ditador e o trabalhismo um populismo manipulador, que se aproveitava do povão. Ah, sim, e Brizola era um fazendeiro e rebelde pequeno-burguês, inconsequente.(Porque será que eu não me espanto quando vejo repetirem bobagens sobre Lula?).

Np livro de Bandeira, lia-se o que era trabalhismo, para Brizola:

“Compreendo o trabalhismo como o primado dos valores do trabalho, a luta contínua para aumentar a participação dos trabalhadores na riqueza social, opondo-se a toda e qualquer forma de exploração do homem pelo homem, de classes sociais por outras classes sociais e de nações por outras nações. Desse modo, o trabalhismo expressa, fundamentalmente, as aspirações de todos os que dependem do trabalho para viver”

O livro de Moniz Bandeira ajudou-nos a descobrir o pré-64 que – exatamente como fazem agora com os anos de progresso que tivemos entre 2006 e 2012, solenemente esquecidos – não existia para nós, jovens. De lá, só vinha a ditadura, a qual, obviamente, detestávamos, porque nada é tão antijuventude quanto uma ditadura e a recíproca, hoje em desuso, era verdadeira.

Lamento que os anos finais de Moniz Bandeira, o baiano cosmopolita , tenham sido angustiados como poucos com o golpe que viu o Brasil viver e mergulhar nesta sombra. Logo ele que , muitas vezes, para mim foi um olhar que iluminava.



Tijolaço

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