sexta-feira, 9 de novembro de 2018

O “movimento” #FicaTemer, a tragédia Bolsonaro e a realidade paralela de um país em transe. Por Carlos Fernandes


Publicado por Carlos Fernandes
- 9 de novembro de 2018

“Vamos todos juntos”

Uma vez caído por terra o mito do brasileiro gentil, talvez a mais singular qualidade desse povo seja sua impressionante capacidade de fazer pilhéria com nossa cotidiana desgraça política.

Lançado antes mesmo do resultado final dessas eleições, mas já sobre a influência da iminente vitória de Jair Bolsonaro, o “movimento” #FicaTemer surgiu, entre outras coisas, para que jamais nos esqueçamos daquela velha sentença que diz que nada é tão ruim que não possa piorar.

Se Michel Temer enquanto presidente – fruto de um dos mais escancarados e escandalosos conluios para a deposição de uma chefe de Estado – conseguiu em dois anos e meio retroceder décadas de avanços econômicos e sociais, há apenas uma semana de eleito, Bolsonaro e sua equipe já nos provam que ruim mesmo é o que está por vir.

O #FicaTemer, portanto, traduz-se tão somente no mais legítimo e “bem-humorado” sentimento de que 80 chibatadas diárias são sempre melhores do que 100.

De uma espiritualidade de dar inveja aos mais celebrados autores de livros de autoajuda, não é exatamente dessa forma que o atual inquilino prestes a ser despejado do Palácio do Jaburu enxerga a situação.

Em entrevista concedida ao programa Bastidores do Poder da Rádio Bandeirantes nesta quinta (8), o vagante presidente diz encarar essa manifestação como o merecido “reconhecimento” dos brasileiros ao seu governo.

Afinal, segundo ele:

“O que se fez nesse país ao longo desses dois anos e meio foi coisa que não se fez nos últimos 15 anos. Tenho orgulho de ter feito isso”.

A bem da verdade, a afirmação em si está correta. O que de fato assombra é a parte de alguém se sentir orgulho pelo resultado de toda essa obra.

Seja como for, o talento do homem para o devaneio – ou para a demência – realmente impressiona. Lá pelas tantas, vagueia sobre o que considera o seu futuro e sua reputação.

“Pensei em me candidatar, mas analisei e concluí que seria um bombardeio irracional e eu não podia colocar em risco a minha reputação. Resolvi desistir. Acho que já fiz o que tinha que fazer na vida pública”.

Deve ser algo verdadeiramente extraordinário o universo em que um sujeito como Michel Temer ainda usufrui de alguma reputação.

Mas a grande questão que ao fim e ao cabo se impõe diante tanta irracionalidade é que em matéria de lucidez não estamos tão distantes assim daqueles que veem beleza no mais completo desmando da coisa pública.

Numa sucessão de tragédias sequentes e crescentes, seguimos com a flagrante passividade e alienação característicos do estado de insânia que se abateu num país que vive em transe numa realidade paralela.

Que ao acordamos, ainda exista um Brasil possível de ser reconstruído.


Diário do Centro do Mundo   -   DCM

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