O candidato derrotado no segundo turno das eleições, Fernando Haddad, afirma que a classe dirigente brasileira perdeu a máscara com a eleição de Bolsonaro. Ele diz: "achava que a elite econômica não abriria mão do verniz que sempre fez parte da história do Brasil. As classes dirigentes nunca quiseram parecer ao mundo o que de fato são". Sobre Lula, ele destaca: "o Lula tem um significado histórico profundo. Saiu das entranhas da pobreza, chegou à Presidência e deixou o maior legado reconhecido nesse país. Ele teria força para conter essa onda"
26 DE NOVEMBRO DE 2018
247 - O candidato derrotado no segundo turno das eleições, Fernando Haddad, afirma que a classe dirigente brasileira perdeu a máscara com a eleição de Bolsonaro. Ele diz: "achava que a elite econômica não abriria mão do verniz que sempre fez parte da história do Brasil. As classes dirigentes nunca quiseram parecer ao mundo o que de fato são". Sobre Lula, ele destaca: "o Lula tem um significado histórico profundo. Saiu das entranhas da pobreza, chegou à Presidência e deixou o maior legado reconhecido nesse país. Ele teria força para conter essa onda".
Na primeira entrevista após as eleições, concedida jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, Haddad retoma sua previsão de que a direita estava consolidando um espaço político inédito até então no Brasil: "há dois anos, eu te dei uma entrevista. E talvez tenha sido um dos primeiros a dizer: 'É muito provável que a extrema direita tenha espaço na cena política nacional'. Eu dizia: 'Existe uma onda que tem a ver com a crise [econômica] de 2008, que é a crise do neoliberalismo, provocada pela desregulamentação financeira de um lado e pela descentralização das atividades industriais do Ocidente para o leste asiático'."
Haddad avança na análise conjuntural: "os EUA estavam perdendo plantas industrias para a China. E a resposta foi [a eleição de Donald] Trump. Isso abriria espaço para a extrema direita no mundo. Mas a extrema direita dos EUA não tem nada a ver com a brasileira. Trump é tão regressivo quanto o Bolsonaro. Mas não é, do ponto de vista econômico, neoliberal. E o chamado Trump dos trópicos [Bolsonaro] é neoliberal. Trump apoia Bolsonaro. Ele precisa que nós sejamos neoliberais para retomar o protagonismo no mundo, e tirar a China. Está havendo, portanto, um quiproquó: os EUA negam o neoliberalismo enquanto não nos resta outra alternativa a não ser adotá-lo."
Sobre as articulações em torno da eleição sem Lula, Haddad afirma: "eu dizia: 'Tem que ver se vão deixar o Lula concorrer e como o Ciro vai se posicionar'. O Lula foi preso e o Ciro não soube fazer a coalizão que o levaria à vitoria, que só poderia ser uma coalizão com o PT. Ele diz que foi traído miseravelmente pelo partido. Ele não quis fazer [a coalizão]. Uma das razões foi declarada pelo [filósofo Roberto] Mangabeira [Unger, aliado de Ciro] nesta casa. Ele dizia: 'Nós não queremos ser os continuadores do lulismo. Não queremos receber o bastão do Lula. Nós queremos correr em raia própria'. Palavras dele. Eles não queriam ser vistos como a continuidade do que julgavam decadente. Apostavam que, com Lula preso, o PT não teria voto a transferir. Aconteceu exatamente o oposto."
Fernando Haddad ainda fala sobre o papel do PT no quadro político atual: "o PT elegeu uma bancada expressiva, quatro governadores, fez 45% dos votos no segundo turno, 29% no primeiro. É até hoje o partido de centro-esquerda mais importante da história do país. Outras legendas repetem que o PT não abre mão da hegemonia. O PT é um player no sentido pleno da palavra. É um jogador de alta patente, que sabe fazer política. Sabe entrar em campo e defender o seu legado."
Brasil 247
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