quinta-feira, 29 de julho de 2010
O homem do lado de fora - Por Mauro Santayana
O rápido olhar para as notícias do mundo, nesta semana que anuncia agosto, dá a impressão de que o homem procura fugir de si mesmo, para longe de sua condição humana. A ciência anda em busca do truque de Deus, a famosa partícula de Bóson, e, nesse orgulhoso desafio, já consumiu, no acelerador de partículas do centro da Europa, mais de 10 bilhões de dólares. Esta mesma e orgulhosa ciência, que pretende reproduzir o momento exato da criação do Universo, ainda não foi capaz (ou não teve interesse) de salvar o homem da fome, das endemias e da insânia, que se manifesta, com maior gravidade, entre os grandes da Terra.
Da França, que um dia iluminou a Europa com sua razão, chega a notícia da mãe que matou, um após outro, seus oito filhos recém-nascidos, apesar de seu rosto sereno.
Ainda que o homem identificasse, no acelerador de partículas, o momento preciso do nascimento do Universo, de nada isso lhe valeria para guardar a memória de seu grande feito. Ao que dizem outras notícias, a vida, pelo menos a do homem e dos mamíferos superiores, parece caminhar para o fim. Segundo medições criteriosas, realizadas durante o século passado e na primeira década deste, diminuiu em 40% a existência dos fitoplânctons na superfície dos oceanos. Isso me lembra o sorriso irônico de um cientista brasileiro, em Estocolmo, na Primeira Conferência do Meio Ambiente – em 1972 – quando alguém vociferava, já então, contra a devastação da Amazônia, com o argumento de que a floresta era o “pulmão do mundo”. O pulmão do mundo, explicou o brasileiro, é o mar, porque mais da metade do oxigênio do planeta é produzido pelos plânctons. O mar, nestes últimos decênios, se tornou o grande depósito de lixo do planeta. No Pacífico, de acordo com o oceanógrafo norte-americano Charles Moore, calcula-se em 100 milhões de toneladas o mingau de plástico que cobre área equivalente a duas vezes os Estados Unidos, vagando entre a Califórnia e o Japão.
Há, silenciosa, outra armadilha contra o homem, na excitação do campo magnético, pelos novos instrumentos de produção e de telecomunicações. Apesar de todos os desmentidos dos fabricantes de aparelhos e das empresas mundiais interessadas, há suspeitas de que ela já esteja causando danos irreparáveis ao homem. De qualquer forma, há sempre o risco, advertido pelos físicos, entre eles o brasileiro Ubirajara Brito, de que, em qualquer momento, pode inverter-se o campo magnético da Terra ou ocorrer tempestade solar, como a de 1859, que venha a trazer o definitivo “apagão” de todos os computadores do mundo. Se isso ocorrer, provavelmente teremos que retornar ao ábaco, se houver ainda quem saiba usá-lo.
Não obstante todos esses avisos, o homem, desnorteado, tenta a fuga, mediante a presunção de que a ciência, e não a política, que é uma ciência moral – como a definiu Tomás de Aquino – poderá salvá-lo.
Nunca a política pareceu tão inútil, e jamais ela foi tão necessária quanto hoje. É exigida, a fim de reunir os homens, promover a discussão do que é preciso fazer para conservar a civilização e, mediante a solidariedade, extinguir o legado de Caim, que se manifesta em nosso tempo na aldeã de Villers-au-Tertre, na violência urbana, nos assassinatos em massa, nos crimes de Auschwitz, Hiroxima, My Lai; no Iraque, na Faixa de Gaza, em Guantánamo, no Afeganistão.
Nenhuma ata deste nosso tempo é tão assustadora quanto os 91 mil documentos militares do Afeganistão, com sua lista de crimes horrendos, cometidos em nome da pax americana.
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