28 de junho de 2015 | 08:59 Autor: Fernando Brito
O “republicanismo” não é a emasculação do poder, ao contrário.
Deveria saltar aos olhos o exemplo que nos vêm da Grécia.
Eleito para recusar o programa de arrocho exigido pela Alemanha, seu séquito na União Europeia e pelo FMI, o Sryza, do Primeiro-Ministro Alexis Tsipras não se recusou ao diálogo nem às concessões plausíveis.
Mas recusou abertamente aqueles pontos onde repousava a legitimidade de sua escolha.
Quando, afinal, puseram-lhe o pé no pescoço, gritou.
Falou aos que lhe levaram ao poder que teria de ser o que não é e fazer o que não recebera delegação para fazer para que as instituições e seus controladores hegemônicos desejavam dele.
O plebiscito convocado pelo governo grego – e aprovado no Parlamento só porque a legislação grega dá ao partido mais votado, neste caso o Sryza, um “bônus” de 50 deputados, para garantir-lhe estabilidade, o que deixou o partido com 149 deputados, entre 300 – não é uma “bola de segurança”, algo que lhe garanta a vitória a priori.
Ao contrário, é um risco imenso, numa semana que pode ser marcada pelo completo caos no cotidiano, com a falta de moeda – lembrem-se, como é Euro, a Grécia não pode recorrer a emissões – e fuga de capitais.
Não se pode prever como os gregos vão decidir: se em favor de sua soberania ou ouvindo os apelos que quem lhes promete que, com a submissão, escaparão da sentença de morte econômica com que a Europa e o FMI os esperam.
Seria melhor não fazê-lo? Claro que sim e Tsipras foi até onde pôde para ceder.
Até onde pôde, mas não até onde lhe exigiam.
Há poucos dias, concordou até com medidas que até mesmo despertaram oposição interna em seu partido, como aqui.
O Primeiro-Ministro, entretanto, durante todo o processo não abdicou de reafirmar, sempre, seus compromissos e limites de concessão.
Só por isso pode, agora, apelar para a fonte originária – tão esquecida – das decisões de Governo: a escolha da população.
As pressões do capital não são brinquedo, nem aqui, nem na Grécia, nem em parte alguma.
Os que comeram, mais do que ninguém, a carne econômica da quase inédita década de expansão econômica não querem, sequer por uns meses, roer o osso.
Mas como deixamos de lado a comunicação com o povo brasileiro, confiantes que a maré montante seria permanente, agora sentimo-nos, de alguma forma, remando no ar.
Pior, confiou-se em que a densidade política do projeto de soberania e desenvolvimento nacional, por si só, daria forças para até mesmo aceitar, sem devolver, os golpes abaixo da linha de cintura com que se repetem, cada vez com mais força, sobre ele.
De uns tempos para cá, calou-se ainda mais o silêncio. Louvou-se como “republicano” o método de apanhar sem reagir. Acreditou-se que o bom-mocismo aplacaria a ira dos agressores e que a radicalização expressava apenas um ou outro imbecil a quem a “neutralidade das instituições” encarregar-se-ia de conter, em nome da estabilidade do país.
Como muitos acharam que a União Europeia, em nome da unidade europeia, fosse compreensiva com a Grécia.
Tijolaço
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