Postado em 22 ago 2015
por : Paulo Nogueira
Ele é uma piada
Você é Lula. Insultam você. Você vai à Justiça.
E então seu caso cai nas mãos de um juiz que tem como referências jornalísticas William Waack e Míriam Leitão.
Bem, você está frito.
Foi, em resumo, o que aconteceu agora com Lula ao interpelar Danilo Gentili depois que este disse que o atentado no Instituto Lula foi uma farsa.
O juiz, Carlos Eduardo Lora de Franco, rejeitou a interpelação.
Franco disse que era uma piada.
O único problema da sentença é o seguinte: não era piada. Você pode até argumentar que Gentili é um comediante tão fraco que não dá para distinguir quando ele está fazendo piada ou falando sério.
Mas, no caso em questão, ele evidentemente não estava fazendo piada.
Estava tripudiando, insultando, caluniando.
A sentença peca, entre outras coisas, por uma interpretação deficiente de texto.
Franco tem no currículo passagens marcantes. Numa delas, entendeu que chamar alguém de gay não é ofensa.
Aqui, era o jogador Richarlyson que se queixara na Justiça de um cartola que insinuara num programa de tevê que ele era gay.
Outra sentença peculiar de Franco foi desfavorável a um empresário que impetrou queixa crime contra três homens que, num vídeo no YouTube, o acusaram de praticar fraude.
“Os crimes contra a honra só se caracterizam se houver intenção específica de denegrir ou ofender”, escreveu o juiz na sentença.
Isso quer dizer então que, pela estranha lógica de Franco, se você acusar alguém de cometer fraude não vai significar intenção de “denegrir ou ofender”.
Um quadro clássico de um antigo programa humorístico tinha a seguinte frase final: “Entendi, mas não compreendi.” Era quando o protagonista pedia uma explicação ao interlocutor e, depois de uma arenga confusa, este perguntava se ele entendera.
Pois é.
Entendi, mas não a compreendi.
Franco, na prática, deu carta branca a Gentili para que este possa falar as barbaridades que quiser sob o pretexto der que é “piada”.
Comediantes são inimputáveis, segundo este raciocínio que é, em si, uma piada.
Lula pode recorrer, e é bom que ele faça. Mais que um direito, é um dever perante a sociedade, que não pode ficar exposta à canalhice pseudoengraçada de Gentili.
Ele tem que enfrentar consequências quando extrapolar.
Claro que existe o risco de o recurso terminar nas mãos de outro admirador de Waack e Míriam Leitão.
Mas há ter otimismo.
Não é possível que todos os juízes brasileiros vejam a Globonews e leiam a Veja.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Diário do Centro do Mundo
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