Postado em 18 Apr 2016
por : Paulo Nogueira
O pior Congresso que o dinheiro pôde comprar
Uma coisa está sendo esquecida nas reflexões feitas em torno da dantesca sessão da Câmara deste domingo.
Este Congresso não é o retrato do Brasil.
Não somos tão homofóbicos, tão reacionários, tão corruptos, tão primitivos, tão cínicos, tão demagógicos, tão venais – e, data venia, sequer tão feios, interna e externamente.
Aquela Câmara de ontem, liderada por Eduardo Cunha, é fruto do dinheiro sujo e copioso posto por grandes empresas nas campanhas políticas nacionais.
O melhor exemplo é o próprio Cunha.
Com sua criminosa capacidade de arrecadar, ele não apenas se elegeu com uma campanha milionária como teve sobras suficientes para montar uma bancada que lhe permitiu tomar conta da Câmara – e do Brasil.
O dinheiro privado compra o Congresso em toda parte, e não apenas no Brasil. Não existem milagres: quem tem mais recursos tem uma inexcedível vantagem sobre os demais.
Não é à toa que uma das principais pautas do socialista Bernie Sanders, nos Estados Unidos, é exatamente proibir o financiamento público. É por ele que a plutocracia toma de assalto a democracia.
No Brasil, apenas o PSOL remou contra a corrente, e se você deve aplaudi-lo pela bancada puro-sangue de integridade que o partido montou ao mesmo tempo não pode escapar da constatação da esqualidez dela em termos numéricos.
Sem dinheiro, sem chances.
Sanders fala o óbvio: as grandes corporações não doam dinheiro para candidatos por filantropia. Elas investemnaqueles que julgam ser um bom negócio para elas. Nos que, eleitos, vão defendê-las e não ao interesse público.
Na prática, isso se traduz em leis que favorecem a plutocracia. Frouxidão na legislação fiscal para facilitar a sonegação de impostos, apoia a medidas que minam conquistas dos trabalhadores e por aí vai.
No Brasil, você observa isso na Câmara sob Cunha. Esforço continuado para alastrar a terceirização em detrimento das salvaguardas da CLT, recusa imediata a sequer discutir a regulação da mídia – esta é a agenda que o dinheiro comprou.
A Câmara de Cunha é a pior Câmara que a plutocracia pôde comprar.
O Brasil real não está no Congresso, mas nas ruas, como ficou claro nas manifestações recentes contra o golpe e, mais ainda, nos 54 milhões de votos de Dilma.
As forças de esquerda e progressistas estão longe de ser tão minoritárias como entre os deputados federais.
Um parlamento que refletisse as ruas jamais faria o que foi feito ontem nem muito menos aceitaria ser presidido por um símbolo da ladroeira como Eduardo Cunha.
Nas ruas, nos protestos contra o atentado à democracia, na resistência ao golpe, é vital carregar a bandeira do fim do financiamento privado de campanhas.
Só assim teremos um Congresso que reflita o Brasil – e não aquele monstro moral que infernizou o domingo dos brasileiros que acreditam no poder do voto.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Diário do Centro do Mundo - DCM
Nenhum comentário:
Postar um comentário