POR FERNANDO BRITO · 18/04/2016
A pesquisa Datafolha, se alguém duvidava, mostra a carência de legitimidade Michel Temer, o homem que está em vias de assumir: nem mesmo nas manifestações pela derrubada de Dilma, que escancara as portas dos fundos pelas quais chegará ao poder, conta com a tolerância, sequer, da turma dos pró-golpe.
Disse ontem que a consumação do golpe, de fato, se dará com a tomada efetiva do governo, espremido entre os compromissos com Eduardo Cunha e a maré fisiológica que se formou no Congresso e as pressões empresariais que lhe exigem – e rápido – cortes de despesas públicas, que a Folha hoje já resume em poucas e explícitas linhas:
Os empresários acham que o novo governo terá de acabar com a obrigatoriedade dos gastos fixos em saúde e educação, fazer reformas da Previdência e das leis trabalhistas, e talvez seja preciso recriar a CPMF.
Não é o momento de discutir os erros de Dilma (e, antes dela, de Lula e do PT) que levaram à corrosão evidente de bases mínimas de sustentação. Nem mesmo seria útil fazê-lo, porque ninguém mais do que eles, a esta altura, é certo que estão refletindo sobre isso e a ninguém se atropela ou critica nos momentos de dor e perplexidade.
Estende-se a mão.
O foco do combate a um golpe de muitas cabeças – e repito que o golpe de fato é o exercício do governo e sua transformação em algoz dos direitos públicos e sociais – são suas caras públicas: Cunha e Temer.
Esqueçam os coadjuvantes asquerosos, por mais que mereçam este asco, como Bolsonaro, que se prestam apenas para promover distração dos objetivos reais.
É a Temer e Cunha que devemos nos voltar, porque não são a ameaça de golpe.
São a cara do golpe que avança e são, também, seus joelhos, seu ponto mais fraco.
Se a legalidade, sob a tolerância cúmplice de um Supremo que, com a estupidez dos rábulas, fixa-se em alíneas e incisos e não na ideia de Justiça e equilíbrio, se foi, fica o seu fundamento: a legitimidade.
E essa, o povo brasileiro, juiz de si mesmo, vai julgar – está julgando – em Temer e Cunha.
Tijolaço
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