domingo, 6 de novembro de 2016

Moro e o Canto de Osanha



POR FERNANDO BRITO · 06/11/2016




Na campanha de 1989, diante de um pergunta complicada, muito subjetiva, feita por um dos presentes a uma reunião de artistas e intelectuais na casa do Chico Buraque saiu-se dela com uma de suas “tiradas”:

– Não sei, vou consultar os poetas…

Hoje, diante da manchete-entrevista do Estadão em que Sérgio Moro diz que ‘Jamais entraria para a política’, fui consultar logo um deles, o Vinícius de Moraes, que escreveu no seu lindo “Canto de Osanha”, com Baden Powell: O homem que diz vou/Não vai!/Porque quando foi/Já não quis!/O homem que diz sou/Não é!/Porque quem é mesmo é/Não sou!

Moro de tolo nada tem.

A fragilidade paradoxal de Temer, que controla o Congresso, mas não controla o país, já abriu o jogo sucessório, ao ponto que um artigo laudatório a FHC escrito por um seu ex-colaborador – leia na coluna do Janio de Freitas que tipo de “ética” fez FHC demitir Xico Graziano – provocar um “frisson” entre os que se impressionam com pouco.

Até Eliane Cantanhede enxerga isso:

“Quem alardeia essas ideias pirotécnicas, ou piromaníacas, de derrubar Michel Temer para pôr Fernando Henrique no lugar já pensou em quem, como, onde e por quê? O colégio eleitoral seria o Congresso, onde, logo, logo, mais de uma centena de camaradas estarão na fila da Lava Jato. A reação automática seria que o PSDB tirou Dilma e pôs Temer para, aí, sim, dar um golpe. E a economia, a política, a imagem do País e a paciência da sociedade explodiriam de vez.

O PSDB tem um nome e só um nome: Geraldo Alckmin, testado e reprovado em 2006.

Moro move-se, como ele mesmo diz, do lado de fora da política. Tem a espada da prisão preventiva – sabe-se lá por que razão, mas já não é preciso razões – sobre Lula e o poder de pressionar partidos e políticos que ficarão expostos na lama do rompimento da barragem da Odebrecht.

Como dizem lá na roça, ali “vai ter de um tudo”.

Farta matéria-prima para manter o país paralisado pelo medo e por uma apreensão geral com a ideia que “de Curitiba ninguém escapa”. E paralisado o país, a desagregação de Temer, que já é grande, segue crescendo e levando junto o PSDB, que não tem como desembarcar da aventura golpista.

A guerra, para Moro, seria outra, com a mídia como artilharia, a toga como as divisões blindadas e a direita fascistoide como infantaria impiedosa.

Afinal, é só olhar o Supremo Tribunal Federal para que se veja que a política não é a única via para se alcançar o poder.


Tijolaço

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