POR FERNANDO BRITO · 27/12/2016
– Chefia, não vou poder pagar na sexta-feira o aluguel de mil reais daquela banquinha que você me repassou, como dizia lá no contrato…
– Mas meu querido, estou na maior pindaíba, to cortando a escola das crianças, médico, até da velhinha minha avó estou tirando. E depois você prometeu melhorar a barraquinha e aquilo lá está caindo aos pedaços.
-Pois é, chefia, mas a vida tá difícil mesmo, andei tendo uns problemas sérios. Tive de fazer um acerto aqui de R$ 6 mil para não fecharem a minhas banquinhas – que aliás andam com movimento fraco – e botarem meu pessoal em cana e ainda por cima também com os gringos, sabe como é…
-Então faz o seguinte: daqueles mil, você paga R$120 e o resto a gente empurra para a frente, quatro meses, até você conseguir passar seu pedaço na banquinha… O chinês não quer assumir tudo?
-Falei com ele, mas ele me olhou e disse: “Tem purícia, né? Tô fola”
O diálogo aí é uma forma diferente de contar a história que narra hoje o Valor:
Em apuros financeiros, a concessionária responsável pelo aeroporto do Galeão (RJ) ganhou um alívio de mais quatro meses para honrar seus compromissos com o governo. O consórcio formado por Odebrecht Transport e pela asiática Changi depositará somente R$ 120 milhões do R$ 1,033 bilhão que deveria pagar em outorga à União até sexta-feira. Apesar dos seguidos atrasos para quitar a fatura, o grupo não receberá punição imediata da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que poderia instaurar um processo de caducidade do contrato e abrir caminho para a eventual retomada do aeroporto.
As tais “boas práticas administrativas” são assim. Faz o negócio. Se as coisas não andarem bem, joga a conta nas costas do Estado, que já havia entregue o aeroporto em condições vantajosas.
Capitalismo sem risco é uma beleza!
Tijolaço
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