Alguns amigos e comentaristas políticos tratam a re-renúncia de Luciano Huck como algo que pode ser revertido.
A chance é zero.
Já não havia muitos todos a se pendurarem num pincel do qual já se tirara a escada e, agora, com o repeteco do forfait, não haverá ninguém, a não ser uma meia dúzia de bobinhos inexpressivos.
A Globo pode lhe ter dado um “contra-vapor” agora, temerosa de se ver envolvida nas espertezas empresariais do sujeito, mas não tinha esta posição.
Será que alguém minimamente lúcido acha que a exibição do casal dourado, no início de janeiro, no Domingão do Faustão, se deu sem ordem dos “capo” globais?
Seria ser muito ingênuo.
Havia um plano para fazê-lo candidato e risível a versão de que a Globo o obrigaria a pagar a multa contratual de R$ 150 milhões para se candidatar.
Se a Globo quisesse dizer “não” às pretensões de Huck – e R$150 milhões são um “não mais que sonoro – teria feito antes e de forma muito mais incisiva.]Ela queria e seu séquito midiático também o queria.
As denúncias, feitas aqui, de que ele comprar um jato com crédito subsidiado pelo BNDES e que captara R$ 20 milhões pela Lei Rouanet podem até ter ajudado, mas nem tudo o que eu pudesse nutrir de vaidade daria margem a que dissesse ser decisivo.
O decisivo foi que, quase nado tendo saído na grande mídia, o assunto viralizou.
O Estadão, um dos jornais que nem uma linha publicou sobre a compra subsidiada do jato, “paga o mico” de publicar um estudo da Fundação Getúlio Vargas onde se diz que “o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), e o apresentador Luciano Huck foram destaque no debate sobre os atores políticos nas redes sociais na última semana”.
O prefeito, por conta do suposto muxoxo do sambista Zeca Pagodinho em tirar uma foto a seu lado; Huck, pelo jatinho que, exceção feita a uma nota na Folha, reproduzindo informações, não teve destaque algum.
“Huck apresenta expressiva associação a temas econômicos por conta da repercussão do uso de recursos públicos para comprar um avião. O apresentador foi muito criticado por perfis da oposição, que contrastou o posicionamento liberal de Huck com a adesão a práticas antigas da política e a dinheiro público para adquirir um bem privado”, diz o relatório do levantamento da FGV.
E foram apenas quatro dias de exposição, desde que a informação foi publicada aqui, um site de modesto alcance.
A Globo, que tem pesquisas muito anteriores a esta, sabe do potencial explosivo destas questões e não só sobre Huck, mas dela. Huck não estaria no chororô que lhe descreve Monica Bergamo se a decisão tivesse sido dele.
É preciso conservar a serenidade. Ainda nos virão muitas surpresas.
A hidra tem sete cabeças e ninguém ache que elas vão ser enfrentadas com florete. O combate é bruto e desigual. Ao menor vacilo, o Judiciário lhes será meio de nos impor multas pesadas, às quais não temos condições de sobre viver, enquanto a eles tudo é permitido em nome da “liberdade de expressão”.
Foi muito mais difícil equilibrar a forma de divulgação do que apurar as informações que dei. Um erro e uma sentença viria.
Portanto, nada melhor do que o jornalismo de fatos e – peço perdão a uma leitora de boa-fé que se incomodou com a repetição – temos de martelar, espalhar, compartilhar, disseminar.
Não é a vaidade o que toma este blog, neste instante, é o cansaço. Mil vezes melhor se os fatos não tivessem de ser empurrados, exibidos, balançados na frente de todos. Mil vezes melhor que tivéssemos uma imprensa que, mesmo conservadora, os expusesse.
Não temos, enfrentamos máquinas de propaganda, divisões blindadas que investem sobre o processo de formação da consciência coletiva.
E temos de enfrentá-las.
Tijolaço
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