POR FERNANDO BRITO · 24/05/2018
Janio de Freitas, hoje, detalha a evidência que, ontem, já era possível perceber: o governo nacional entrou em profundo colapso de autoridade e, pior, colapso de perspectivas.
Como o processo eleitoral foi amputado de Lula, todos os diminutos neoprotagonistas de uma eleição sem tendências brigam pelos fiapos de poder que bailam ao vento, diante de um governismo sem chefe e um oposicionismo sem feição.
Janio, com maestria, já resume tido na primeira frase: “Os caminhoneiros param um país parado”.
O que não significa que não irá se mexer. Mais para baixo, ainda.
Greve de caminhoneiros e seus
efeitos são problemas de governo
Janio de Freitas, na Folha
Os caminhoneiros param um país parado. Sua greve atinge o que ainda respira, aos estertores, no dia a dia do país. A lenga-lenga da retomada de crescimento, propagada por uma articulação entre temerosos das eleições e economistas do bolsão neoliberal, já ruíra sob o jorro dos números mais ou menos reais. Como o do desemprego crescente e o da produção industrial em coma.
Greve de caminhoneiros e seus efeitos são problemas de governo. Este, por sua vez, dotado de todos os meios para encaminhar soluções. Eis o que de fato aconteceu: não o governo, mas os presidentes da Câmara e do Senado tomaram a iniciativa de pensar em resoluções que, se capazes de dissolver a greve, ambos fariam aprovar nas respectivas Casas. Presidência, ministérios, Petrobras, trocavam mensagens, marcavam reuniões para o dia seguinte, contrapunham-se em hipóteses e rejeições.
O governo que não chegou a governar proclamou sua inexistência. Temer, o perplexo, fez renúncia branca, com a admitida passagem da responsabilidade do Executivo para o Legislativo. Não foi melhor nem pior para o país, porque, embora melhor que a omissão, foi mais um avanço na bagunça institucional. Como os anteriores, prenúncio de outros.
Mas o passo de Rodrigo Maia e Eunício Oliveira pede cautela na apreciação. Mesmo como resposta devida, e não dada pelo governo, à situação de emergência, é duvidoso que não o inspirasse (também) outra motivação: o proveito eleitoral.
Um, imaginado candidato à Presidência; o outro, já concorrendo ao governo do Ceará. As TVs deram-lhes o ganho, entre grevistas e em mais partes do eleitorado, por sua atitude. São desnecessárias sondagens para saber-se o que Temer recebeu.
Nada muito diferente do que, se lembrado, coube a Henrique Meirelles, agora candidato oficioso do desistente Temer e, até prova contrária, futuro candidato do MDB. O que dá certa força a tal possibilidade é a disposição de Meirelles de pagar sua campanha, deixando a parte que a ela caberia, no Fundo Eleitoral e no MDB, aos candidatos em geral do partido. A cenoura pendente diante do burrico. Mas não só.
A doação da dinheirama ameaça Meirelles de ser mais candidato à cristianização do que à Presidência. Cristianizado, no jargão político, é o candidato que, como Cristiano Machado, se vê sucumbido pela adesão dos correligionários, com a bênção do partido, a outro candidato.
No caso original, o apoio eficaz e indeclarado foi dos políticos do então PSD, de Cristiano, ao favorito e vencedor Getúlio. Engordar os bolsos da campanha e os próprios com a parte alheia não exige acompanhar o doador para o fundo. E, se ele for bem, é só desarmar a traição e viver o pequeno constrangimento de passar por leal.
Tijolaço
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