12 de Setembro de 2018
Por Mauro Lopes
Alguns fatos para que os democratas reflitam sobre os últimos movimentos da cúpula militar e da extrema direita, com adesão de pelo menos um veículo de expressão no universo da mídia conservadora:
1) Aparentemente a foto que o senador Magno Malta lançou nas redes sociais do corte na barriga é verdadeira. É de péssimo gosto, mas ela informa que o corte é enorme, típico de uma operação de emergência, sem preocupação com recuperação rápida ou estética; a cirurgia de emergência a que ele estava sendo submetido no fim da noite desta quarta (12) agrava o quadro;
2) Antes da cirurgia de emergência, a previsão era que Bolsonaro só deveria sair do hospital no fim do mês, à beira do primeiro turno e em condições precárias. A aderência que obstruiu seu intestino delgado é muito mais grave que a distensão abdominal diagnosticada durante o dia, um episódio relativamente corriqueiro em cirurgias do porte da que Bolsonaro sofreu, segundo um médico que consultei. Com a nova cirurgia, o quadro se agrava bem mais e a recuperação fica postergada sem prazo definido;
3) Até a cirurgia de emergência, a previsão era que Bolsonaro sairia do hospital com uma bolsa de colostomia e assim iria para o segundo turno (as pesquisas indicam até agora a maior probabilidade de um segundo turno, a não ser que Haddad arranque e vença no primeiro de uma vez). Até a noite desta quarta, os médicos atendem Bolsonaro afirmavam que seria necessária nova cirurgia em novembro, para reconstruir o trânsito intestinal. Ou seja, ele entraria no segundo turno fragilizado, com enorme dificuldade de enfrentar a campanha e com possibilidade de infecção flagrante. Agora, não se sabe sequer se ele terá condição física de partir para o segundo turno;
4) O jornal O Estado de S.Paulo, atualmente um porta-voz da extrema-direita na imprensa, continua cevando a teoria da conspiração política no episódio da facada;
5) O general Villas Bôas deu o roteiro da narrativa da direita/extrema-direita de que a derrota de Bolsonaro colocará em xeque a legitimidade da eleição. Ele afirmou, e não me parece que seja coincidência o fato de a entrevista ser dada ao Estado de S.Paulo: "O atentado confirma que estamos construindo dificuldade para que o novo governo tenha uma estabilidade, para a sua governabilidade, e podendo até mesmo ter sua legitimidade questionada". A frase abre caminho para um novo golpe -a postura de Aécio ao contestar a legitimidade da eleição de Dilma e o golpe de 2016 como que "naturalizaram" o discurso golpista na vida política;
6) A dança dos militares ao redor de Bolsonaro é intensa. Quem foi visitá-lo no hospital nesta quarta foi o sombrio general Sérgio Etchegoyen, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e o grande articulador da militarização do governo Temer com: a nomeação inédita de um general para ministro da Defesa, a intervenção no Rio, a lei que transfere para a Justiça Militar o julgamento de militares que cometerem crimes contra civis; e a ocupação por militares depostos chaves na Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), na Fundação Nacional do Índio (Funai) e até na Casa Civil da Presidência.
7) Depois da sequência de declarações agressivas dos generais Augusto Heleno Ribeiro Pereira e Hamilton Mourão, o primeiro um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro e o segundo candidato a vice, mais um passo dos militares: nesta quarta, o PRTB entrou com ação no TSE para que Mourão assuma o comando nos debates eleitorais em nome da chapa. Pode ser um pequeno golpe na campanha bolsonarista: a decisão foi tomada ontem, terça, numa reunião PRTB, partido capitaneado por Levy Fidelix, com a presença do próprio Mourão e de outros militares sem que o candidato hospitalizado ou seus filhos tenham sido ouvidos. Com a nova cirurgia, o cenário é nebuloso, mas é provável que Mourão assuma o comando da campanha. A piora de Bolsonaro acentua a instabilidade e abre ainda mais espaço à extrema-direita fardada sob comando direto dos generais.
A sequência de eventos indica novo salto no protagonismo político da cúpula militar tanto da reserva (Mourão e Heleno) como da ativa (Villas Bôas e Etchegoyen). Situação é preocupante. Há uma tempestade em preparação no horizonte.
Pode ser que os ventos da democracia a dissipem, mas as nuvens estão ficando mais carregadas.
Brasil 247
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