quinta-feira, 3 de junho de 2010

Dilma Rousseff: "Intelectuais têm que pensar o Brasil"

Dani Tristão e Sônia Montenegro com Dilma Rousseff



Em encontro com intelectuais, políticos e artistas, segunda-feira (31), no Rio de Janeiro, a pré-candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff reafirmou seu compromisso com a educação de qualidade e a valorização do magistério. Dilma também prometeu investir na melhora da formação e no aumento do patamar salarial dos professores, e fez um apelo por um maior envolvimento da Academia na elaboração de suas políticas de governo.
Na presença de cerca de 300 intelectuais, artistas e políticos que lotaram o auditório de um hotel em Copacabana na noite de segunda-feira (31), a pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, assumiu o compromisso de, caso vença as eleições, ampliar os esforços governamentais para garantir educação de qualidade no país em todos os níveis. Dilma também prometeu investir na melhora da formação e no aumento do patamar salarial dos professores, e fez um apelo por um maior envolvimento da Academia na elaboração de suas políticas de governo.

“Nós temos um projeto de nação. Mas, sabemos que esse projeto, para ganhar corações e mentes, precisa necessariamente envolver os intelectuais desse país. Os intelectuais têm que pensar o Brasil, têm que teorizar o país, criticar e apresentar alternativas. Nós [no governo] não sentamos para discutir com uma alternativa prontinha. Nós fazemos vários projetos na base de uma discussão ampla e sistemática com os setores que serão beneficiados. Nós não iremos avançar nessa direção se não tivermos a participação de todos vocês intelectuais”, disse a pré-candidata petista.

Dilma ressaltou que no meio acadêmico, assim como em outros setores, estarão em jogo nas eleições de outubro duas visões distintas para o Brasil: “Essa participação [dos intelectuais] hoje, é óbvio, disputa dois projetos. A tentativa de desconstruir, suavizar ou borrar as diferenças é uma arma política [da oposição], mas não acho que ela dure muito tempo. Acho que haverá uma tendência, no decorrer da campanha, para um confronto mais claro e mais aberto das diferentes posições. A nós interessa que essas visões do Brasil sejam debatidas, discutidas e levadas adiante”, disse.

A petista afirmou ainda que cabe aos intelectuais identificados com o projeto de nação do atual governo impulsionar para que este se aprimore a cada dia: “Queremos mudar esse país, e temos uma grande, uma imensa vantagem. As esperanças que nós construímos são esperanças fundadas, que têm base real. Não são esperanças de promessas vãs, mas sim esperanças de quem fez, sabe o que fazer e sabe como fazer. Somos também diferenciados em outro aspecto, pois somos aqueles que têm o grande desafio de superar a si mesmos. Conto com vocês para que todos nós superemos a nós mesmos e construamos essa grande esperança. Esse país mudou, e não vai voltar atrás”, disse Dilma, que recebeu demorados aplausos da platéia.

A situação dos professores brasileiros também foi citada pela pré-candidata: “O centro da educação de qualidade é o professor. Isso significa que não pode ter professor no Brasil sem curso superior. Não haverá ensino básico, fundamental ou médio de qualidade se o governo não tiver a obrigatoriedade de formar professores no ensino universitário brasileiro, e ele tem que ser de qualidade. Por isso nós fizemos o piso nacional do magistério, pois outra necessidade, também muito importante, é a questão da remuneração de qualidade”.

Dilma defendeu a política do atual governo de ampliar os investimentos em educação: “A oposição gosta de fazer confusão entre custeio e investimento. Existem gastos de custeio que são pré-requisitos para um investimento adequado. Pagar bem o professor e gastar em educação é um pré-requisito. Não há política de competitividade se você não apostar na qualificação de suas universidades. Nós não vamos gerar inovação sem pesquisa básica. Sem a formação de engenheiros, matemáticos e físicos, nós não produziremos inovação no montante adequado”, disse.

Mais debates

Organizador do encontro de Dilma Rousseff com os intelectuais, o sociólogo Emir Sader afirmou a necessidade de “se realizar dezenas e dezenas de debates similares em todo o país, de forma a ajudar a refletir sobre a natureza da campanha”. Reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira apontou os setores da educação e da ciência e tecnologia como “pontos onde o governo acertou” e afirmou que “as universidades federais vivem um momento excepcional”.

Teixeira, no entanto, ressaltou a necessidade de impedir eventuais recuos: “Nós que vivemos dentro da universidade os oito anos do governo anterior sabemos do impacto trazido pelo atual governo. A universidade brasileira está se transformando. Quando eu assumi a reitoria há sete anos, o orçamento da UFRJ era de pouco mais de R$ 40 milhões, sem um centavo para investimento. Neste ano de 2010, ele é superior a R$ 200 milhões, com R$ 30 milhões destinados a investimento”, disse.

O reitor da UFRJ lembrou que, com cerca de 14% dos seus jovens cursando a universidade, o Brasil ainda tem um longo caminho a trilhar: “Esse percentual é menor do que a metade da média na América Latina, que é de 32%. Nos países mais desenvolvidos, o percentual médio de alunos matriculados no ensino superior chega a 70%. Mesmo que o Brasil dobre sua população estudantil nas universidades públicas, ainda haverá muito a avançar. Portanto, não podemos correr o risco de voltar atrás, voltar à situação da década passada, quando os investimentos em educação no Brasil apenas caíam”.

Ricardo Vieiralves, que é reitor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), também, defendeu a continuidade dos projetos do atual governo e afirmou que “a política do iô-iô não é mais aceitável” nas universidades públicas: “A universidade brasileira vive oscilando entre a bonança e a pobreza absoluta. Nós precisamos de uma política constante de investimento que nos dê capacidade de planejamento em longo prazo”, disse.

“Fizemos história”

Entre os presentes ao encontro com a pré-candidata petista, estavam personalidades como Cândido Mendes, Hugo Carvana, Saturnino Braga e Perfeito Fortuna, entre outros. Também marcaram presença os ministros Juca Ferreira (Cultura), Nilcéia Freire (Secretaria de Mulheres) e Marco Aurélio Garcia (Secretaria de Relações Internacionais), o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e o presidente da Petrobras Biocombustível, Miguel Rossetto. Em clima de campanha, também estiveram no encontro algumas das principais figuras do PT carioca, como Lindberg Farias, candidato ao Senado, os deputados Alessandro Molon, Antônio Carlos Biscaia e Luiz Sérgio e os secretários de governo estadual Jorge Bittar e Benedita da Silva, entre outros.

Além das questões específicas ao setor de educação e cultura, Dilma Rousseff também apresentou pontos de seu programa de governo relativos a áreas como agricultura, meio ambiente, desenvolvimento industrial, política externa e redução das desigualdades sociais: “Há alguns anos, com o predomínio do pensamento neoliberal, diziam que as utopias haviam acabado, que era o fim da história. O governo Lula provou o contrário. Nós fizemos história e queremos continuar fazendo. Por isso, é preciso ficar claro que somos completamente diferentes de nossos antecessores”.

Fonte: Carta Maior

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