por Mauricio Dias — publicado 23/05/2015 09h00
A presidenta poderia moderar os efeitos do ajuste fiscal, mas já no início da batalha deu ordens para o toque de recuar
Roberto Stuckert Filho /PR
A opção de Lula por ela foi um acerto ou um erro ?
Um fato inarredável, incapaz de ser negado mesmo pelas forças mais atrasadas da direita, é o de que em todo o mundo, o Brasil incluído, foi a reação dos grupos de esquerda e o protestos de trabalhadores os responsáveis pela introdução das questões sociais na pauta organizada pelos liberais.
Embora na teoria e na prática muita coisa tenha mudado desde então, outras tantas permaneceram à espera de solução. É o caso da população relegada à miséria. Enquanto esse paradigma da injustiça social não for expurgado pelo seu inverso, a justiça social, os miseráveis estarão incluídos nas lutas das esquerdas.
Foi assim, assim continua sendo, assim será.
Diante disso, qual seria o rótulo possível de ser colado nesse claudicante início de segundo governo de Dilma Rousseff?
Abalroada por dupla crise, política e econômica, a presidenta não tem condições de fazer um governo legitimamente de esquerda. Nem Lula conseguiu. Com ele, entretanto, os programas sociais mantiveram o viés do compromisso histórico.
É preciso considerar que o criador é diferente da criatura. Dilma é a teoria. Lula é a prática. Ela reagiu à ditadura, antes dele, com armas. Ele reagiu com greves.
Dilma não é do ambiente político. Isso é ruim para quem alcança o poder. Não curte o poder. Prefere a gestão. A opção de Lula por ela foi um acerto ou um erro?
Nas circunstâncias de agora, Dilma titubeou diante do rumo a tomar. Em vez de avançar deu ordem ao corneteiro para tocar em retirada.
A partir daí o governo ancorou. Não navega. Está encalhado nas águas da ortodoxia econômica formada, entre outros caminhos, por medidas provisórias. Eis um pouco do conteúdo da pauta do ajuste:
A 663 limita a 50 bilhões de reais os recursos repassados pelo governo ao BNDES. A 665 restringe acesso ao seguro-desemprego e ao abono salarial.
Além disso, haverá cortes profundos no Orçamento, em torno de 80 bilhões de reais, com retenção de despesas não obrigatórias como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e gastos com o programa habitacional Minha Casa Minha Vida.
O ajuste fiscal, ao mirar cortes mais profundos nas medidas de proteção aos trabalhadores, abriu o caminho inspirado pela ortodoxia econômica. A reação contra isso surgiu entre os aliados, principalmente nas centrais sindicais, e no PT. O partido, desordenado, dividiu-se.
Um manifesto vigoroso “pela mudança na política econômica e contra o ajuste”, avalizado por 11 senadores da base do governo, põe em rota de colisão a ortodoxia usada pelo governo e a heterodoxia sugerida no documento.
Na argumentação, o manifesto cita dados do Dieese que, com a aprovação da MP 665, 4,8 milhões de trabalhadores não poderiam acessar o seguro-desemprego, a partir de 38,5% do total de demitidos sem justa causa em 2013, e quase 10 milhões perderiam o abono salarial.
Segundo o economista Amir Khair, especialista em finanças, a taxação de imposto sobre grandes fortunas poderia render até 100 bilhões de reais por ano.
O manifesto põe o desenvolvimento como “aspecto central” da política econômica e a cabeça do ministro Joaquim Levy a prêmio.
Carta Capital
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