domingo, 24 de maio de 2015

O grande mico da coluna Aécio

24 de maio de 2015 | 14:53 Autor: Miguel do Rosário




Reproduzo abaixo mais uma instigante análise do jornalista Luciano Martins Costa, colunista do Observatório da Imprensa.

Mas antes acrescento alguns comentários, para mostrar que esta “coluna Aécio” do impeachment chegará desmoralizada à Brasília em vários níveis:

1) Primeiro porque não reuniu ninguém ao longo do caminho. Pelo contrário, os “vinte” que iniciaram a marcha foi reduzida a menos de meia dúzia. Provavelmente, ao chegar em Brasília, os partidos de direita e seus movimentos irão acrescentar mais gente. A Força Sindical, que apoiou o projeto de terceirização, já mostrou, por exemplo, que está apostando alto no golpe. Mas durante o trajeto, não empolgaram.

2) A Lava Jato está desmoralizada pela irresponsabilidade dos procuradores e do Sergio Moro. Abusou-se, incrivelmente, da delação premiada, que serviu muito mais de arma política e midiática do que para se obter provas.

3) A conjuntura econômica melhorou sensivelmente. O governo está conseguindo aprovar o ajuste fiscal no Congresso, sendo que incluiu agora os bancos, reduzindo um pouco a insatisfação de sua base. A China anunciou um plano Marshall para o Brasil que deve injetar centenas de bilhões de reais em tecnologia e infra-estrutura. A Petrobrás registrou lucro muito maior do que esperava o mercado.

4) A deflagração de uma série de operações da Polícia Federal, contra a sonegação, materializa a narrativa de que o governo Dilma combate a corrupção mais do que qualquer outro. E não só combate, como dá autonomia total à Polícia Federal para agir, e não faz acordos espúrios com o Ministério Público ou com a Procuradoria Geral da República. Autonomia esta que, infelizmente, alguns setores procuram explorar para transformar investigações criminais em conspirações políticas, mas isso é outra história.

5) Ainda sobre as operações contra a sonegação, agora fica bem claro que a nossa mídia é incrivelmente cínica. Diante de esquemas de desvios de dinheiro púbico que superam qualquer outro escândalo nacional, ela vira a cabeça para o outro lado. Não há editoriais, infográficos, repercussão, reportagens no Jornal Nacional, manchetes, Fantástico, nada. Quando o assunto é sonegação, tenta-se abafar. Eles dão a notícia, mas sem destaque e sem repercussão.

6) O PSDB virou partido de paneleiros e golpistas mas os tucanos não são loucos (ainda). Entenderam que não há base legal para impeachment e por isso desistiram desse caminho. Com isso, Aécio se tornou alvo do ódio da própria ralé golpista que criou. Tem sido xingado nas redes de “arregão” por figuras políticas tão expressivas como o “Batman das manifestações”…

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O ‘mico’ da ‘coluna Aécio’

Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa.

A Folha de S. Paulo anuncia em nota na sua primeira página, na edição de sexta-feira (22/5): “Grupos anti-Dilma dizem que PSDB e Aécio são traidores”. O Estado de S. Paulo, em reportagem interna sobre o mesmo tema, informa: “Grupos se dizem traídos por tucanos”.

A imagem que ilustra o texto do Estado mostra doze – isso, exatamente uma dúzia – de manifestantes que caminham pela Rodovia Anhanguera, com destino a Brasília, onde pretendem fazer sua pregação em favor do impeachment da presidente da República. Quando saíram de São Paulo, no fim de abril, os integrantes da marcha foram estimulados por líderes do PSDB, que imaginavam uma espécie de “coluna Prestes” invertida, a recolher, pelo caminho, milhares de cidadãos descontentes com o governo, numa chegada triunfal à rampa do Planalto. Mas, como no poema de Hesíodo, as relações entre os homens e os deuses devem se submeter ao crivo da verdade, e esta nem sempre se manifesta como desejam os humanos.

Entre o fim de abril e esta última semana de maio, a expectativa do grupo de manifestantes, estimulada por discursos inflamados do senador que perdeu a eleição presidencial em 2014, não foi justificada pelos fatos. O descompasso entre os trabalhos políticos e os dias de marcha acaba por produzir a ruptura entre os doze aloprados que imaginam reverter a decisão das urnas e os oportunistas que os apadrinharam.

Por sugestão do jurista Miguel Reale Jr., convocado a emitir parecer sobre a proposta do impeachment, os líderes do PSDB acharam melhor ingressar com processo contra a presidente Dilma Rouseff na Justiça comum, talvez confiantes na ação dos julgadores que o poeta grego chama de “comedores de presentes”. Mas o Judiciário, já embaraçado com a interferência do Congresso em suas atribuições, não dá sinais de que irá acolher tal petição.

Representantes dos grupos que pedem a interrupção do mandato da presidente da República teriam ouvido na semana passada, na capital federal, promessas de parlamentares do PSDB e de outros partidos de oposição de que entrariam com o pedido formal de impeachment assim que os marchadores alcançassem a Praça dos Três Poderes. Desde quarta-feira (20/5), a uma semana da chegada da marcha a Brasília, prevista para o dia 27, a página do Movimento Brasil Livre, um dos grupos que organizam o protesto, exibe um quadro dizendo que o senador Aécio Neves traiu a causa (ver aqui).

Ignorância política

Segundo o Estado de S.Paulo, líderes do PSDB avaliam, reservadamente, rever a estratégia de apoiar explicitamente a marcha, quebrando a promessa de dar um caráter apoteótico à sua chegada a Brasília.

O ex-deputado federal Francisco Graziano, assessor do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, disse à Folha de S. Paulo que entende a frustração dos que querem o impeachment, mas considera que “atacar Aécio, FHC ou o PSDB mostra ignorância política”. De repente, os tucanos descobrem que meteram a mão em cumbuca.

Restará aos protestadores, certamente, o apoio do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e talvez a presença do deputado Paulo Pereira da Silva (SDD-SP), cujas biografias não justificam os cuidados que precisam ter os líderes do PSDB.

O principal partido de oposição embarcou na aventura dos golpistas pela mão do senador Aécio Neves, que foi demovido do plano de impeachment pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na semana passada. Agora, precisa de um discurso consistente para evitar o constrangimento de se haver associado aos aloprados que seguem para Brasília.

Não se pode prever o que irá ocorrer na capital federal na quarta-feira (27/5), mas certamente não será a grande festa cívica que esperavam os organizadores do protesto. Nesse período, o núcleo principal das propostas de ajuste econômico já terá sido aprovado, ou uma nova agenda estará acertada entre o Executivo e o Congresso Nacional.

Analistas acreditados pela imprensa já registram uma redução das tensões entre os poderes, que vêm sendo estimuladas pela mídia desde a posse da presidente Dilma Rousseff em segundo mandato.

A decisão da presidente, de elevar a alíquota da Contribuição Social sobre o lucro líquido dos bancos, tende a reconciliá-la com parte de seu eleitorado, pela simbologia da medida, combinada com a manutenção da carência de um mês para pagamento de abono salarial, que beneficia os trabalhadores.

Tudo de que os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, não precisam, neste momento, é barulho de manifestantes. O “mico” do impeachment fica com o PSDB, que vai ter que explicar, daqui para a frente, se considera que eleição é para valer ou se, nas próximas disputas, caso venham a ser derrotados novamente, os tucanos irão outra vez mobilizar a “coluna Aécio”.


Tijolaço

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