8 de agosto de 2015 | 03:15 Autor: Fernando Brito
O Estadão publica a narrativa de um delegado da Polícia Federal sobre a reação do vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, presidente da Eletronuclear,à chegada da Polícia Federal em sua casa.
É descrita como “violenta”, mesmo sendo a de um homem de 76 anos. E quem tem 76 anos ou um ente próximo nesta idade sabe que é difícil chamar de violência qualquer reação de alguém tão fragilizado fisicamente.
É bom pensar em como uma equipe da Polícia Federal, já admitida em sua casa (como fica claro quando o delegado diz que “a equipe sacou suas armas e se abrigou nos demais cômodos”) mandou abrir a porta ou esta seria arrombada.
Não há nenhuma menção a tentativa de diálogo – “Almirante, eu sou o delegado Fulano de Tal, e tenho aqui um mandado de prisão e outro de busca e apreensão, e gostaria que o senhor colaborasse com as ordens que temos de cumprir”, por exemplo – e sim um “abre ou vamos arrombar”.
Ao melhor estilo do que nossa polícia está acostumada a fazer.
Não é despropositada a reação de um militar de 76 anos, ameaçado assim em sua própria casa, com dois chutes na porta de seu quarto, reagir dizendo que “meteria bala”.
Ao contrário, é o que faria um oficial digno e corajoso, que não se assusta com gritos.
Agora, imagine a cena: meia dúzia de policiais, fortemente armados, já no inteiro controle de um apartamento, diante da resistência verbal de um homem de idade provecta têm como única atitude ” desferir dois chutes na porta”, como não dispunha de ferramentas.
Se o Almirante Othon estivesse mesmo reagindo com violência, com a arma e a experiência de usá-la que sua condição de militar dá, tivesse mesmo “metido bala”, teríamos a esta altura dois mortos, pelo menos, senão mais, como uma arma automática – uma pistola – poderia fazer entre os próprios policiais, pois os alvos, na passagem pela porta, são fáceis de atingir por quem sabe atirar.
Portanto, a possibilidade de que ele estivesse mesmo armado seria mais uma razão, além de todas, para uma ação ponderada, não um meter o pé na porta.
Uma tragédia estúpida, a pique de ser provocada por gente estúpida.
Dá para entender que sejam policiais treinados para atirar só em ultimo caso? Dá para entender que ainda que fosse um bandido comum, encurralado, não seria assim que se deveria agir? Dá para aprender isso só assistindo seriado policial, desde que não seja aquele do Charles Bronson. Que perigo de fuga havia ali? Em que prejudicaria a missão policial gastar dez minutos argumentando, oferecendo garantias de integridade, agindo com calma?
Tanto é assim que, em seguida, o almirante,, como o próprio delegado registra em seu relatório, que o “cumprimento do mandado seguiu sem problemas, tendo senhor Othon Luiz Pinheiro da Silva auxiliado em tudo que lhe foi solicitado, tendo, inclusive fornecido senha de acesso seu computador combinação do cofre do imóvel”.
Aliás, nem sequer se cogitou de convocá-lo a depor, a apresentar documentos, a explicar as acusações que lhe são feitas. Ou será que acham que o Almirante ia fugir, ia fazer uma reunião com empreiteiros que estão presos para forjar uma história? Como, se já tinham – ou dizem que tinham – as provas materiais de seus favorecimentos?
É a era da meganhagem, do promotor que combina com o juiz e chama os policiais para lhes dizer: “vai lá e prende aquele filho da p…”
Nós, que aprendemos que não é aceitável que militares ajam assim contra qualquer pessoa não podemos aceitar que um delegado de polícia aja assim contra um militar, sobretudo um de idade provecta.
Mas há algo que me impressionou bem na atitude do Almirante Othon. É que reagir não é apenas um ato de coragem – talvez insana, em tais condições – mas também de dignidade. Não significa que seja, por isso, inocente, mas é certamente um sinal de honradez, destes que brotam sem controle de nosso interior.
Os canalhas, pode reparar, são todos mansos diante da força.
Tijolaço
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