A partir da correta decisão do Governo federal em 2010, de mudar o regime de exploração do Pré- Sal, quando se atribuiu à Petrobrás a condição de operadora única, com percentual mínimo de 30% de participação nos blocos, a empresa passou a ser alvo de sistemática campanha para desqualificá-la e desvalorizá-la. Artigos como o publicado no jornal Valor em 22 de janeiro último, sob o título “A hora da verdade – reinventar a Petrobras” têm esse propósito, para que o Pré-Sal possa ser capturado pelas petrolíferas privadas mundiais. Basta observar a euforia do CEO da Shell diante da notícia que o Governo estaria disposto a flexibilizar as regras de exploração do Pré-Sal.
Os articulistas, dois ex-membros do Conselho de Administração da Petrobras, ambos representando acionistas minoritários predominantemente estrangeiros, qualificam a situação da empresa como dramática. Seus problemas teriam começado há mais de dez anos, mas a “insustentabilidade” só ficou evidente aos primeiros sinais de queda dos preços do petróleo.Apontam quatro problemas: 1) política de preços suicida; 2) plano de investimentos
“megalomaníaco”; 3) estrutura ideológica de protecionismo (conteúdo nacional); 4) aparelhamento
de parcelas da companhia.
Os articulistas não levam em conta a importância estratégica da Petrobras para o desenvolvimento do Brasil, desde a sua criação em 1953. Esquecem que, ao longo do tempo, contrariando os críticos, a empresa descobriu óleo e gás em escala crescente e capacitou-se a refinar todo o petróleo consumido no país. E que, em seu entorno, constituiu-se um expressivo contingente de fornecedores, projetistas, empreiteiros e montadores, gerando centenas de
milhares de empregos.
Por isso, criticam a política de preços. Almejam, sem dizê-lo, que eles estejam sempre alinhados aos preços internacionais para maximizar lucros, e não aos custos de produção, como deve ser em uma empresa estatal, para que os derivados, indispensáveis às atividades econômicas, tenham preços módicos. Não obstante, têm razão em criticar o congelamento de preços imposto pelo Governo federal à empresa, apesar de por ela alertado das indesejáveis conseqüências, pois a importação de combustíveis a preços maiores que os praticados no mercado interno causou-lhe grande prejuízo, além de desorganizar a produção de etanol no país.
A “megalomania” a que se referem possibilitou à empresa reverter a trajetória declinante iniciada após a quebra do monopólio em 1997. Os vultosos investimentos realizados após janeiro de 2003 criaram centenas de milhares de postos de trabalho em toda a ampla cadeia produtiva do setor deóleo e gás, possibilitaram o desenvolvimento de conhecimentos científicos, geraram novastecnologias, criaram mais oportunidades para as empresas de engenharia nacionais e estrangeiras aqui instaladas. Devolveram à Petrobrás seu papel histórico, o de ser um dos principais esteios do desenvolvimento econômico, social e tecnológico autônomo de nosso País.Produziram extraordinários resultados entre 2003 e 2013, atestados por rigorosas auditorias, atendendo às normas da SEC norte-americana (não nos esqueçamos que as ações da empresa são, desde a abertura do monopólio, negociadas em New York).
Quando investem contra a “estrutura ideológica de protecionismo”, os articulistas deixam clara sua posição contrária à exigência de percentuais crescentes de conteúdo nacional nas encomendas feitas pela Petrobrás. O argumento é simplório: produzir no Brasil é mais caro que no exterior. Não consideram a grande oportunidade trazida pelo Pré-Sal. Construir essas unidades no Brasil trará significativo aumento em nossa capacitação naval no setor petrolífero mundial, que se voltará inescapavelmente para aquelas lâminas d’ água, que são a última fronteira geológica prospectiva para hidrocarbonetos no planeta.
Amanhã: Por que a Petrobras deve? Porque tem petróleo para tirar.
(*) Pedro Celestino é Presidente do Clube de Engenharia.
Tijolaço
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