30 de Outubro de 2017
Por Tereza Cruvinel
Estava claro que a primeira pesquisa IBOPE sobre a disputa presidencial de 2018, divulgada neste domingo, ao revelar o favoritismo do ex-presidente Lula, provocaria alguma reação de seus adversários. Se na política eles não podem responder no curto prazo, na frente econômica o mercado foi rápido no gatilho. O índice Bovespa interrompeu uma sequência de altas e abriu em viés de baixa nesta segunda-feira, e o dólar subiu para R$ 3,252, depois de ter recuado 1% na cotação de sexta-feira. São sinais, ainda que incipientes, de que as forças da banca financeira podem reeditar em 2018 a manobra do “risco Lula”, um verdadeiro ataque especulativo contra o país, sintonizado com o crescimento ininterrupto de Lula na disputa presidencial de 2002.
Naquele pleito, embora o Brasil houvesse quebrado três vezes na Era FHC, a cada salto de Lula nas pesquisas eleitorais o mercado respondia com alta do dólar e quedas na Bolsa, movimentos que eram atribuídos ao terror do mercado com a possibilidade de sua vitória. O especulador global George Soros criou um indicador maligno, o “lulômetro”, que mediria o impacto do risco de sua eleição. Os ataques foram contidos com o lançamento da “Carta ao Povo Brasileiro”, em que Lula se comprometeu a manter os fundamentos macroeconômicos (câmbio livre, metas de inflação e superávit primário) e a honrar os contratos do Estado brasileiro. FHC, é devido reconhecer, também contribuiu para mitigar a situação ao reunir todos os presidenciáveis no Planalto para expor a situação, o que permitiu uma espécie de pacto pela estabilização.
Muitas coisas são bem diferentes neste final de 2017. Graças exatamente a Lula e Dilma, o Brasil dispõe hoje de reservas cambiais de US$ 380 bilhões, ao passo que em 2002 o havia sido socorrido por empréstimos do FMI, que passou a monitorar a economia e sua vulnerabilidade externa. Hoje, apesar desta boa situação das contas externas, a economia segue em recessão, abalada pelas incertezas criados pelo golpe, depois de ter experimentado o ciclo virtuoso de crescimento sob Lula. O primeiro compromisso de Lula é exatamente o de recolocar o país na trilha do crescimento, com inclusão e distribuição de renda. Uma reedição do “risco Lula” não encontraria respaldo na experiência bem sucedida de seus dois governos mas pode ser uma das poucas armas que restaram aos adversários do ex-presidente, diante da evidência de seu favoritismo, da ocupação do segundo lugar pelo indesejado Jair Bolsonaro e do sofrível desempenho de candidatos liberais como Alckmin, Doria e Huck.
Jogar com o “risco Lula” pode ser uma tática que permitiria ao bloco conservador ganhar tempo na busca de um nome competitivo (embora seja tarde para seu surgimento) ou da alavancagem artificial de um dos nomes já colocados.
Brasil 247
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