DOM, 29/10/2017 - 11:33
ATUALIZADO EM 29/10/2017 - 13:27
“A raiva é filha do medo e irmã da covardia”, Chico Buarque, citado por Luís Roberto Barroso
A cultura popular brasileira consagrou alguns termos para descrever a maldade, entendida como o ato de praticar maldades.
Categoria 1 - Há os fundamentalistas, para quem o castigo é uma forma de purgação dos pecados.
Categoria 2 - Há os justiceiros, que se escondem atrás de um álibi legal para perpetrar as piores maldades.
Serve para o motorista que vê um ciclista atravessando o sinal vermelho e entende que tem o amparo da lei para atropelar o infrator. E serve, hoje em dia, para muitos procuradores e juízes.
Categoria 3 - Há os linchadores, que, amparados pelo grupo ou pela instituição, se comprazem em chutar os adversários caídos. Nas brigas de torcida organizada, ou nas manifestações políticas, esse papel, em geral, é exercitado pelo integrante mais fraco e mais inseguro do grupo.
Categoria 4 - Há um grupo específico que, na linguagem popular, são taxados de "filhos da puta", um termo impróprio para descrever aqueles que se comprazem com a maldade gratuita. Pensei nessa designação quando ouvi o procurador se jactar de ter pedido a condução coercitiva de Marisa Lula, mas o juiz Sérgio Moro ter negado por ter coração mole com mulheres.
Categoria 5 – e há aqueles magistralmente definidos por Chico, cuja raiva é filha do medo e mãe da covardia.
A frase não cabe em Gilmar, para quem foi dirigida. Gilmar é o homem mau que tem objetivo – a defesa dos seus -, método – pular de galho em galho da jurisprudência dependendo das circunstâncias – e tem alvo. É vingativo (estão aí as ações que me move), mas não desperdiça maldades, não é a vingança pela vingança. É o método dos coronéis, de impor medo, quando não impõe respeito, para não perder o poder de intimidar.
Já o juiz Bretas é a personificação da definição de Chico, que já nasce clássica.
Sérgio Cabral é o mais deplorável dos homens públicos arrastados pelo turbilhão da Lava Jato. Deslumbrado, sem limites, personificando a cena clássica desses tempos de lambança – a tal dança dos guardanapos, em Paris -, no entanto agora é um preso comum, sem regalias, com a imagem destroçada, cumprindo pena. É um farrapo.
Esse farrapo de gente, na frente de Bretas, ousou um minuto de desabafo.
Imediatamente, manifestou-se a raiva, mãe da covardia, mas filha de quem? Bretas ordenou o envio de Cabral para um presídio de alta segurança em Campo Grande, para onde são enviados marginais que significam riscos para a vida humana. Não pensou na família, nos filhos, nos parentes. Com a ajuda de um procurador que tentou criminalizar até visitas de filho ao pai, deu o veredito final, alegando que se sentiu ameaçado.
Mais que isso, e aí levantou dúvidas sobre as razões do medo. Não apenas deu o veredito, como imediatamente tratou de pedir apoio da AJUFE (Associação dos Juízes Federais). O medo se transformou em pânico.
Tudo isso, leva à questão central: qual o medo de Bretas que o levou à covardia. Até agora, o único indício é a menção aos negócios de sua família.
Relembre a cena: Sérgio Cabral entrando na sala e taxando Bretas de parcial, de injusto. Certamente seria admoestado pelo juiz, que até poderia ordenar a interrupção da sessão. Mas jamais tomaria a mais drástica medida que tinha à mão: o envio a um presídio de segurança máxima, em total isolamento. Portanto, não foi a atitude de Cabral que deixou o juiz em pânico: foi o conteúdo.
Em nenhum momento Cabral o ameaçou. Disse ele:
- Vossa Excelência já me condenou em duas ocasiões, uma em 45 anos e outra em 13 anos. Percebe-se, a partir dessas condenações, que vossa excelência não acredita em mim. Comprei joias para minha mulher em datas comemorativas.
Depois, explicou ao juiz que ninguém compra joias para lavagem de dinheiro porque basta sair da joalheria para as jóias perderem valor. E lembrou ao juiz que sua família tinha uma loja de bijuterias e, por isso, ele tinha conhecimento do que estava falando.
Bastou isso, para instaurar o pânico.
O medo e a covardia de Bretas empinaram um enorme balão, que ficará pairando no ar, à espera de alguém que vá furá-lo.
Jornal GGN
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