POR FERNANDO BRITO · 02/02/2018
Como na frase famosa dos comentaristas de futebol, não existe mais time bobo na política.
Não existe, senão como desculpa, essa história de que figuras do Judiciário estariam aconselhando Lula a adotar uma política mais branda e a não questionarem o Judiciário, depois que o Judiciário, numa atitude belicista, condenou, agravando a pena, o ex-presidente.
Quem quer acordo não enfia a espada no adversário.
A corporação está decidida a usar a força e a autoridade contra o ex-presidente e ele só tem como arma a legitimidade de sua representação do sentimento popular.
Não adianta Lula apresentar-se como “moderado” e “bonzinho”, por mais que o seja e que seus governos o tenham mostrado. Inclusive indicando seus atuais algozes para os cargos que ocupam na Justiça.
Salvo os piores e os melhores caráteres – e os primeiros são mais abundantes no gênero humano que os segundos – assim que nomeados, juízes das cortes supremas passam a ser regidos pela mídia e pela corporação judicial, não pelos que os indicaram.
Não me perderei em exemplos, tantos que são.
Mas isso não os faz burros, ainda que os faça, no mais das vezes, cínicos.
Os ministros do Supremo sabem que Marcelo Bretas, com seu auxílio-duplex, fez mais danos à imagem do judiciário que as centenas de manifestações de Cristiano Zanin, advogado de Lula, questionando o comportamento da Justiça.
É a lógica do moralismo que se impõe acima de tudo, até que seja ela própria desmoralizada.
Quando olham o Datafolha e veem o deus da mídia, Sérgio Moro, provocar mais rejeição que apoio a uma indicação de candidato, sabem que se enfraqueceram. Idem quando olham o nada eleitoral a que se reduziu o seu ex-deus Joaquim Barbosa.
O problema do projeto de poder supremo do Judiciário que está em curso no Brasil é muito claro e simples: é um projeto sem chefe, cuja liderança pública acaba por ser encarnada por figuras menores, sem autoridade institucional, embora sejam autoridades corporativas, que intimidam, pelo poder que lhes dá a mídia, a dissenção e a crítica interna corporis.
Sim, porque não pensem que os juízes brasileiros são todos energúmenos, microcéfalos de queixo arrogante como os Moro e os Bretas que passaram a simbolizá-los. Mas estão imobilizados por uma ditadura corporativa que tornará “traidores” ou “simpatizantes da corrupção” todos os que levantarem a voz contra abusos e “marquetismos” perpetrados com a toga.
Estas pobres almas olham para cima e vêem um vazio. Enxergam a fraqueza jurídica de Carmem Lúcia e Rosa Weber, a insuficiência de maus-bofes de Dias Tóffoli, a tibieza, embora digna, de Ricardo Lewandowski, o histrionismo cafajeste de Luís Fux, o conservadorismo anacrônico de Celso de Mello, o isolacionismo de Marco Aurélio Mello, a “cabeça de PM”de Alexandre de Morais e, para fechar o quadro, o comportamento fuinha de Luiz Edson Fachin, transmutado do garantismo para o autoritarismo num passe de mídia.
É por isso que, sem liderança moral, a categoria se entrega ao papel de produzir uma carta de natureza sindical onde 17 mil juízes e promotores se tornam cúmplices de uma visão que enxerga a Justiça como um lugar de privilégios, não de equilíbrio e de um acatamento público que, naquela perdida ponderação serena, encontrava a sua razão de ser.
Nem a ditadura fez acontecer na magistratura um alinhamento tão amplo e uniforme a seus ditames.
Viraram,os juízes, uma caricatura, infelizmente, que é o pior papel que já tiveram em toda a sua história como instituição.
E nada melhor para representá-los que uma presidente do STF que, após um alegre convescote com dirigentes de multinacionais, mia rugidos contra os que contestam a Justiça que tem a estes como amigo e ao que tem a simpatia do povo como inimigo.
D. Cármem, não há quem desacate mais a Justiça que o Judiciário.
Tijolaço
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