- 13 de maio de 2018
Eles
Publicado no Facebook de Reginaldo Moraes
Ciro Gomes tenta encarnar uma espécie de novo centro, uma candidatura que promete “despolarizar” o país. Lá no final do ano passado, tanto ele quanto o PDT, diziam que país havia mergulhado no ódio e no espírito do “nós contra eles”, um espírito que atribuíam ao PT. Era o perfil de candidatura que tentariam desenhar como “terceira via”.
É uma tática arriscada – pode ser um grande achado eleitoral e pode também resultar num furo na água. Teria que seduzir muita gente dos “dois lados do ódio”. Não apenas eleitores – ele pode dizer que os eleitores não têm cabresto, mas há, sim, influências que contam.
Algumas delas, como se sabe, contam muito. Ciro teria que atrair parte do PT? Bem, para isso precisaria pelo menos relativizar sua posição de que “o processo foi legal, a sentença foi injusta”.
Como faria tal coisa sem atritar com o judiciário e a mídia? A afirmação é habilidosa, mas talvez não baste. Se ele de fato crê nisso, a sua posição, caso eleito, será um “sinto muito, mas já foi julgado”.
Para golpistas, que não vacilam em acenar com as armas, assumir essa posição é sustentável – todos eles dizem que a prisão de Lula “é um episódio triste” mas se deu dentro do funcionamento normal das instituições. São os termos de gente como Temer ou FHC. Ou Alckmin. Bolzonaro, evidentemente, sequer diz que “é triste”.
Mas é mesmo necessário que Ciro tenha apoio das lideranças petistas? Ou mesmo de Lula? Talvez não. E parece que ele e seus assessores se deram conta disso. É o que diz Mangabeira Unger, por exemplo. Se é fato que Lula tem influencia sobre o voto de 30% dos eleitores, Ciro pode, sim, dispensar esses eleitores – ou boa parte deles.
Digamos que a direita mais definida (de Bolsonaro a Alckmin) consegue 25% – o que é o cenário atual. Dai, sobram uns 45% sem carimbo. É para esse eleitorado que Ciro, aparentemente, pretende falar, para não depender dos eleitores lulo-petistas.
Mas um lance arriscado de Ciro, ao que parece, é a tentativa de capturar parte dos golpistas, ou neutralizá-los pelo menos. Se conseguir, atrai parte dos eleitores que votaram Aécio no segundo turno de 2014.
Para isso, ele tenta, ao que parece, distanciar-se relativamente do PT e de Lula para atrair eleitores anti-lulistas que julga mais maleáveis. Talvez parte do eleitorado que votou em Marina, na ultima eleição. Talvez parte dos que se abstiveram no segundo turno.
Tenta ganhar eleitores que gravitam em torno do PSDB, do PMDB, do PSB, do DEM e das legendas menores. Porém, se de fato as direções partidárias têm alguma importância, precisaria pelo menos neutralizar as lideranças desses grupos.
Tem que prometer ou acenar a elas com algum “ganho” ou salvaguarda. Para ganhar e para governar. Qual ganho? Dependendo disso, o grande achado eleitoral (possível, sem dúvida) corre o risco de esfarinhar.
Se não promete, não atrai. Se promete demais, corre o risco de virar “mais um” na armadilha do “presidencialismo de coalizão” ou do “parlamentarismo de fato e de farsa” que se instalou com o congresso eleito em 2014. Não vai ser fácil dosar.
De qualquer modo, a não ser que algo mais forte sacuda o cenário, a perspectiva de Lula não é nada alvissareira.
Seguirá condenado e provavelmente preso (em condicional, em casa?). Isso ocorreria, repito, a não ser que algo sacuda os termos atuais. Lula continuaria como está caso vitória seja de Ciro ou caso ela caia no colo dos defensores do “legado do golpe”. Lula não pode esperar grande coisa de qualquer um desses eventuais vitoriosos.
Todos lavarão as mãos e evitarão “governar olhando pelo retrovisor”. Em nome do ‘olhar para a frente” e “despolarizar”, um novo normal se desenharia ou tentaria emplacar. E esse novo normal supõe o desaparecimento político de Lula e do que representa. Não vai ser fácil.
Diário do Centro do Mundo - DCM
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