domingo, 24 de junho de 2018

Só uma CPI para corrigir os rumos da nossa Justiça

23 de Junho de 2018

Por Ribamar Fonseca


Parece que não tem jeito mesmo. Quando se imagina que o Supremo Tribunal Federal começa a comportar-se como uma corte de justiça de verdade, capaz de reparar injustiças e restaurar a confiança e credibilidade do Poder Judiciário, um dos seus ministros volta a agir de modo político-partidário, confirmando o posicionamento da Corte Suprema que, abandonando a sua missão de guardiã da Constituição, acumpliciou-se com os golpistas na destituição da presidenta Dilma Rousseff e na perseguição ao ex-presidente Lula. A decisão do ministro Edson Fachin de retirar da pauta do STF o pedido de libertação do líder petista, arquivando-o em seguida, não deixa dúvidas sobre o complô montado na justiça para banir Lula da vida pública e impedi-lo de concorrer às próximas eleições presidenciais. Surpreendentemente, os próprios ministros do Supremo reconhecem que a prisão do ex-presidente é ilegal mas, por medo de algo poderoso que se esconde nas trevas, não têm coragem de anular a sua condenação sem crime e libertá-lo.

O deputado Paulo Pimenta, líder da bancada do PT na Câmara Federal, a propósito desse comportamento dos magistrados, chegou a postar em seu tweet: "Fico a me perguntar, que interesses poderosos são esses, que agem nos subterrâneos, e que transformam advogados progressistas em Ministros covardes e servis nos tribunais superiores. Chego a pensar se não existe uma inteligência perversa por trás de tudo isso que estamos vivendo?" Com efeito, é estranha a transformação que sofrem os novos ministros quando sentam na cadeira do Supremo, como é o caso de Edson Fachin e Luis Roberto Barroso, que chegaram tímidos e humildes e hoje se revelam arrogantes e partidários, completamente divorciados das leis e da justiça. Será que existe algum vírus naquelas cadeiras que penetram na corrente sanguínea dos novos ministros e os transformam? É claro que nem todos os ministros se deixaram contaminar por esse vírus, mas alguns, como os já citados, parecem confirmar aquele velho ditado: "Quer conhecer o vilão? Dá a ele o bastão".

A justificativa do ministro Fachin para arquivar o pedido de libertação de Lula parece uma piada: o Tribunal Regional Federal da 4ª. Região negou a admissibilidade do recurso do ex-presidente. No seu entendimento, se o TRF-4 tomou essa decisão de não enviar o processo ao STF não haveria motivo no momento para que o Supremo julgasse a medida cautelar sobre o mesmo caso. Ora, se depender daquela Corte de Porto Alegre, que além de confirmar a sentença decretada pelo juiz Sergio Moro ainda ampliou a condenação ilegal para 12 anos sem justificativa legal – apenas para impedir a sua prescrição – é óbvio que o recurso nunca chegará à Suprema Corte. O TRF-4 tem negado sistematicamente todos os recursos da defesa de Lula, inclusive os pedidos para que Tacla Duran seja ouvido em depoimento, o que deixa evidente o seu interesse em proteger algo ou alguém da Lava-Jato, onde, segundo o advogado, haveria operações suspeitas envolvendo as delações e o advogado Zucolotto, amigo do juiz Sergio Moro. O Superior Tribunal de Justiça também negou o depoimento de Tacla Duran. Afinal, do que eles têm tanto medo?

O mesmo ministro Edson Fachin, em outro despacho, determinou o arquivamento, a pedido da Procuradoria Geral da República, de uma investigação que envolve o presidente golpista Michel Temer. A PGR justificou o pedido com o entendimento de que não havia provas suficientes para o prosseguimento das investigações. Por sua vez, a presidente do Supremo, ministra Carmen Lúcia, informou que vai arquivar, também por falta de provas, a investigação da Polícia Federal sobre o envolvimento de ministros da Corte, citados por delatores da J&F. "Não foram encontradas gravações que mostrassem ministros do STF cometendo qualquer ato ilícito", ela disse. Interessante é que também não há provas ou mesmo gravações – sequer há crime – contra o ex-presidente, mas ele continua preso há mais de dois meses, porque todos os recursos da defesa para libertá-lo são negados. O uso de dois pesos e duas medidas para o julgamento de questões envolvendo Lula e Temer ou tucanos é escandaloso. Enquanto contra o líder petista as ações andam a jato, contra Aécio e Temer, por exemplo, andam a passos de cágado, com sucessivas prorrogações das investigações solicitadas pela PGR.

Em recente entrevista a uma emissora de televisão portuguesa, o ministro Marco Aurélio Melo afirmou que Lula está preso ilegalmente, mas acrescentou que a ilegalidade deve ser mantida porque a ministra Carmen Lúcia decidiu não pautar a questão da discussão da prisão em segunda instância até setembro. Alguém consegue entender isso? Eles sabem que a prisão do ex-presidente é ilegal, mas se tornam coniventes com as manobras para mantê-lo no cárcere. Se depender, portanto, desse pessoal, o líder petista vai permanecer na prisão, pelo menos até depois das eleições presidenciais, pois embora todos eles hipocritamente falem em democracia, não admitem a possibilidade de ele concorrer às eleições de outubro. Um só magistrado, o ministro Fachin, com uma única canetada contraria o desejo de milhões de brasileiros. Chega-se à conclusão de que só existem três alternativas para por fim à ditadura da toga e recolocar a justiça nos trilhos da justiça: uma revolta popular, o funcionamento da CPI da máfia das delações ou o surgimento de alguém como o presidente turco Erdogan, que colocou na cadeia todos os que participaram da tentativa de golpe contra o seu governo, inclusive juízes...


Brasil 247

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