QUA, 27/06/2018 - 08:04
ATUALIZADO EM 27/06/2018 - 08:26
Jornal GGN - O jornal O Globo publicou, no dia 20 de junho, um editorial afirmando que a indústria de petróleo é marcado por 'padrão colonial'. A AEPET - Associação dos Engenheiros da Petrobras contesta. E contesta com dados. Em carta assinada por Felipe Coutinho, presidente da associação, a afirmativa de que a Petrobras tem competência indiscutível, e ela pode ser aferida por parâmetros internacionais.
Desqualificar a estatal tem objetivo. Mas é sempre bom relembrar a trajetória de uma empresa que carrega uma moderna indústria petrolífera. Cabe ainda ressaltar, que as cinco maiores empresas do mundo, quatro são estatais, caindo por terra a tese do jornal do 'erro do dirigismo estatal'.
Outro ponto apontado pela AEPET, e que é sempre bom lembrar, é que a Petrobras foi vítima, e não autora, de atos de corrupção. Assim como não custa nada recordar da desastrosa política de preços praticadas pela companhia na gestão de Pedro Parente e a malfadada política de desinvestimentos, entre outros pontos, que não podem ficar de fora de qualquer análise.
Leia a carta a seguir.
Prezado sr. ROBERTO IRINEU MARINHO
Presidente de O GLOBO
Senhor Presidente,
Nossa entidade, de âmbito nacional, reúne mais de 4000 associados de diferentes formações universitárias com profissionais do SISTEMA PETROBRÁS, tem 57 anos de história, dedicada à defesa da PETROBRÁS, de seu CORPO TÉCNICO e da SOBERANIA NACIONAL.
No passado, nos dirigimos a O GLOBO, para levar esclarecimentos, contribuições e nossas opiniões ao debate de temas importantes para o país. Em divergências de opinião com O GLOBO, muitas vezes tivemos acolhidas as nossas ponderações, por orientação do sr. ROBERTO MARINHO.
Mais recentemente, verificamos a mesma orientação, em correspondências enviadas a V.Sa.
Estas considerações nos motivam a comentar o editorial de O GLOBO, 4ª feira, 20.06.2018.
A editorialista expressa visão equivocada quando se refere ao "PADRÃO COLONIAL DO SETOR PETRÓLEO". O Brasil tem, graças ao trabalho da PETROBRÁS e dos brasileiros, uma moderna e pujante indústria petrolífera. Embora nova, com apenas 63 anos, numa indústria de 180 anos, a PETROBRÁS já está entre as 10 maiores petroleiras do mundo. O Brasil tem produção e reservas crescentes, superando três milhões de barris diários de óleo equivalente. É líder mundial na produção em águas profundas. A descoberta do PRÉ-SAL é uma das maiores do mundo, nos últimos 40 anos.
O país tem uma empresa estatal, forte e respeitada.
Quanto ao "intervencionismo estatal, dirigismo", tão estigmatizado pelo articulista, o controle estatal é a norma na indústria do petróleo. Consideradas as 5 maiores petroleiras do mundo, 4 são estatais e entre as 20, são 13. Esta intervenção dos Estados Nacionais tende a crescer, imposta pela importância estratégica do petróleo.
A competência da PETROBRÁS é indiscutível e pode ser aferida por parâmetros internacionais. Ela é reconhecida mundialmente, inclusive por suas concorrentes e pela obtenção de sucessivos prêmios, outorgados por organizações de grande prestígio como a OTC.
Sobre a corrupção, sempre lamentável e intolerável, toda a Nação sabe que a PETROBRÁS - CASA DE GENTE SÉRIA - MOVIDA POR PATRIOTISMO, CIENTE DE SUA MISSÃO, foi vítima de empresários desonestos, políticos corruptos e executivos de aluguel que não souberam honrar a história da Companhia.
Tem absoluta razão o GLOBO quando se manifesta contrário à exportação de óleo cru e importação de derivados. Acrescento, nenhum país do mundo se desenvolveu exportando matéria primas por multinacionais estrangeiras.
Ocorre que as causas de tal situação não são aquelas descritas no editorial de O Globo “o estatismo dirigista” “à corrupção sistêmica” a falta de “definição e execução de um programa estratégico eficiente para o processamento do óleo do pré-sal”.
O parque de refino da PETROBRÁS está ocioso, no 1º trimestre deste ano com 28% de capacidade instalada ociosa, em consequência da política de preços inaugurada pelo sr. PEDRO PARENTE em outubro de 2016 e que culminou com a recente crise de abastecimento com a greve dos caminhoneiros. Os preços altos no mercado interno, alinhados as flutuações internacionais e dependentes do preço externo do petróleo e da cotação do Real diante do Dólar desestabilizaram a economia nacional e trouxeram prejuízos também à PETROBRÁS.
A estatal passou a praticar preços mais altos que os internacionais, apesar de produzir e refinar seu petróleo no Brasil. Os preços altos, em especial do diesel, tornaram lucrativos os negócios da cadeia de importação de combustíveis que puderam, a partir de então, ocupar o mercado da PETROBRÁS vendendo, com garantia de lucratividade, diesel no mercado brasileiro. O resultado foi o encalhe do diesel brasileiro nas refinarias, o que limitou a capacidade de produção das nossas refinarias, chegando a 30% de ociosidade.
A política de preços é a responsável pela exportação de petróleo cru, enquanto se importa derivados e o parque de refino da PETROBRÁS é mantido ocioso. Perdem os brasileiros que pagam mais caro, perde a PETROBRÁS com redução do seu mercado, ganham os refinadores dos EUA, os “traders” multinacionais e distribuidores privados concorrentes da estatal que ocupam cerca de 30% do mercado brasileiro. Temos capacidade de produzir e abastecer praticamente todo o mercado interno, mas a política de preços prejudica o Brasil, é a política que denunciamos desde dezembro de 2017 como “America first!”, os Estados Unidos primeiro!
Erros do passado não justificam erros mais recentes, na gestão do sr. PEDRO PARENTE, mantidas pelo sr. IVAN MONTEIRO, que decidiu por REDUZIR DRASTICAMENTE investimentos no Abastecimento e Refino, limitando-se, tão somente, ao custeio de gastos de manutenção. Equívoco, erro, ainda maior, é a venda anunciada de refinarias já em operação. Na verdade, uma alienação às empresas estrangeiras do mercado brasileiro de derivados, sétimo maior do mundo.
Por que os grupos privados não investem no setor? Não há qualquer impedimento legal, desde a Lei 9478/97, portanto, há mais de 20 anos.
A construção de novas refinarias, ao contrário da venda das que já se encontram em operação, geraria serviços de engenharia, aquisição de materiais e equipamentos, empregos, renda, aumento na produção de refinados, estimulando a nossa economia, hoje em forte depressão.
Se grupos privados não investem, que a PETROBRÁS faça os investimentos! A Nação não pode ficar no aguardo dos interesses e conveniências estrangeiros, como no passado, quando apregoavam não haver petróleo no Brasil e os brasileiros tiveram que, partindo do nada, criar a pujante indústria que aí está.
É descabida a exigência de preços internacionais como condição para os investimentos no refino. Ainda mais estranho é o desejo de impedir qualquer ação do Estado Brasileiro no setor. O que desejam? O acesso ao sétimo maior mercado do mundo e a renúncia do Brasil, a qualquer tipo de controle sobre setor estratégico de nossa economia? Quanto à afirmação de que "a PETROBRÁS chegou a ter a maior dívida corporativa do planeta sem nenhum resultado", também cabem esclarecimentos. Somente no período de 2010/2014 foram investidos mais de US$ 200,00 bilhões, o que permitiu desenvolver as acumulações do pré-sal, descobertas em 2006, cujas reservas podem superar 100 bilhões de barris.
Dívida perfeitamente administrável para uma companhia que, entre 2012 e 2017, tem entre 13,5 e US$ 25 bilhões de caixa, geração operacional de caixa sempre superior aos US$ 25 bilhões por ano e índice de liquidez corrente sempre superior a 1,5. Além de perspectiva de aumento da produção e acesso ao mercado brasileiro que, além de grande, de enorme potencial de crescimento.
As reservas do pré-sal já produzem mais de 1,0 milhão de barris/dia, superam 50% da produção nacional, nível alcançado em tempo recorde, quando comparado com áreas semelhantes como o Golfo do México e o Mar do Norte. Nesta indústria, é sabido que os projetos têm prazo de maturação que podem chegar até 10 anos ou mais. Os resultados aí estão. O próprio GLOBO reconhece que a produção crescerá, extraordinariamente, nos próximos anos.
Na certeza de que estes esclarecimentos merecerão a melhor atenção do ilustre presidente, sendo levados ao conhecimento dos leitores de O GLOBO, renovamos nossas
Atenciosas Saudações,
Felipe Coutinho
Presidente
AEPET - Associação dos Engenheiros da PETROBRÁS
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