terça-feira, 4 de setembro de 2018

CONHEÇA O MONSTRUOSO ORÇAMENTO MILITAR DOS ESTADOS UNIDOS E SUAS CONTRADIÇÕES

O orçamento para 2019 do Departamento da Defesa dos Estados Unidos, vulgo Pentágono (foto), atinge o valor monstruoso de 716 bilhões de dólares, o triplo dos gastos conjuntos da Rússia e da China e sem incluir os investimentos que venham a ser feitos na rubrica de guerra espacial

4 DE SETEMBRO DE 2018 

247, com O Lado Oculto, por José Goulão e Martha Ladesic - O orçamento para 2019 do Departamento da Defesa dos Estados Unidos, vulgo Pentágono (foto), atinge o valor monstruoso de 716 bilhões de dólares, o triplo dos gastos conjuntos da Rússia e da China e sem incluir os investimentos que venham a ser feitos na rubrica de guerra espacial.

Estabelecido sem maiores discordâncias entre os republicanos e os democratas do Congresso, o orçamento militar norte-americano para o próximo ano tem uma designação específica, em homenagem a um padrinho: o senador falcão John S. McCain, um dos maiores responsáveis pela integração dos grupos mercenários terroristas islâmicos, designadamente Daesh e al-Qaeda, nos aparelhos militares que conduzem as guerras de agressão dos Estados Unidos e da Otan, sobretudo no chamado Oriente Médio alargado.

John S. McCain National Defense Act for Fiscal Year 2019 é a designação oficial que democratas e republicanos aprovaram para a lei do orçamento do Pentágono, confirmando que dentro do chamado “Estado profundo” norte-americano existe um conflito estratégico aberto entre a Casa Branca e influentes setores da Defesa e Segurança – um confronto que esbate as fronteiras partidárias e coloca os principais dirigentes democratas do lado das tendências mais belicistas, associadas ao terrorismo.

O valor de 716 bilhões de dólares para o ano de 2019 traduz um acréscimo de 82 bilhões de dólares, ou 11,5%, em relação a 2018. Só a parcela de aumento anual representa mais 34,5% do bilhões de dólares – e cerca de metade do orçamento militar da China – 175 bilhões de dólares. O orçamento do Pentágono é nove vezes maior que o da Rússia e triplica o chinês.

Prevê-se que a tendência para o agravamento do esforço de guerra norte-americano seja constante, uma vez que está previsto outro aumento de 82 mil milhões de dólares em 2020, elevando o valor global para as imediações dos 800 mil milhões de dólares nesse ano.

Os maiores investimentos orçamentários estão previstos na guerra aérea, através da aquisição dos novos caças F-35; na guerra nuclear, com a aposta em bombas “miniatura”; e na chamada “guerra cibernética”.

As rubricas explicitadas não incluem a guerra espacial, uma opção recentemente considerada necessária pelo conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, dando força às contradições que se vêm agravando na estratégia Trump: ora afirmando intenções pacificadoras nas mediáticas cimeiras que promove, ora acompanhando as pressões belicistas do “Estado profundo”, refletindo o poder da indústria armamentista.

“O aumento do orçamento em 82 bilhões de dólares levar-nos-á a uma posição de primazia”, comentou o secretário da Defesa, James Mattis, dando voz ao mal-estar que se vem sentindo no Pentágono perante a eficácia dos sistemas militares russos de última geração, entre os quais avultam as capacidades para “cegar” as comunicações da Otan - deixando as superequipadas forças da aliança expostas e vulneráveis a ataques com muito mais reduzido poder de fogo.

Daí que nem sempre os desníveis orçamentários correspondam a uma garantia de êxito, principalmente quando a situação revela uma autêntica guerra civil entre os poderes norte-americanos, extensiva ao globalismo capitalista em geral.

Por exemplo, Donald Trump evitou citar o nome de John McCain, abreviando para isso a designação oficial da lei do orçamento durante o ato da sua promulgação.

John McCain e Donald Trump enfrentaram-se a propósito de medidas assumidas pela Casa Branca tendentes a reduzir o envolvimento norte-americano direto nas guerras do Oriente Médio e no apoio ao terrorismo, principalmente na Síria. Esta atuação deixou Trump na mira não apenas dos democratas, que apostaram nessas guerras prosseguindo a estratégia de George W. Bush, mas também de setores dominantes entre os republicanos.

O orçamento monstruoso do Pentágono para os dois próximos anos e a designação oficial da lei para 2019 são encarados como uma provocação à Casa Branca lançada pela corrente do establishment que tem controlado o poder imperial nas últimas décadas. Apenas oito senadores democratas e os republicanos Rand Paul e Mike Lee votaram contra a “lei orçamentária John S. McCain”, o que parece evidenciar um isolamento da Casa Branca perante o instinto declaradamente belicista do Congresso – tendência em que as esmagadoras maiorias dos democratas e dos republicanos se fundem numa espécie de partido único.

Porém, é convicção geral de que a guerra interna ainda apenas começou. As eleições de novembro renovarão um terço do Congresso. Também em novembro está prevista a divulgação dos resultados da primeira auditoria de sempre efetuada ao Pentágono – a maior operação do gênero na história.

Apesar de, no início dos anos 1990, ter sido determinado que todos os departamentos e agências se submeteriam a auditorias, o Pentágono vem-se mantendo ao abrigo dessa decisão.

Em princípio, seria de prever que esta investigação revelasse o “poço sem fundo” que são as contas militares norte-americanas, onde se jogam interesses com dimensões incalculáveis.

No quadro atual de choque de poderes torna-se também previsível que os resultados da auditoria, as suas eventuais demonstrações de alta corrupção, de enormes negócios pouco lícitos e ainda menos “patrióticos” funcionem como armas de arremesso cruzadas entre os setores desavindos.

Pode acontecer que muitos desses resultados sejam escondidos da opinião pública, tal a sua gravidade e poder desestabilizador; porém, não deixarão de alimentar os confrontos nos ambientes em que se tornam, muitas vezes, determinantes – os bastidores.



Brasil 247

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