terça-feira, 24 de março de 2015

E vivemos uma revolução no Brasil, por Osvaldo Ferreira

TER, 24/03/2015 - 07:49


Por Osvaldo Ferreira

Estamos vivendo um momento inédito de democracia no Brasil.

Eu acho que jamais vivemos momento como este em nossa história.

E não se trata da democracia formal, aquela que se realiza com o sufrágio, que entre nós ocorre de dois em dois anos e feito isso, eleitos e eleitores se encaminham para suas vidas, com trombetas propalando que se realizou novamente a grande vontade popular!

Eu acho que jamais vivemos momento como este.

Isso tem muito a ver com o acesso ampliado às informações jamais ocorrido em nenhuma época anteriormente.

Isso tem muito a ver com a mobilização social, notadamente comandada pelos jovens que desejam um país novo e um mundo novo e isso é muito bom.

Dispomos dos meios informacionais. No Brasil agora a universidade deixou de ser coisa apenas dos abastados. Isso também tem a ver com este momento.

Alguns entendem que isso é o caos. Principalmente os adeptos da ordem. Outros entendem que é o momento de renovar, revolucionar e avançar. Outros estão confusos.

Mas é mesmo assim que na história há o parto do novo.

Estamos a assistir o parto do novo no Brasil.

Não há mais tema tabu na política vista de forma ampla: mulheres desejam virar a mesa pelos seus direitos desde sempre vilipendiados numa sociedade patriarcal secular, milhões desde sempre oprimidos pelas suas orientações sexuais desejam virar a mesa, os negros e em maioria no Brasil desejam virar a mesa, os indígenas desejam virar a mesa, os que se opõem à sacrossanta família judaico-cristã desejam virar a mesa, os pobres e miseráveis desde sempre massacrados pela transformação da terra em mercadoria desejam virar a mesa tanto no campo quanto nas cidades, os produtores de informação pela web desejam virar a mesa se opondo ao oligopólio das informações no Brasil, os estudantes desejam virar a mesa nas instituições em que estudam e onde não têm participação, seja nas Universidades ou no ensino básico, e há uma intolerância absoluta à forma como o Estado funciona no Brasil desde sempre, que serve para enriquecer os mais ricos em detrimento dos mais pobres.

Todo mundo querendo virar a mesa e ser mais cidadão. Ser mais respeitado e participar de tudo.

Não será com ruptura institucional que resolveremos isso, mas com mais civilização, com mais arejamento, com mais discussão, quero dizer, com mais democracia.

Eu acho que estamos no Brasil em uma quadratura das mais interessantes. Mas há muita gente que não pensa assim. Gente que não suporta esta instabilidade inerente à democracia. Para esta gente isso é pavoroso.

Acho que estamos parindo aquilo que muitos de nós desejamos há muito tempo. Um país avançado, democrático, moderno, diverso e rico.

Se este parto se fará de forma convulsionada (e esta é uma hipótese) ou de forma mais consensual é algo que está em nossas mãos. Mas definitivamente estamos numa revolução no Brasil.


Jornal GGN

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