segunda-feira, 30 de novembro de 2015

"Nunca foi tão bom para você"

O que adianta ir a Paris para encontrar o meu porteiro ? Nao é, Jabor ?


publicado 30/11/2015
Tim: a primeira geladeira a gente não esquece


O Conversa Afiada aceita sugestao da navegante Marize:

Oi, Paulo, tudo bem?

Você leu o texto de Tim Vickery, da BBC? Veja, quando puder. É muito bom. Acho até que vale um daqueles comentários deliciosos que você faz no blog.



Acho que nasci com alguma parte virada para a lua. Chegar ao mundo na Inglaterra em 1965 foi um golpe e tanto de sorte. Que momento! The Rolling Stones cantavam I Can’t Get no Satisfaction, mas a minha trilha sonora estava mais para uma música do The Who, Anyway, Anyhow, Anywhere.

Na minha infância, nossa família nunca teve carro ou telefone, e lembro a vida sem geladeira, televisão ou máquina de lavar. Mas eram apenas limitações, e não o medo e a pobreza que marcaram o início da vida dos meus pais.

Tive saúde e escolas dignas e de graça, um bairro novo e verde nos arredores de Londres, um apartamento com aluguel a preço popular – tudo fornecido pelo Estado. E tive oportunidades inéditas. Fui o primeiro da minha família a fazer faculdade, uma possibilidade além dos horizontes de gerações anteriores. E não era de graça. Melhor ainda, o Estado me bancava.

Olhando para trás, fica fácil identificar esse período como uma época de ouro. O curioso é que, quando lemos os jornais dessa época, a impressão é outra. Crise aqui, crise lá, turbulência econômica, política e de relações exteriores. Talvez isso revele um pouco a natureza do jornalismo, sempre procurando mazelas. É preciso dar um passo para trás das manchetes para ganhar perspectiva.

Será que, em parte, isso também se aplica ao Brasil de 2015?

Não tenho dúvidas de que o país é hoje melhor do que quando cheguei aqui, 21 anos atrás. A estabilidade relativa da moeda, o acesso ao crédito, a ampliação das oportunidades e as manchetes de crise – tudo me faz lembrar um pouco da Inglaterra da minha infância.

Por lá, a arquitetura das novas oportunidades foi construída pelo governo do Partido Trabalhista nos anos depois da Segunda Guerra (1945-55). E o Partido Conservador governou nos primeiros anos da expansão do consumo popular (1955-64). Eles contavam com um primeiro-ministro hábil e carismático, Harold Macmillan, que, em 1957, inventou a frase emblemática da época: "nunca foi tão bom para você" ("you’ve never had it so good", em inglês).

É a versão britânica do "nunca antes na história desse país". Impressionante, por sinal, como o discurso de Macmillan trazia quase as mesmas palavras, comemorando um "estado de prosperidade como nunca tivemos na história deste país" ("a state of prosperity such as we have never had in the history of this country", em inglês).

Macmillan, "Supermac" na mídia, era inteligente o suficiente para saber que uma ação gera uma reação. Sentia na pele que setores da classe média, base de apoio principal de seu partido, ficaram incomodados com a ascensão popular.

Em 1958, em meio a greves e negociações com os sindicatos, notou "a raiva da classe média" e temeu uma "luta de classes". Quatro anos mais tarde, com o seu partido indo mal nas pesquisas, ele interpretou o desempenho como resultado da "revolta da classe média e da classe média baixa", que se ressentiam da intensa melhora das condições de vida dos mais pobres ou da chamada "classe trabalhadora" ("working class", em inglês) na Inglaterra.

Em outras palavras, parte da crise política que ele enfrentava foi vista como um protesto contra o próprio progresso que o país tinha alcançado entre os mais pobres.

Mais uma vez, eu faço a pergunta – será que isso também se aplica ao Brasil de 2015?

Alguns anos atrás, encontrei um conterrâneo em uma pousada no litoral carioca. Ele, já senhor de idade, trabalhava como corretor da bolsa de valores. Me contou que saiu da Inglaterra no início da década de 70, revoltado porque a classe operária estava ganhando demais.

No Brasil semifeudal, achou o seu paraíso. Cortei a conversa, com vontade de vomitar. Como ele podia achar que suas atividades valessem mais do que as de trabalhadores em setores menos "nobres"? Me despedi do elemento com a mesquinha esperança de que um assalto pudesse mudar sua maneira de pensar a distribuição de renda.

Mais tarde, de cabeça fria, tentei entender. Ele crescera em uma ordem social que estava sendo ameaçada, e fugiu para um lugar onde as suas ultrapassadas certezas continuavam intactas.

Agora, não preciso nem fazer a pergunta. Posso fazer uma afirmação. Essa história se aplica perfeitamente ao Brasil de 2015. Tem muita gente por aqui com sentimentos parecidos. No fim das contas, estamos falando de uma sociedade com uma noção muito enraizada de hierarquia, onde, de uma maneira ainda leve e superficial, a ordem social está passando por transformações. Óbvio que isso vai gerar uma reação.

No cenário atual, sobram motivos para protestar. Um Estado ineficiente, um modelo econômico míope sofrendo desgaste, burocracia insana, corrupção generalizada, incentivada por um sistema político onde governabilidade se negocia.

A revolta contra tudo isso se sente na onda de protestos. Mas tem um outro fator muito mais nocivo que inegavelmente também faz parte dos protestos: uma reação contra o progresso popular. Há vozes estridentes incomodadas com o fato de que, agora, tem que dividir certos espaços (aeroportos, faculdades) com pessoas de origem mais humilde. Firme e forte é a mentalidade do: "de que adianta ir a Paris para cruzar com o meu porteiro?".

Harold Macmillan, décadas atrás, teve que administrar o mesmo sentimento elitista de seus seguidores. Mas, apesar das manchetes alarmistas da época, foi mais fácil para ele. Há mais riscos e volatilidade neste lado do Atlântico. Uma crise prolongada ameaça, inclusive, anular algumas das conquistas dos últimos anos. Consumo não é tudo, mas tem seu valor. Sei por experiência própria que a primeira geladeira a gente nunca esquece.

*Tim Vickery é colunista da BBC Brasil e formado em História e Política pela Universidade de Warwick


Conversa Afiada

Mídia esconde verdadeiras 'relações perigosas' de Bumlai

Preso pela Lava Jato, pecuarista foi sócio do global Galvão Bueno, do dono da Band, João Carlos Saad, e do ex-prefeito de Santos Beto Mansur (PSDB, PP e PRB). Mas imprensa só fala em "amigo do Lula"

por Helena Sthephanowitz, para a RBA publicado 25/11/2015 11:50, última modificação 25/11/2015 15:31

©STARMAQ
Barulho midiático em torno de Bumlai é mais uma tentativa de criar 'efeito manada' na opinião pública


Em mais uma fase da Operação Lava Jato foi preso preventivamente o pecuarista José Carlos Bumlai, na manhã de ontem (24). O Ministério Público afirma que as delações premiadas justificam a prisão. A defesa de Bumlai afirma que o empresário tem como provar com documentos que os delatores mentiram no caso dele.

As manchetes da imprensa tradicional usaram e abusaram da expressão "amigo de Lula" para se referir ao empresário preso, numa tentativa de mais uma vez associar o ex-presidente a denúncias de corrupção. Se depender da leitura das manchetes o pecuarista está preso por ser "amigo de Lula", tamanha a ênfase dada. Apesar disso, os próprios procuradores da força-tarefa que prenderam o pecuarista afirmaram claramente, em entrevista coletiva, que não há nenhuma prova contra o ex-presidente.

O que existe é o "uso indevido do nome e da autoridade do ex-presidente da República, que, mesmo não mais no cargo, ainda é uma das pessoas mais poderosas do país", segundo despacho do próprio Sergio Moro, o juiz que encabeça as investigações e sobre o qual pairam inúmeras denúncias de seletividade e parcialidade de sua condução.

De acordo com as notícias publicada na imprensa, Bumlai só foi apresentado a Lula em 2002, quando já era um dos maiores criadores de gado do Brasil. Fez o mesmo que outros grandes empresários dispostos ao diálogo, considerando que, à época, muitos hostilizavam ou temiam um governo petista.

Mas, convenhamos, se "ser amigo" já é criminalizado pela imprensa tradicional, como deveriam tratar "ser sócio"?

Pois o narrador esportivo da TV Globo Galvão Bueno foi sócio de Bumlai na rede de fast food Burger King no Brasil, numa composição empresarial que tinha ainda o ex-prefeito de Santos e atual deputado federal Beto Mansur (ex-PSDB, ex-PP e atualmente no PRB) e do piloto de Fórmula Indy Hélio Castro Neves.

João Carlos Saad, dono da TV Bandeirantes, foi sócio de Bumlai na TV Terraviva, dedicada ao agronegócio, que também teve como sócio o também empresário Jovelino Mineiro, que por sua vez, foi sócio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na fazenda Córrego da Ponte, no município mineiro de Buritis.

O pecuarista José Carlos Bumlai tem muitos outros amigos políticos, alguns deles graúdos empresários da bancada ruralista. O ex-governador de Mato Grosso e atual senador Blairo Maggi (PMDB-MT), o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Jorge Picciani (PMDB-RJ), criador de gado; Jonas Barcelos (ex-dono de freeshops em aeroportos e ligado ao ex-senador Jorge Bornhausen (PSD-SC), também criador de gado. E se aproximou de petistas matogrossenses antes de Lula chegar à presidência, no período em que o PT governou Mato Grosso.

É óbvio que ninguém pode ser criminalizado por atos de terceiros, apenas por ser sócio, parente, amigo, colega de trabalho ou o quer que seja, se não participou de atos ilegais.

Mas é óbvio também que há muito cinismo dos veículos de comunicação que tiveram negócios com Bumlai, em apresentá-lo ao distinto público apenas como se fosse "amigo" exclusivamente de Lula.

Entrevista de Bumlai em 2009 à revista IstoÉ Dinheiro Rural mostra a trajetória do então queridinho da mídia: "Nascido em Corumbá, sua família o mandou para estudar em São Paulo em um colégio católico frequentado pela elite paulistana. Foi colega de aula de Luiz Fernando Furlan (ex-dono da Sadia e ex-ministro no primeiro governo Lula) e do ex-presidente da Nestlé, Ivan Zurita. Depois estudou engenharia na Universidade Mackenzie nos anos 1960, frequentada pela elite na época.

Trabalhou 30 anos com o "rei da soja" Olacyr de Moraes, boa parte do tempo em cargos de direção do Grupo Itamaraty, que tinha a empreiteira Constran e o extinto Banco Itamaraty. Com Olacyr, Bumlay introduziu o cultivo de cana em Mato Grosso do Sul e produção de etanol.

Ele também fez parte da diretoria de associações patronais ligadas ao agronegócio. É óbvio que, com um currículo destes, Bumlai deva ter conhecido muitos políticos e autoridades desde o tempo da ditadura – de alguns pode ter virado amigo e de outros, sócio e parceiro.

Em 2002 conheceu o ex-presidente Lula, e foi um dos empresários de grande porte do agronegócio que abriu canais de diálogo com o governo petista, quando o setor tinha um diálogo difícil com o PT. Integrou o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), fórum criado no governo Lula para empresários, trabalhadores e outros agentes da sociedade debaterem ideias e pactuarem soluções e políticas públicas para o desenvolvimento.

Se Bumlai se meteu em alguma falcatrua, ou se usou o nome do ex-presidente indevidamente (ele nega), ainda está para ser esclarecido. Se o Ministério Público vai provar algo realmente ilícito contra o pecuarista, ou se ele está preso apenas por ser "amigo de Lula", como insinuam as manchetes, também veremos.

Afinal na fase anterior da Operação Lava Jato, o Ministério Público Federal escreveu com todas as letras que Gregório Marin Preciado – ex-sócio e muito ligado e parente do senador José Serra (PSDB-SP) – foi o operador de uma propina de US$ 15 milhões na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, mas nenhuma prisão preventiva foi pedida, muito menos nenhum mandato de busca e apreensão em seus endereços foi feito.


Rede Brasil Atual

Ao 'falar demais', Delcídio revelou a transposição do 'petrolão tucano'

Prisão de senador pode ter sido justa, mas talvez tenha ocorrido antes da hora. De certo e concreto, tudo mostra que o caso é mais um dos que se originaram sob asas tucanas

por Helena Sthephanowitz, para a RBA publicado 29/11/2015 17:58

GERALDO MAGELA /AGÊNCIA SENADO / FOTOS PÚBLICAS
Delcídio do Amaral comprovou, por conversas gravadas, origens da corrupção na Petrobras


Pelo teor das gravações que chegaram ao conhecimento público, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) fez por merecer sua prisão, apesar de alguns juristas dizerem que houve precipitação na decisão. Isso porque, de acordo com a Constituição, parlamentares só podem ser presos em flagrante – pode-se até questionar se há excessos nas prerrogativas parlamentares, mas atualmente é o que está em vigor na Carta Constitucional brasileira.

Outra questão é se a prisão irá ajudar ou terá atrapalhado as investigações. Na prática, Delcídio foi preso por falar demais e sua prisão imediata acaba por silenciá-lo. Daqui em diante, o senador se limitará a só falar o que os investigadores já sabem e, pelo jeito, vem aí um novo acordo de delação premiada.

A melhor investigação recomendava monitorá-lo algum tempo antes de prendê-lo para obter provas mais conclusivas, armar o flagrante em ação controlada e, assim, pegar outros envolvidos e obter evidências de eventuais crimes ainda não elucidados ou mesmo desconhecidos.

Mas Delcídio produziu uma combinação fatal para si mesmo: falou em influir politicamente na decisão de ministros do STF e citou um banqueiro bilionário (que era André Esteves, do BTG Pactual) ter em mãos a cópia de um acordo de delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que deveria estar em sigilo absoluto.

Tudo isso somado certamente levou os ministros do STF citados à conclusão de que se esta gravação chegasse à imprensa antes de prendê-lo eles próprios estariam sob suspeição diante da opinião pública. Como agravante, o risco de dossiês secretos virem a ser usados com fins escusos, inclusive como informação privilegiada no mercado financeiro. Daí o imediatismo da prisão, mesmo controversa do ponto de vista constitucional.

Apesar de a prisão silenciar as conversas de bastidores de Delcídio sobre malfeitos na Petrobras, a gravação feita por Bernardo Cerveró, filho de Nestor, da reunião que teve com o advogado Edson Ribeiro, que defendia o ex-diretor, e do chefe de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira, contém informações suficientes para tirar da gaveta o que podemos chamar de "petrolão tucano". Tudo aponta para concluir-se que o esquema de corrupção na diretoria internacional da Petrobras após 2003 ser uma transposição vinda da diretoria de Gás e Energia na gestão de Delcídio, durante o governo tucano de FHC.

Já está claro que, com o apoio de Delcídio, Cerveró foi para a Diretoria Internacional em 2003. E levou com ele gerentes da diretoria de Gás e Energia que agora são investigados na Lava Jato e que aparecem ligados a escândalos do passado mal investigados até hoje.

Delcídio foi diretor de Gás e Energia da Petrobras entre 1999 e 2001. Nestor Cerveró foi seu braço direito na época. Eram gerentes nesta diretoria Luis Carlos Moreira da Silva e Cezar de Souza Tavares. Foram designados naquele tempo para representar a Petrobras no conselho de administração da Termorio S.A., empresa criada para construir e operar a termoelétrica Leonel Brizola, em Duque de Caxias, cujo maior fornecedor de equipamentos foi a Alstom.

Na conversa gravada, Delcídio manifestou preocupação com a possibilidade de Cerveró delatá-lo por questões relacionadas a contratos da Alstom com a Petrobras.

Apesar de fazerem parte apenas do conselho de administração da termoelétrica, posto que não tem função executiva, os dois gerentes viajaram para a Suíça junto com o presidente da Termorio em junho de 2002 para participar de negociações do contrato da Alstom, conforme descrito em ata de reunião da diretoria registrada na Junta Comercial do Rio de Janeiro. Na 20ª fase da Operação Lava Jato, os dois foram alvos de mandados de busca e apreensão por evidências de terem recebido propina na compra da Refinaria de Pasadena, nos EUA.

Luis Carlos Moreira da Silva foi levado por Cerveró para ser gerente-executivo de desenvolvimento de negócios da diretoria internacional. Cezar de Souza Tavares se aposentou e abriu a empresa Cezar Tavares Consultores, que foi contratada pela diretoria de Cerveró para atuar na negociação dos contratos de compra da Refinaria de Pasadena. Em 2008, após Cerveró sair da diretoria Internacional, Moreira tam´bem se aposentou e virou sócio na consultoria de Tavares, mesmo movimento feito por outro investigado, Rafael Mauro Comino, igualmente "transposto" da diretoria de Delcídio para a Internacional de Cerveró.

No diálogo gravado, Delcídio dá a entender que tinha uma combinação para Cerveró não falar sobre envolvimento dele com a Alstom e questiona o rascunho da delação mostrado por André Esteves conter isto. Bernardo e o advogado Edson confirmam que Cerveró e Moreira (eles não citam o nome completo) tinham dinheiro na Suíça, recebido da Alstom, e foram descobertos lá há algum tempo, mas conseguiram arquivar o processo fazendo acordo confidencial com o Ministério Público de lá. O dinheiro ficou com o governo suíço mas, no Brasil, ninguém soube de nada.

Os procuradores da Lava Jato tiveram conhecimento da trama informamente quando estiveram na Suíça mas, segundo o advogado Edson, não têm como usar esta informação de forma legal no Brasil, já que, depois do acordo, os procuradores suíços não podem mais fornecer estes dados oficialmente.

Pausa para uma observação: se for verdade esta narrativa, que justiça podre era essa dos suíços? Descobriram dinheiro com indícios de ser roubado dos cofres públicos brasileiros e fizeram acordo para ficar com o dinheiro em troca de silêncio?

REPRODUÇÃO
Tribunal de Contas da União aponta negociação potencialmente prejudicial à Petrobras, sob gestão de maus diretores

Gestões temerárias

Mas voltando ao "petrolão tucano": a diretoria de Delcídio foi responsável pela assinatura dos contratos lesivos à Petrobras para construção e operação de usinas termelétricas, no governo FHC, em consórcio com empresas estrangeiras como Enron, El Paso e com a brasileira MPX, de Eike Batista.

Processo de tomada de contas especial do TCU – TC 032.295/2010-3 – registra nos contratos que a Petrobras assumiu sozinha riscos desfavoráveis ao erário público (leia-se: ruins para a estatal e bons para os sócios privados nos consórcios) para a construção das termelétricas.

O texto do acórdão descreve um contrato draconiano, cuja única garantia tinha os sócios privados, de que teriam seus lucros devidamente recebidos – o que obrigou a estatal a pagar aos consórcios R$ 2,8 bilhões. A Petrobras (leia-se, o povo brasileiro) ficou com este prejuízo, enquanto os sócios privados foram generosamente remunerados. Pior do que isso, durante cinco anos a Petrobras pagou aos sócios juros de 12% ao ano, mais do que os sócios pagavam ao BNDES pelo dinheiro que tomaram emprestado para investir.

Desenhando: se a Petrobras tomasse diretamente empréstimo no BNDES para construir as termelétricas sem sócio nenhum, em cinco anos pagaria o empréstimo, com juros muito menores e ficaria dona sozinha das usinas.

Mesmo identificando e reconhecendo tudo isso, o acórdão do TCU de 16 de julho de 2014 (quando a Lava Jato já bombava) acatou a defesa e não puniu ninguém da diretoria da Petrobras da era tucana.

Foram alvo desta tomada de contas além de Delcídio e Cerveró, Henri Philippe Reichstull, Ronnie Vaz Moreira, Francisco Gros, Rogério Almeida Manso da Costa Reis, José Coutinho Barbosa, Geraldo Vieira Baltar, Albano de Souza Gonçalves, João Pinheiro Nogueira Batista,Jorge Marques de Toledo Camargo, Antônio Luiz Silva de Menezes, Irani Carlos Varella.

Um trecho do acórdão do TCU resume a decisão: "(...) ainda que tenha faltado prudência por parte dos administradores da Petrobras, os gestores devem ser eximidos de responsabilidade por não ser razoável exigir-lhes que, com as circunstâncias favoráveis de mercado, descumprissem os compromissos políticos e sociais que haviam assumido e desistissem da oportunidade de negócio que se apresentava. Fica demonstrada a inexigibilidade de conduta diversa por parte dos gestores da Petrobras, excluindo sua a culpabilidade".

Deixa ver se entendi: em uma linguagem menos embromada, como a diretoria tinha "compromisso político" com o governo tucano ficou tudo liberado para fazer outra imprudente "privataria" com a Enron, El Paso e MPX. É isso?

Detalhe: em 2001 e 2002, quando ocorreram estes fatos, o ministro das Minas e Energia era José Jorge que posteriormente foi senador pelo PFL de Pernambuco. Em 2014, José Jorge era conselheiro do TCU. Hoje aposentado, à época ele declarou-se impedido de votar neste processo. Concluí-se, portanto, que ele tinha interesse direto no assunto.


Rede Brasil Atual



NA COP21, DILMA FALA DE “AÇÃO IRRESPONSÁVEL” EM MG


Em discurso no primeiro dia da Conferência do Clima de Paris, a presidente mencionou a tragédia ocorrida com o rompimento de uma barragem da mineradora Samarco em Minas Gerais; segundo Dilma Rousseff, "a ação irresponsável de umas empresas provocou o maior desastre ambiental na história do Brasil, na grande bacia hidrográfica do rio Doce"; ela também destacou aos líderes mundiais: "Estamos reagindo pesado com medidas de punição, apoio às populações atingidas, prevenção de novas ocorrências e também punindo severamente os responsáveis por essa tragédia"; Dilma defendeu ainda, em sua fala, que o acordo contra o aquecimento global, a ser assinado durante a COP21, tenha força legal

30 DE NOVEMBRO DE 2015 ÀS 11:57


247 – A presidente Dilma Rousseff criticou nesta segunda-feira 30, durante discurso no primeiro dia da Conferência do Clima de Paris (COP21), a "ação irresponsável" de empresas que resultou na tragédia de Minas Gerais, após o rompimento de uma barragem de rejeitos da mineradora Samarco no município de Mariana (MG).

"A ação irresponsável de umas empresas provocou o maior desastre ambiental na história do Brasil, na grande bacia hidrográfica do rio Doce", disse a presidente, no encontro onde mais de 150 líderes mundiais estão reunidos para uma cúpula da ONU com objetivo de chegar a um acordo para tentar conter o aquecimento global.

Dilma destacou ainda: "Estamos reagindo pesado com medidas de punição, apoio às populações atingidas, prevenção de novas ocorrências e também punindo severamente os responsáveis por essa tragédia". O desastre já deixou 13 mortos até o momento, 11 desaparecidos e matou nove toneladas de peixes no Rio Doce, o principal da região, segundo o Ibama.

A presidente brasileira também defendeu, em sua fala, que o acordo contra o aquecimento global, a ser assinado durante a conferência, tenha força legal, um discurso mais alinhado à União Europeia do que ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que defendeu pouco antes um acordo que não precise passar pelo Congresso e ser transformado em lei nos países.


Brasil 24/7

Folha comprova a eficiência da nova Lei de Direito de Resposta

DOM, 29/11/2015 - 11:50
ATUALIZADO EM 30/11/2015 - 10:46


Os Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) que irão analisar a ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) contra a Lei de Direito de Resposta terão pela frente uma evidência claríssima: a melhoria exponencial da qualidade das informações após a aprovação da lei.

Ao aceitar o direito de resposta de pessoas atingidas, os jornais permitem que seus leitores tenham acesso a fatos verdadeiros. Mais que isso: serão mais exigentes com seus repórteres e editores, para não expor o veículo a mais direitos de resposta.

Esse filtro de qualidade é chamado de "autocensura" por Mirian Leitão. É a mesma "autocensura" praticada pelos melhores jornais do mundo.

Mais que isso, mesmo antes do primeiro Direito de Resposta ser concedido por via legal, os próprios jornais estão ajudando a criar uma nova jurisprudência, que será relevante quando começarem os julgamentos.

Ao conceder direito de resposta ao presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) o jornal Folha de São Paulo presta dois favores ao jornalismo:

1. Permite a seus leitores acesso a uma informação fidedigna, o artigo de Coutinho.

2. Reconhece que a manipulação das manchetes e do lide é uma forma de manipulação da notícia.

De fato, analisando o histórico do factoide constata-se que a primeira reportagem com a falsa denúncia continha as explicações do banco no pé da matéria. Mesmo sendo explicações definitivas mantiveram a manchete e o lide com a notícia falsa.

Este caso, mais o da juíza Ana Amaro – que ganhou ação contra a Globo no caso das adoções – mostra um grau de subjetivismo importante na hora de analisar os prejuízos com as notícias: não basta abrir espaço para o “outro lado” no pé da reportagem; importa analisar o efeito final da matéria sobre a opinião pública. Se a reportagem dá a versão do outro lado, mas encampa a versão falsa, a reportagem é falsa. Portanto, o julgamento tem que levar em conta o resultado final da reportagem.

Vamos analisar o caso Folha.
A história de uma barriga

O “furo” da Folha saiu no dia 1o, de novembro de 2015, em matéria assinada pelos repórteres Mário César Carvalho e Felipe Bachtold.

Segundo a reportagem, o BNDES driblou regra interna - que o proíbe de conceder empréstimos a empresa cuja falência tenha sido requeria na Justiça - e concedeu R$ 101,5 milhões de financiamento a José Carlos Bumlai, "amigo do ex-presidente Luiz Ignácio Lula da Silva".


O empréstimo foi para a empresa São Fernando Energia 1, para gerar eletricidade a partir do bagaço de cana.

Enfatiza a reportagem que "após a autorização do BNDES, os R$ 101,5 milhões foram repassados à empresa de Bumlai pelo BB e pelo BTG, "que atuaram na operação como agentes intermediários".

O BNDES alegou que a simples existência do pedido de falência não é suficiente para impedir financiamentos.

No mais relevante, a explicação do banco foi definitiva:

"No caso da São Fernando Energia, no entanto, a instituição de fomento sustenta que, por se tratar de uma operação indireta, nas quais outros bancos fizeram o repasse e assumiram o risco do crédito, caberia ao Banco do Brasil e ao BTG "proceder a análise cadastral e exame das certidões das beneficiárias finais, conforme as regras do BNDES".

Ou seja, era uma operação indireta. Portanto, a responsabilidade pela análise do crédito era dos bancos repassadores.

A reportagem ouviu o Banco do Brasil, que tinha uma explicação clara para a operação. Foi uma operação de renovação de um antigo financiamento, na qual a empresa agregou novas garantias ao Banco do Brasil. O mesmo aconteceu com o BTG.

Tratava-se, portanto, de uma operação bancária legítima que desmentia o título e o lide da matéria. Os repórteres deram corretamente o outro lado. Mas a edição e o título definiram o teor da reportagem, a impressão que ficou com a opiniõa pública.

O primeiro efeito da falsificação

No dia 5 de novembro de 2011, reportagem de Aguirre Talento, de Brasília tinha o título:


O primeiro objetivo havia sido alcançado. Com base em uma notícia falsa, a CPI do BNDES aprovou requisição de documentos ao banvo sobre a operaç˜qao colocando mais lenha na fogueira política

A reportagem já toma como verdadeira a reportagem do dia 5, comprovando que as explicações do BNDES e do BB de nada adiantaram:

Reportagem da Folha do último dia 1º revelou que o BNDES contornou uma norma interna que o proíbe de conceder empréstimos a empresas cuja falência tenha sido requerida na Justiça e concedeu crédito de R$ 101,5 milhões a Bumlai, amigo do ex-presidente Lula que se tornou um dos alvos da Operação Lava Jato

Com base na matéria falsa, foram apresentados à CPI cinco requerimentos de convocação de Bumlai.

No dia 17 de novembro de 2015, em uma reportagem de Dimmi Amora sobre o depoimento de Eike Baptista na CPI do BNDES, mais uma vez se veicula a notícia falsa, ainda que acompanhada das explicações do banco:

A Folha revelou no início do mês que o BNDES contornou uma norma interna que o proíbe de conceder empréstimos a empresas cuja falência tenha sido requerida na Justiça e concedeu crédito de R$ 101,5 milhões ao pecuarista José Carlos Bumlai.

Era o próprio samba do crioulo doido. Apresentava-se a denúncia taxativamente e depois a explicação do BNDES mostrando taxativamente que a denúncia era falsa. Imagine-se a cabeça do leitor.

Com base na falsa denúncia, Polícia Federal e Ministério Público Federal - provavelmente as fontes da matéria inicial - entraram na parada. No dia 24 de novembro de 2015, reportagem de Estelita Hass Carazzai informava que e "intimaram a presidência (do BNDES) a entregar cópias dos contratos e seus processos de aprovação realizados entre 2005 e 2012".

Antes de ter acesso aos documentos, o procurador Diogo Castor de Mattos já tinha conclusões: "As empresas ou estavam inativas ou não tinham nenhuma atividade operacional na época dos empr[estumos".

No dia 5 de novembro de 2015, sem mencionar a Folha, o Estadão endossa a denúncia.

Reportagem de Daiene Cardoso dizia que:

A usina de Bumlai, em Dourados (MS), teria recebido do BNDES um empréstimo de R$ 101,5 milhões em 2012 após ter pedido falência à Justiça um ano antes. O requerimento aprovado não trata de quebra de sigilo das informações da operação e sim do acesso dos parlamentares aos contratos confidenciais. 



Uma usina de Bumlai, em Dourados (MS), teria recebido do BNDES empréstimo de R$ 101,5 milhões em 2012 após ter pedido falência à Justiça um ano antes. Além de ouvir o pecuarista, deputados querem ter acesso aos contratos do empréstimo feito pelo empresário, amigo pessoal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Todas as matérias repetem o mesmo tratamento padronizado de apresentar Bumlai como amigo de Lula.

Todas as matérias basearam-se em uma informação intencionalmente falsa já que, desde o primeiro momento, o jornal tinha a versão correta sobre ela. Só consentiu em dirimir definitivamente o fato devido à ameaça da Lei de Direito de Resposta.

Nesse período, a notícia falsa aumentou a temperatura política, serviu de álibi para que a Polícia Federal e o Ministério Público invadissem o BNDES e lançou uma mancha falsa de suspeita sobre o banco.

O jornal retificou o erro sabendo que havia atingido seu objetivo.

Para quem analisa a cobertura diária sem os óculos da torcida política, esse episódio é apenas um em um oceano de manipulações alimentadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal.

Quem está trazendo o jornalismo de volta aos jornais é a Lei de Direito de Resposta. Sem ela, dificilmente sairia esse desmentido ou, como ocorreu hoje no Estadão, o repórter Fausto Macedo, porta voz da Polícia Federal, ter aberto espaço para a manifestação do advogado do filho de Lula.


Jornal GGN

EM JANTAR, AÉCIO E FHC CONSPIRAM CONTRA DILMA


Prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS) reacendeu as esperanças golpistas no PSDB; ontem, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso jantaram para debater os rumos da crise; eles, que haviam rompido com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), agora esperam que o presidente da Câmara, que acaba de ser acusado de receber R$ 45 milhões do BTG Pactual, cujo dono, André Esteves, foi preso, abra um processo de impeachment nesta semana; detalhes: Delcídio tinha receio de revelações sobre seus negócios com a Alstom no governo FHC e Esteves patrocinou a lua de mel de Aécio

30 DE NOVEMBRO DE 2015 ÀS 09:35


247 – O presidente do PSDB e senador Aécio Neves (MG) jantou neste domingo 29 à noite com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com quem conspirou contra a presidente Dilma Rousseff. Em sua página no Facebook, Aécio postou a foto do encontro com a seguinte mensagem: "Com o presidente Fernando Henrique Cardoso, avaliando a extensão da crise".

No últimos dias, a prisão do senador e líder do governo Delcídio Amaral (PT-MS) reacendeu as esperanças golpistas no PSDB, que desde as eleições de 2014 tenta tirar Dilma do poder. Os tucanos, que haviam rompido com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), agora esperam que o deputado abra um processo de impeachment.

A decisão pode ser tomada até sexta-feira 4, conforme anunciou o próprio Cunha na semana passada. A recusa ao pedido está condicionada ao apoio do PT no Conselho de Ética contra a cassação do presidente da Câmara, processo cujo relatório do deputado Fausto Pinato (PRB-SP), a favor da continuidade da investigação, será votado nesta terça-feira 1º.

Cunha também pode autorizar o pedido de impeachment apresentado pelo ex-petista e jurista Hélio Bicudo, que recebe o apoio da oposição, caso receba o apoio de parlamentares da oposição no Conselho de Ética e não seja aprovado, no Senado, o projeto que permite ao governo fechar as contas com déficit de R$ 51 bilhões.

Acontece que, nas últimas semanas, a imagem do presidente da Câmara deixou de ter legitimidade para tal iniciativa. Alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por recebimento de propina no esquema de corrupção da Petrobras, investigado na Operação Lava Jato, e apontado como dono de contas secretas na Suíça, Cunha acaba de ser acusado de receber R$ 45 milhões do BTG Pactual, cujo dono, André Esteves, foi preso na semana passada junto com Delcídio Amaral.

O áudio que embasou a prisão do senador e do banqueiro também revela fatos obscuros sobre o PSDB. Na conversa gravada com seu chefe de gabinete, Diogo Ferreira, o advogado de Nestor Cerveró, Edson Ribeiro, e o filho do ex-diretor da Petrobras, Bernardo Cerveró, Delcídio demonstrou receio de revelações sobre seus negócios com a Alstom no governo FHC, período em que o senador ocupou uma diretoria na Petrobras. Além disso, André Esteves tem estreitas relações com o PSDB e especialmente Aécio Neves – chegou a patrocinar a lua de mel do tucano em 2013.


Brasil 24/7

MENSALÃO - Um julgamento medieval




LT   -   You Tube

Por que o Janot deixa o Cunha solto?

Será porque ele vai encaminhar o impeachment?

publicado 30/11/2015
Imagem publicada pelo Turquim, no Twitter


Saiu na Fel-lha:


Anotação apreendida pela Procuradoria-Geral da República aponta que o banco BTG Pactual pagou R$ 45 milhões ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje presidente da Câmara, para ver interesse do banco de André Esteves atendido em uma emenda provisória.

O texto foi encontrado por policiais federais na casa de Diogo Ferreira, chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), e preso com ele na quarta-feira passada (25) no escopo da Operação Lava Jato.

Ele está descrito no pedido da PGR para manter o assessor e Esteves presos por tempo indeterminado –o que foi aceito pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo, neste domingo (29).

A anotação faz parte de um conjunto de papéis que, na avaliação dos investigadores, constituía um roteiro de ação de Delcídio junto a ministros do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo para tentar soltar o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, também preso pela Lava Jato.

No verso, há um escrito com a referência ao BTG. A PGR não deixa claro se é uma anotação manuscrita.

"Em troca de uma emenda à medida provisória nº 608, o BTG Pactual, proprietário da massa falida do banco Bamerindus, o qual estava interessado em utilizar os créditos fiscais de tal massa, pagou ao deputado federal Eduardo Cunha a quantia de 45 milhões de reais", diz o texto.

(...)

Navalha

André Esteves precisa continuar preso porque, solto, ele seria uma ameaça à ordem pública.

E o Cunha?

Que enfia na medida provisória um jabuti que lhe rende R$ 45 milhões?

Solto, e na presidência da Câmara, quem o Cunha ameaça?

A Dilma!

Por isso, só pedirão a prisão dele, quando perder a serventia.

O relógio da Casa Grande não falha!

Paulo Henrique Amorim


Conversa Afiada

ANDRADE PERDERÁ PODER DE VETO NA CEMIG


O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai assumir dois dos cinco assentos da Andrade Gutierrez no controle da gestão da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig); empreiteira já não tem poder de veto nem de controle da Cemig e, assim, perde o espaço conquistado nas gestões do PSDB em Minas

30 DE NOVEMBRO DE 2015 ÀS 06:59


247 - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai assumir uma fatia da participação da Andrade Gutierrez no controle da gestão da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Com 12,9% do capital, a BNDES Participações terá direito a dois assentos em seu conselho de administração.

A Andrade, que ocupava cinco assentos no conselho, passará a ter direito a três e já não tem poder de veto nem de controle da Cemig. Assim, a empresa perde o espaço conquistado nas gestões do PSDB em Minas.

A empreiteira fechou acordo de leniência com as autoridades da Lava Jato e aceitou pagar multa de R$ 1 bilhão por causa de subornos em contratos.

Leia aqui reportagem de Marcos de Moura e Souza.


Brasil 24/7

domingo, 29 de novembro de 2015

Juristas ingleses acusam Lava Jato de ferir princípios Constitucionais

DOM, 29/11/2015 - 14:45
ATUALIZADO EM 29/11/2015 - 14:49



The Sunday Times publicou reportagem de uma página sobre a Lava Jato.

Diz o jornal que Sérgio Moro é visto como um herói do povo, capa de revistas.

Na semana passada, segundo a revista, houve o maior golpe de Moro, a prisão do “banqueiro bilionário” André Esteves, do fazendeiro José Carlos Bumlai e do senador líder do governo Dilma Rousseff Delcídio do Amaral.

A operação transcendeu a Lava Jato para incluir contratos de construção para os Jogos Olímpicos do Rio, no próximo ano. A reportagem especula sobre as intenções políticas de Moro e depois entra nas suas táticas de investigação, dele e de “sua jovem equipe de procuradores”.

A reportagem ouve um advogado que diz que Moro e sua equipe são intocáveis, inclusive nos métodos utilizados. Lembra “um punhado de líderes empresariais politicamente conectados presos durante meses sem julgamento”. E menciona as denúncias “supostamente vazadas para a imprensa antes mesmo que os acusados tenham sido informados”.

A reportagem acusa os procuradores de tentar intimidar suspeitos com barganhas em troca de sua liberdade.

Menciona um parecer elaboradora pela Blackstone Chambergs, de Londres, sugerindo que o comportamento dos procuradores pode ser uma violação da Constituição do Brasil e de vários tratados internacionais.

Os advogados britânicos, especialistas em direitos humanos, ressaltaram que não estão analisando nenhum caso individual, mas levantando preocupações de que “princípios fundamentais da liberdade e da presunção de inocência foram minados pela investigação de Moro”.

Sustenta que a maioria das 75 condenações foram fruto de ofertas de barganha com réus. Lembra que “Marcelo Odebrecht, diretor da construção império Odebrecht - uma das principais empresas no centro da investigação - está na cadeia desde junho sem julgamento”.

Diz que no governo Lula a Odebrecht ganhou contratos no exterior e ele ficou amigo de Lula e que as investigações tentam saber se Lula influenciou o BNDES para conceder empréstimos baratos à Odebrecht.

Finalmente reclama que a punição está sendo mais severa para os empresários do que para os políticos.

Veja a matéria a seguir, em anexo:



Jornal GGN

O desabafo deplorável da ministra Carmen Lúcia. Por Carlos Fernandes

Postado em 27 nov 2015
por : Carlos Fernandes

Deu uma de Gilmar


E a ministra do STF, Carmen Lúcia, não resistiu à tentação medíocre de fazer política enquanto exercia o seu dever de julgar que deveria ser amparado exclusivamente pelo que rege a nossa Constituição Federal.

No seu voto na segunda turma do STF que decidia sobre a prisão do senador Delcídio do Amaral, a excelentíssima ministra resolveu navegar no pantanoso universo paralelo onde a isenção de juízo de valor por parte do magistrado dá lugar às suas mais íntimas impressões pessoais.

De todos os desvios jurídicos possíveis, que não são poucos, o mais grave e, paradoxalmente, um dos mais comuns, é a influência que as posições políticas pessoais dos juízes podem exercer sobre os entendimentos da lei, e consequentemente sobre as decisões que são tomadas, dependendo de quem sejam os réus.

Não que seja o caso específico de Delcídio, afinal de contas a sua prisão foi autorizada por unanimidade sob fortes indícios de tentativa de atrapalhar as investigações. Mas seja como for, é assombroso o fato de uma ministra do STF utilizar-se do seu voto para expressar a sua opinião particular sobre assuntos que em nada remetiam ao caso.

Completamente dissonante com o que estava em pauta, Carmen Lúcia emendou que “houve um momento em que a maioria de nós brasileiros acreditou no mote de que a esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a ação penal 470 e descobrimos que o cinismo venceu a esperança. E agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo”.

Por um momento a ministra esqueceu inteiramente o que estava fazendo ali e poderia ser confundida facilmente com qualquer um de nossa vasta diversidade de políticos hipócritas e demagogos em plena campanha eleitoral. Por um momento a ministra desconheceu que estava julgando indivíduos e passou a discursar em prol de um modelo político de sua preferência, que a rigor, não interessa a mais ninguém que não seja ela própria.

Esse tipo de atitude que envergonha e diminui o Supremo Tribunal Federal e por representação, toda a justiça, faz parte de uma mazela judicial que em boa medida é causada pelos sempre solícitos holofotes da grande mídia nacional que não cansam de agraciar a todos aqueles que utilizem os seus cargos de destaque para politizar os eventos ao seu alcance. Gilmar Mendes que o diga.

Não é por acaso que esse único trecho de tudo que foi dito ali por todos os ministros, foi exatamente o de maior repercussão nos grandes veículos da imprensa. Até mesmo as justificativas jurídicas utilizadas para autorizar pela primeira vez na história a prisão de um senador no pleno exercício de seu mandato foi posto em segundo plano. Como tudo que oscila em torno da operação Lava Jato, o fator político foi colocado acima dos fatores jurídicos.

Curioso notar que Carmen Lúcia dá prosseguimento e sustentação ao estilo deplorável que tanto notabilizou o ex-ministro Joaquim Barbosa. A primeira, a exemplo do segundo, parece querer fazer do Supremo Tribunal Federal uma casa de justiciamento onde tudo é válido para que se imponha uma moral no mínimo duvidosa.

As semelhanças entre os dois não param por aí, a despeito de suas inquestionavelmente brilhantes carreiras jurídicas, a chegada de ambos ao apogeu do direito só foi possível graças ao sentimento democrático do ex-presidente Lula ao querer diversificar o então racista e machista quadro de ministros do STF.

Se Joaquim Barbosa foi o primeiro negro a ocupar a presidência do STF, Carmen Lúcia passou a ser em 2006, a segunda mulher na história a fazer parte do seleto grupo de juízes que tem por obrigação efetuar a guarda da Constituição Brasileira. Tanto um quanto outro, nomeados por Lula.

Joaquim Barbosa, inebriado por sua arrogância, saiu do STF como o mais incapaz de conduzir uma instituição democrática pela opinião de seus pares. Talvez seja o momento da ministra Carmen Lúcia refletir sobre seus atos para que mais essa coincidência não lhe seja imputada.

Sobre o Autor
Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina


Diário do Centro do Mundo

PROPINA DE R$ 45 MILHÕES DO BTG A CUNHA É ALVO DA PGR


Documento apreendido pela Procuradoria Geral da República (PGR) dá conta de que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, recebeu R$ 45 milhões do Banco BTG Pactual, de André Esteves, em troca da aprovação de uma emenda provisória para beneficiar o banco em 2013; a anotação foi encontrada por agentes da Polícia Federal na casa de Diogo Ferreira, chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral, e preso com ele na quarta-feira em decorrência da Operação Lava Jato; "Em troca de uma emenda à medida provisória nº 608, o BTG Pactual pagou ao deputado federal Eduardo Cunha a quantia de 45 milhões de reais", diz o documento; Cunha diz que "é um absurdo" o papel ligando seu nome ao recebimento de dinheiro por parte do BTG 

29 DE NOVEMBRO DE 2015 ÀS 21:52


247 - Documento apreendido pela Procuradoria Geral da República (PGR) dá conta de que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recebeu R$ 45 milhões do Banco BTG Pactual em troca da aprovação de uma emenda provisória para beneficiar o banco.

A anotação foi encontrada por agentes da Polícia Federal na casa de Diogo Ferreira, chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), e preso com ele na quarta-feira (25) em decorrência da Operação Lava Jato.

Segundo os investigadores, o documento faz parte de um conjunto de papéis que possivelmente constituía um roteiro de ação de Delcídio junto a ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo (STF) para tentar soltar o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que também está preso pela Lava Jato.

No verso, conforme publicação da Folha de São Paulo, há um escrito com referência ao BTG. A PGR, contudo, não diz se é uma anotação manuscrita.

"Em troca de uma emenda à medida provisória nº 608, o BTG Pactual, proprietário da massa falida do banco Bamerindus, o qual estava interessado em utilizar os créditos fiscais de tal massa, pagou ao deputado federal Eduardo Cunha a quantia de 45 milhões de reais", diz o documento.

A anotação diz ainda que também participou da operação o executivo do BTG Pactual Carlos Fonseca e uma outra pessoa, chamada Milton Lira.

"Esse valor também possuía como destinatário outros parlamentares do PMDB. Depois que tudo deu certo, Milton Lira fez um jantar pra festejar", diz o texto, que diz que Cunha e Esteves participaram desse encontro.

Aprovada no Congresso em 2013 (Cunha ainda não era presidente da Casa), a MP trata de operações bancárias, e um artigo dela pode ter beneficiado diretamente o BTG Pactual.

O BTG comprou o antigo banco Bamerindus em janeiro de 2013 por R$ 418 milhões. O maior ativo do banco que sofreu intervenção em 1997 e estava em liquidação extrajudicial eram seus créditos tributários, cerca de R$ 1,5 bilhão, o que permitiu ao BTG reduzir os impostos a pagar.

Cunha nega as acusações: "absurdo"

Eduardo Cunha diz que é "um absurdo" o papel ligando seu nome ao recebimento de dinheiro por parte do BTG Pactual para alterar a medida provisória de interesse do banco. "Parece armação", disse o peemedebista à Folha de São Paulo.

Cunha afirmou também que não conhece o chefe de gabinete de Delcídio do Amaral, Diogo Ferreira, em cuja casa foi apreendido o papel. O peemedebista afirma que ele, Ferreira, é quem deve explicações sobre o escrito.

Seu advogado no caso Lava Jato, Antônio Fernando de Souza, disse no começo da noite de domingo que só poderia avaliar o documento caso ele esteja oficialmente em algum processo referente a Cunha.


Brasil 24/7

Moro não engana os ingleses

Aqui é o Eliot Ness da Veja !


publicado 29/11/2015


Colaboração desinteressada de amigo navegante:
Jornal britânico The Sunday Times questiona comportamento de juiz da Lava Jato

The Sunday Times, em artigo assinado pelo editor-executivo Ian Dey sobre o trabalho do Juiz Moro, compara o magistrado brasileiro ao agente do Tesouro dos EUA, Elliot Ness, que levou Al Capone à Justiça e cuja história deu origem ao filme “Os Intocáveis”.

Diz o título:

"Eliot Ness brasileiro está fora de controle"

Segundo o texto, na própria Inglaterra há críticas à postura de “intocável” do juiz Sérgio Moro, que vem sendo acusado por entidades internacionais de “desrespeitar a Constituição Federal brasileira e também tratados de defesa dos direitos humanos em seus mandados de prisão”.

Em alguns casos, acrescenta Dey, há dúvidas se o princípio da inocência está sendo respeitado.

Para o Times, a atitude de Moro levanta suspeitas de que ele estaria se preparando para uma candidatura à Presidência da República nas próximas eleições, “especialmente em um momento de forte pressão pela saída de Dilma Rousseff”.

Menciona, ainda, que o CEO do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, está preso desde junho sem julgamento porque não assinou acordo de delação premiada.

Esses acordos, inclusive, também são alvo de questionamento por especialistas, conclui o texto.




Conversa Afiada

“Baiano segurou para Eduardo”; “Cerveró entregou o dinheiro à Suíça”. Isso não vem ao caso, Dr. Moro?




POR FERNANDO BRITO · 29/11/2015



Enquanto se preocupam em fazer perguntas sem nenhuma relevância prática a Delcídio Amaral- como sobre a consulta feita a ele, como Senador e ex-diretor da Petrobras, pela então Ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, a respeito das qualificações de Nestor Cerveró, seu ex-subordinado na empresa – os investigadores da Lava-Jato deixam, como revelaram as gravações-bomba feitas pelos “ex-ladrões”, agora premiados delatores.

É o que mostra, hoje, o acurado exame feito por Janio de Freitas, na Folha de hoje, a respeito das palavras de Delcídio sobre as delações que vazaram – apesar de serem apenas do conhecimento dos membros do Ministério Público e do Juiz Sérgio Moro – e chegaram até ele, e certamente também a outros “vazadouros” de delações.

Leia o trecho de sua coluna, onde este blog faz grifos:

“(…) Delcídio suscitou também temas e expectativas que tocam a preocupação ou a curiosidade de grande parte da população. Sabe-se, por exemplo, que Fernando Soares, o Baiano, ao fim de um ano depositado em uma prisão da Lava Jato, cedeu à delação premiada. O mais esperado, desde de sua prisão, era o que diria sobre Eduardo Cunha e negócios com ele, havendo já informações sobre a divisão, entre os dois, de milhões de dólares provenientes de negócios impostos à Petrobras.

Informado dos depoimentos de Baiano, eis um dos comentários que o senador faz a respeito: ele “segurou para o Eduardo”. Há menções feitas por Baiano que não foram levadas adiante pela escassa curiosidade dos interrogadores. Caso, por exemplo, de um outro intermediário de negociatas citado por Baiano só como Jorge, sem que fossem cobradas mais informações sobre o personagem e seus feitos. Mas saber tudo o que há de verdade ou de fantasia em torno do presidente da Câmara é, neste momento, uma necessidade institucional e um direito de todo cidadão.

Se Fernando Baiano “segurou para Eduardo Cunha”, a delação e os respectivos prêmios -a liberdade e a preservação de bens- não coincidem com o que interessa às instituições democráticas e à opinião pública. E não se entende que seja assim.

Entre outras delações castigadas de Delcídio, um caso esquisito. Investigadores suíços confirmaram, lá por seu lado, que Nestor Cerveró tinha dinheiro na Suíça. Procedente de suborno feito pela francesa Alstom, na compra de turbinas quando ele trabalhava com Delcídio, então diretor Gás e Energia da Petrobras em 1999-2001, governo Fernando Henrique. A delação do multipremiado Paulo Roberto Costa incluiu o relato desse suborno. Mas a Lava Jato não se dedicou a investigá-lo e o procurador-geral da República o arquivou, há oito meses. Os promotores suíços foram em frente.

Na reunião da fuga, Delcídio soube com surpresa, por Bernardo, que Cerveró entregara o dinheiro do suborno ao governo suíço, em troca de não ser processado lá. É claro que a Lava Jato e o procurador-geral da República estiveram informados da transação. E contribuíram pela passividade. Mas o dinheiro era brasileiro. Era da Petrobras. Foi dela que saiu sob a forma de sobrepreço ou de gasto forçado. Não podia ser doado, fazer parte de acordo algum. Tinha que ser repatriado e devolvido ao cofre legítimo.

A Procuradoria Geral da República deve o esclarecimento à opinião pública, se fez repatriar o dinheiro do suborno ou por que não o fez. 

Os questionamentos de Janio, numa investigação correta e num tribunal sob isenção, se não esclarecidos, invalidariam qualquer delação, pois é princípio básico que elas devem ser totais e não parciais, só do que interessa a investigados e investigadores.

Mas, na Lava Jato,”a verdade, toda a verdade, nada mais que a verdade” não parece vir ao caso.


Tijolaço

Delcídio para nós, por Jânio Freitas

DOM, 29/11/2015 - 10:50

"Investigadores suíços confirmaram, lá por seu lado, que Nestor Cerveró tinha dinheiro na Suíça. Procedente de suborno feito pela francesa Alstom, na compra de turbinas quando ele trabalhava com Delcídio, então diretor Gás e Energia da Petrobras em 1999-2001, governo Fernando Henrique"


Folha de S.Paulo


As dúvidas sobre a propriedade da prisão de Delcídio do Amaral, decretada por cinco ministros do Supremo Tribunal Federal, vão perdurar por muito tempo. Assim como a convicção, bastante difundida, de que a decisão se impôs menos por fundamento jurídico e equilíbrio do que por indignação e ressentimento com a crença exposta pelo senador, citando nomes, na flexibilidade decisória de alguns ministros daquele tribunal, se bem conversados por políticos.

Às dúvidas suscitadas desde os primeiros momentos, estando o ato do parlamentar fora dos casos de prisão permitida pela Constituição, continuam tendo acréscimos. O mais recente: Delcídio planejou a obstrução judicial que fundamentou a prisão, mas não a consumou. E entre a pretensão ou tentativa do crime e o crime consumado, a Justiça reconhece a diferença, com diferente tratamento.

A sonhadora reunião de Delcídio até apressou a delação premiada de Nestor Cerveró, buscada sem êxito pela Lava Jato há mais de ano. Ali ficou evidente que seu advogado Edgar Ribeiro estava contra a delação premiada. Isso decidiu o ex-diretor da Petrobras, temeroso, a encerrar aceitá-la, enfim.

Em contraposição às dúvidas sem solução, Delcídio suscitou também temas e expectativas que tocam a preocupação ou a curiosidade de grande parte da população. Sabe-se, por exemplo, que Fernando Soares, o Baiano, ao fim de um ano depositado em uma prisão da Lava Jato, cedeu à delação premiada. O mais esperado, desde de sua prisão, era o que diria sobre Eduardo Cunha e negócios com ele, havendo já informações sobre a divisão, entre os dois, de milhões de dólares provenientes de negócios impostos à Petrobras.

Informado dos depoimentos de Baiano, eis um dos comentários que o senador faz a respeito: ele "segurou para o Eduardo". Há menções feitas por Baiano que não foram levadas adiante pela escassa curiosidade dos interrogadores. Caso, por exemplo, de um outro intermediário de negociatas citado por Baiano só como Jorge, sem que fossem cobradas mais informações sobre o personagem e seus feitos. Mas saber tudo o que há de verdade ou de fantasia em torno do presidente da Câmara é, neste momento, uma necessidade institucional e um direito de todo cidadão.

Se Fernando Baiano "segurou para Eduardo Cunha", a delação e os respectivos prêmios -a liberdade e a preservação de bens- não coincidem com o que interessa às instituições democráticas e à opinião pública. E não se entende que seja assim.

Entre outras delações castigadas de Delcídio, um caso esquisito. Investigadores suíços confirmaram, lá por seu lado, que Nestor Cerveró tinha dinheiro na Suíça. Procedente de suborno feito pela francesa Alstom, na compra de turbinas quando ele trabalhava com Delcídio, então diretor Gás e Energia da Petrobras em 1999-2001, governo Fernando Henrique. A delação do multipremiado Paulo Roberto Costa incluiu o relato desse suborno. Mas a Lava Jato não se dedicou a investigá-lo e o procurador-geral da República o arquivou, há oito meses. Os promotores suíços foram em frente.

Na reunião da fuga, Delcídio soube com surpresa, por Bernardo, que Cerveró entregara o dinheiro do suborno ao governo suíço, em troca de não ser processado lá. É claro que a Lava Jato e o procurador-geral da República estiveram informados da transação. E contribuíram pela passividade. Mas o dinheiro era brasileiro. Era da Petrobras. Foi dela que saiu sob a forma de sobrepreço ou de gasto forçado. Não podia ser doado, fazer parte de acordo algum. Tinha que ser repatriado e devolvido ao cofre legítimo.

A Procuradoria Geral da República deve o esclarecimento à opinião pública, se fez repatriar o dinheiro do suborno ou por que não o fez. E, em qualquer caso, por que não investigou para valer esse caso. Foi ato criminoso e os envolvidos estão impunes. Com a suspeita de que o próprio Delcídio seja um deles, como já dito à Lava Jato sem consequência até hoje.

Mas não tenhamos esperanças. Estamos no Brasil e, pior, porque a ministra Cármen Lúcia, no seu discurso de magistrada ferida, terminou com este brado cívico: "Criminosos não passarão!" [toc-toc-toc, esconjuro] Foi o brado eterno de La Passionaria em Madri, que não tardou a ser pisoteada pelos fascistas de Franco. De lá para cá, em matéria de ziquizira, só se lhe compara aquele [ai, valei-me, Senhor] "o povo unido jamais será vencido", campeão universal de derrotas.


Folha de S.Paulo   -   Jornal GGN

Eles só roubaram no Governo Lula




Conversa Afiada

O porrete e o vira-lata




28 de Novembro de 2015

Por Mauro Santayana


No momento em que se levantam, novamente, as vozes do neoliberalismo tupiniquim, exigindo uma rápida abertura comercial do Brasil para o exterior, e o PMDB inclui, em seu documento Uma Ponte para o Futuro, a necessidade do Brasil estabelecer acordos comerciais com a Europa e os EUA, lembrando a iminência e a imposição “histórica” do Acordo Transpacífico, e em que mídia tradicional segue com sua insistência em defender como modelo a ridícula Aliança do Pacífico, a União Européia - depois de enrolar, durante anos, nas negociações com o MERCOSUL - parece que vai simplesmente “congelar” as negociações entre os dois blocos nesta sexta-feira.

A razão é clara.

Por mais que se esforcem os vira-latas tupiniquins, fazendo tudo que os gringos querem, oferecendo quase 90% de liberação de produtos, os protecionistas europeus simplesmente se recusam a concorrer com o Mercosul na área agrícola - justamente onde somos mais competitivos.

E, além disso, como se não bastasse, a UE como um todo, para dificultar, hipocritamente, ainda mais o fechamento de um acordo, exige o equivalente a uma rendição total da nossa parte:

A liberação de quase 100% dos produtos e livre acesso, para suas empresas, como se nacionais fossem, a setores como serviços de engenharia e advocacia e ao gigantesco mercado de compras governamentais brasileiro, de dezenas de bilhões de dólares.

O recado é óbvio:

Não adianta ficar ganindo e mendigando com olhar pidão, para ter atenção ou uma migalha, porque não vamos ceder um centímetro, e, mesmo que vocês façam tudo, tudo o que queremos, poderão não ganhar nada em troca, está claro?

Como lembramos outro dia, grandes potências impõem acordos comerciais, e os pequenos países os assinam.

Nações que não tem uma indústria tão desenvolvida como a nossa, como a Argentina, ou outras, que, com salários miseráveis, se transformaram em mera linha de maquila, tendo prejuízos no comércio exterior, apesar de trabalharem como burros de carga montando produtos destinados a terceiros mercados, como o México (vide O México e a América do Sul), não tem outra saída a não ser se associar a outros países (esse é o projeto do Brasil para a América do Sul, por meio do Mercosul e da UNASUL) ou assinar acordos comerciais desvantajosos, para se integrar, subalternamente, à economia mundial.

Países maiores, com grandes mercados consumidores reais ou potenciais, como a China, preferem fechar suas economias durante anos, dedicando-se a desenvolver seu mercado interno, a indústria e a tecnologia, abrindo seletivamente seu território a empresas estrangeiras e cobrando um alto preço para quem quisesse ter acesso a ele, para depois se impor, comercialmente, ao mundo.

A pergunta é a seguinte:

Vamos nos atrelar, como um mero vagão de commodities, ao trem puxado pela Europa e os Estados Unidos, onde sempre seremos tratados, apesar de nossos eventuais progressos, como um povo de segunda classe, ou, em nossa condição de oitava economia do planeta, vamos tentar estabelecer um projeto próprio e soberano, de longo prazo, como fazem outras potências intermediárias do nosso tipo, como a China, a Rússia e a Índia, que, aliás, não têm - nenhuma delas - acordos de livre comércio com a Europa ou os EUA?

Tentar emular, abjetamente os outros, e lamber o sapato alheio é fácil.

Difícil é trabalhar para erguer – assumindo a missão e o sacrifício – no quinto maior território do mundo - uma nação justa, forte, e independente, e legá-la, como fizeram em outros países que muitos no Brasil admiram e “copiam”, como um estandarte de honra e de prosperidade, para os nossos filhos.


Jornal do Brasil