POR FERNANDO BRITO · 22/11/2015
Publiquei ontem aqui o depoimento do jornalista Luiz Augusto Erthal sobre a generosa aventura de Darcy Ribeiro e Leonel Brizola com seu projeto de educação integral e a oposição que, desde o primeiro momento, os Cieps enfrentaram de Roberto Marinho e seu império Globo.
Mas se o “cogumelo global”, como dizia Brizola, atacava pelo bombardeio, seus agentes no Governo do Estado, encarregados de dar fim – ou quase fim, porque muitos sobrevivem, sem o projeto original mas com o esforço e a dedicação de professores e diretores – têm nome e sobrenome e estão apontados no jornal que meu colega e amigo publica, o Toda Palavra, que vai ouvir Lia Faria, uma das integrantes da equipe de Darcy:
Lia Faria, que ocupou os cargos de coordenadora-geral de treinamento de pessoal na primeira fase do programa (1985-1987) e de coordenadora pedagógica na segunda fase (1991-1995), afirma que, além do prejuízo para os alunos, a descontinuidade do projeto também deixou de formar pelo menos 50 mil profissionais nesses trinta anos.
“Eu mesma capacitei pessoalmente nove mil professores”, afirma. Para ela, a capacitação de profissionais de três áreas (educação,saúde e cultura), com formação em exercício e a visão multidisciplinar
Segundo Lia Faria, os responsáveis pelo desmonte do programa “têm nome e sobrenome”: Moreira Franco e Marcello Alencar.
“Ao assumir o governo em 1987, o Moreira acabou com a base do programa, que era o turno único. Mas nós reconstruímos depois com a volta do Brizola, em 1991. Mas pior ainda fez o Marcello ao chegar ao governo,
em 1995, porque desmantelou a própria máquina educacional do estado, achatando os salários para estimular os professores a abandonar a carreira através de um programa de demissões voluntárias”.
Em entrevista ao Estado de S.Paulo, em 1996, Alencar, que morreu em 2014, disse não ter dado continuidade ao projeto dos Cieps por considerá-lo caro. Até o fechamento desta edição, Moreira Franco não havia respondido à solicitação
Duas informações sobre este abandono, presentes no jornal.
A primeira, a de que o rapaz do famoso sequestro do ônibus 174, Sandro Nascimento, frequentou um que se perdeu pelo abandono.
A segunda, que cada aluno de Ciep, em horário integral, custava US$ 44,53 (R$ 169), sendo US$ 13,94 de alimentação, US$ 4,24 com uniformes e US$ 4,16 com saúde e esportes. No Rio, cada detento do sistema prisional custa ao estado US$ 581,99 por mês, R$ 2.221,60. Treze alunos de Ciep, com aulas, alimentação, assistência médica e lazer.
Não há nada mais caro do que destruir a esperança.
Tijolaço
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