Postado em 19 nov 2015
por : Paulo Nogueira
A risadinha de Dávila foi a mesma, mas o resto não
A risadinha é a mesma, mas o resto não. E isto me leva, de cara, a perguntar: teria sido Ali Kamel o autor das perguntas que Roberto Dávila fez a Lula na entrevista desta quarta na Globo News?
Foi Mariana Godoy, ex-Globo, quem disse que todas as entrevistas de apresentadores eram feitas, nos bastidores, por Kamel, o que a rigor não o levará ao panteão dos grandes formuladores de perguntas da imprensa brasileira.
Mas veja a diferença.
Começos de entrevistas são uma espécie de aquecimento para as questões mais duras e mais complexas.
Na entrevista que fez há poucas semanas com FHC, Dávila começou com o livro recém-lançado por ele. Fez propaganda ao vivo, segurando-o, e não se constrangeu em dizer que era bom mesmo sem ter lido. “Andei lendo”, disse Dávila, o que em português claro quer dizer: folheei aqui e ali.
Depois, Dávila fez “provocações” – a palavra é dele – a FHC. Uma delas: tendo feito tudo que alguém poderia fazer na vida e na política, ele não se dignaria a sentar com Lula para discutirem saídas para a crise?
Este é o Dávila versão FHC e todo o resto.
O Dávila versão Lula é outro, fora, repito, a risadinha.
O aquecimento foi o panelaço que Dávila disse que alguém lhe disse que iria promover durante a entrevista que acabara de se iniciar.
Para FHC e a humanidade em geral, Dávila oferece afagos no princípio da conversa (durante e depois também). Para Lula, a agressividade sorridente começa já na primeira frase.
Isto posto, pergunto: o que leva Lula a aceitar dar uma entrevista para a Globo News, mesmo se tratando do popular Risadinha?
A resposta é dada pelo próprio Lula no decorrer da conversa. Lula tem um nível de confiança em sua capacidade de debater que o leva a crer que mesmo em situações hostis ele vai acabar se saindo bem.
Foi, aliás, o que aconteceu.
Roberto Dávila não foi páreo para ele. Não houve questionamento para o qual Lula não tivesse resposta imediata e firme.
É verdade que a qualidade dos ataques de Dávila foi baixa. Ele perguntou a Lula quantas vezes ele se arrependera de ter indicado Dilminha.
Até eu me sairia bem desta. Lula jamais poderia rejeitar publicamente – e até privadamente — Dilma até porque ela foi uma escolha pessoal dele. Críticas a ela são, indiretamente, críticas a ele.
Isso não impede que a imprensa viva inventando grandes crises de relacionamento entre os dois, invariavelmente desmentidas pelos fatos e pelas fotos que revelam a amizade, o carinho e o respeito de um pelo outro.
Lula é um pesadelo para a plutocracia porque, como mais uma vez ficou claro na entrevista de outro, ele é um debatedor sem igual na cena política nacional, goste-se ou não dele.
Caso ele realmente se candidate em 2018, quem conseguirá enfrentá-lo diante das câmaras? Aécio, Serra, Alckmin? Bonner?
É isto que realmente assusta os conservadores. Ao comentar na própria Globo News a entrevista, Merval fingiu um ar de superioridade ao falar de Lula. “Ele vive no planeta dele”, disse.
O problema é que o Planeta Lula tem muito mais votos que o planeta do qual Merval é um dos porta-vozes, o Planeta dos Plutocratas.
Quanto ao panelaço de que falou Dávila, bem, parece que as panelas tiveram uma noite de absoluto repouso na noite de ontem nas cidades brasileiras.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Diário do Centro do Mundo
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