POR FERNANDO BRITO · 29/11/2015
Enquanto se preocupam em fazer perguntas sem nenhuma relevância prática a Delcídio Amaral- como sobre a consulta feita a ele, como Senador e ex-diretor da Petrobras, pela então Ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, a respeito das qualificações de Nestor Cerveró, seu ex-subordinado na empresa – os investigadores da Lava-Jato deixam, como revelaram as gravações-bomba feitas pelos “ex-ladrões”, agora premiados delatores.
É o que mostra, hoje, o acurado exame feito por Janio de Freitas, na Folha de hoje, a respeito das palavras de Delcídio sobre as delações que vazaram – apesar de serem apenas do conhecimento dos membros do Ministério Público e do Juiz Sérgio Moro – e chegaram até ele, e certamente também a outros “vazadouros” de delações.
Leia o trecho de sua coluna, onde este blog faz grifos:
“(…) Delcídio suscitou também temas e expectativas que tocam a preocupação ou a curiosidade de grande parte da população. Sabe-se, por exemplo, que Fernando Soares, o Baiano, ao fim de um ano depositado em uma prisão da Lava Jato, cedeu à delação premiada. O mais esperado, desde de sua prisão, era o que diria sobre Eduardo Cunha e negócios com ele, havendo já informações sobre a divisão, entre os dois, de milhões de dólares provenientes de negócios impostos à Petrobras.
Informado dos depoimentos de Baiano, eis um dos comentários que o senador faz a respeito: ele “segurou para o Eduardo”. Há menções feitas por Baiano que não foram levadas adiante pela escassa curiosidade dos interrogadores. Caso, por exemplo, de um outro intermediário de negociatas citado por Baiano só como Jorge, sem que fossem cobradas mais informações sobre o personagem e seus feitos. Mas saber tudo o que há de verdade ou de fantasia em torno do presidente da Câmara é, neste momento, uma necessidade institucional e um direito de todo cidadão.
Se Fernando Baiano “segurou para Eduardo Cunha”, a delação e os respectivos prêmios -a liberdade e a preservação de bens- não coincidem com o que interessa às instituições democráticas e à opinião pública. E não se entende que seja assim.
Entre outras delações castigadas de Delcídio, um caso esquisito. Investigadores suíços confirmaram, lá por seu lado, que Nestor Cerveró tinha dinheiro na Suíça. Procedente de suborno feito pela francesa Alstom, na compra de turbinas quando ele trabalhava com Delcídio, então diretor Gás e Energia da Petrobras em 1999-2001, governo Fernando Henrique. A delação do multipremiado Paulo Roberto Costa incluiu o relato desse suborno. Mas a Lava Jato não se dedicou a investigá-lo e o procurador-geral da República o arquivou, há oito meses. Os promotores suíços foram em frente.
Na reunião da fuga, Delcídio soube com surpresa, por Bernardo, que Cerveró entregara o dinheiro do suborno ao governo suíço, em troca de não ser processado lá. É claro que a Lava Jato e o procurador-geral da República estiveram informados da transação. E contribuíram pela passividade. Mas o dinheiro era brasileiro. Era da Petrobras. Foi dela que saiu sob a forma de sobrepreço ou de gasto forçado. Não podia ser doado, fazer parte de acordo algum. Tinha que ser repatriado e devolvido ao cofre legítimo.
A Procuradoria Geral da República deve o esclarecimento à opinião pública, se fez repatriar o dinheiro do suborno ou por que não o fez.
Os questionamentos de Janio, numa investigação correta e num tribunal sob isenção, se não esclarecidos, invalidariam qualquer delação, pois é princípio básico que elas devem ser totais e não parciais, só do que interessa a investigados e investigadores.
Mas, na Lava Jato,”a verdade, toda a verdade, nada mais que a verdade” não parece vir ao caso.
Tijolaço
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