POR FERNANDO BRITO · 19/11/2015
Não me surpreendi com a tentativa de O Globo de tentar jogar no colo do Governo as manobras de Eduardo Cunha para protelar o andamento de seu processo no Conselho de Ética da Câmara.
Não, porque assisti a sessão da Câmara onde Cunha fez inviabilizar a reunião do Conselho de Ética apelando, essencialmente, para a necessidade do Governo de aprovar a Medida Provisória 691, que autoriza a União a vender imóveis, que foi aprovada em Comissão Mista e, depois da Câmara, ainda tem de ir ao Senado, antes do recesso, sob pena de caducar.
O plenário estava cheio e não havia, em condições normais, condições de derrubar a sessão e muito menos de impedir a aprovação da MP, uma vez que houve acordo para que os Estado recebessem parte dos valores pagos a imoveis foreiros, o que esta incluído no relatório do deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES).
A única maneira de prosseguir a reunião da Comissão de Ética era cair o quorum ou ser encerrada a sessão, o que Cunha não fez e anunciou que não iria fazer. PSDB e DEM, até semana passada aliados ferrenhos de Cunha estavam histéricos “em nome da moralidade” que não lhes importava enquanto havia a possibilidade de servirem-se do Presidente da Câmara para acolher o pedido de impeachment de Dilma. Parecia até que eram do PSTU, com o meu pedido de desculpas ao amigo Zé Maria pela ironia.
O que se passou foi repugnante. Indignação sincera, moralidade fingida e a verdade reduzida a gaguejos envergonhados.
Cunha, impassível, exercia o poder de mando que lhe resta, mas já não controlava o plenário, privado de sua “base” demo-tucana, nem mesmo uma “tropa de choque” tem. Restam-lhe poucos, embora dispostos a muito. Ele, que já mandou em tudo, já não tem condições de comandar o plenário – a foto é um dos muitos momentos em que nem sequer olhavam para ele – mas tem condições de paralisar o Legislativo.
Ajudaram na saída dos deputados do plenário e pediram verificação de quorum para tentar derrubar a sessão. A coisa estava tão evidente que até o deputado Miro Teixeira (Rede) propôs um acordo para aprovarem o texto principal da MP e deixarem os destaques para a semana que vem, o que o Governo aceitou de imediato. A oposição trancou o pé, só queria o fim da sessão e a não votação da MP.
Para que vocês tenham um ideia, até o incontível deputado Sílvio Cunha, que mais de uma vez já peitou Eduardo Cunha como nenhum outro fez, chamou os deputados da base para garantirem o número.
Cunha conduziu a sessão com mão de ferro mas, no final, quando já tinha sido encerrada a reunião da Comissão de Ética apareceu manso como um gatinho, “anulando a anulação” da primeira parte de sua reunião, que tinha sido feita pelo deputado Bornier (PMDB-RJ), a seu mando, ainda durante a manhã.
Aquela casa, que eu conheço bem, não é para amadores. Jaques Wagner jamais teria feito qualquer proposta para “salvar” Cunha, até porque essa é mercadoria que nem ele e nem ninguém pode entregar. E se tivesse prometido, ninguém ia acreditar.
Não adiante tentar colar Cunha no Governo, até porque todo mundo sabe que ele é, desde que terminaram as eleições, seu adversário e aliado de vocês-sabem-quem.
Ele se degradou, mas salvo fatos novos judiciais, com ou sem Conselho de Ética, sobrevive no cargo até o recesso.
Além daí, está morto.
O que o PSDB, o DEM e o PPS querem é que, até lá, as decisões legislativas parem, agora que já não tem a ceteza de que elas serão anti-governo.
Tijolaço
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