22 de Dezembro de 2015
Por Alex Solnik
O impeachment, que parecia ser uma solução, virou um problema.
O problema é o que fazer com ele.
O que prova, mais uma vez, a sua superficialidade e desnecessidade.
Impeachment! Impeachment! Bradavam as vozes da vingança no púlpito em direção a Cunha principalmente a partir da metade deste ano. E Cunha, impávido colosso, fazendo a sua melhor cara de profeta do apocalipse cozinhava em banho-maria, postergava, adiava. Fazia questão de mostrar que o dono do timing do impeachment era ele e mais ninguém. Ou seja: não havia qualquer relevância no impeachment em si, senão ele seria urgente. Se o presidente está cometendo crimes é preciso brecá-lo!
Mas não havia crime. Como não há. O timing era ditado pela conveniência do próprio Cunha. Ou seja: ele estava usando o impeachment como escudo e lança ao mesmo tempo, transformando um instrumento previsto na constituição numa arma de defesa de si próprio e de destruição do adversário, ou seja, o governo.
Quando se sentiu mais acuado, deu o start no impeachment – uma decisão nada sutil – sem avisar aos russos. E sem os russos – no caso, os tucanos - não tem impeachment. Ele apertou o botão na hora errada (certa somente para ele). Os tucanos se tocaram que estavam apoiando uma aventura comandada por um pato manco, e que naquela hora não tinham rua nem votos para derrubar a presidente. Seriam derrotados na certa. E para que anexar mais uma derrota ao currículo?.
O que Cunha conseguiu foi instalar a cizânia dentro do governo, dentro do PMDB e do PSDB. Jogou Temer contra Dilma, Renan contra Temer, Temer contra Picciani, Aécio contra Serra. (E sobrou até para Katia Abreu...)
Está na cara porque os cariocas do PMDB não querem o impeachment. Se não fosse por outro bom motivo, 2016 é o ano da Olimpíada, pela primeira vez no Brasil, pela primeira vez no Rio. O prefeito do Rio não pode brigar com o governo federal num ano em que precisa de verbas federais para organizar “a melhor Olimpíada de todos os tempos”. Ele não vai dar um tiro no pé. E os cariocas também não são malucos de apoiar a instabilidade no país num ano tão decisivo. Somente o carioca Eduardo Cunha não tem esse feeling, ao que parece, pois continua com a borduna na mão.
O que fazer do impeachment? Como abortá-lo? Ele virou pó. Vale a pena perturbar o clima olímpico – que vai trazer divisas importantes num momento em que o país precisa aquecer a economia – e o ano eleitoral de 2016 num processo sem fundamento, sem rua e sem votos?
Cunha é um emérito blefador, mas não tem cacife para reunir 342 votos contra o governo se os tucanos não votarem com ele.
Se tudo o que é sólido desmancha no ar imagine-se algo insólito como esse impeachment. O problema é como abortá-lo. A palavra de ordem em Brasília é: quem pariu o impeachment que o embale.
Blog do Alex Solnik - Brasil 24/7
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